TODOS OS CAMINHOS NOS LEVAM AO FIM

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Téo mal me olha a mais de meia hora, o que me deixa irritada. Estávamos conversando tranquilamente: Eu o contava sobre a brilhante ideia que tive hoje no trabalho quando, de repente, ele se ergueu do sofá e simplesmente saiu, me deixando falando sozinha - como uma completa estúpida. Já devia estar acostumada, com tanto desprezo e maus tratos, mas não consigo. Não sou capaz. Nossa relação é um misto agonizante, que me deixa sempre chateada. Em todo esse um ano em que estivemos juntos, percebi (dolorosamente) que Téo me trata da maneira que quer e no tempo em que lhe convém. Não importa se estou feliz ou triste; se quero um abraço ou apenas sua companhia; se preciso de apoio ou de uma conversa. Nada importa para Téo. Suas vontades são sempre o foco. Podemos estar juntos, deitados no sofá, trocando beijos e carícias, e do nada Téo irá fechar a cara e se dispersar completamente, como se fosse transportado para outro mundo: um mundo onde tudo existe, menos eu e minhas necessidades.

Me levanto do sofá também, me sentindo humilhada e um tanto irritada. Já passa das cinco da tarde, e aos poucos o sol vai se pondo, e minha fome passa a aumentar. Mais cedo, disse à Téo que iríamos jantar fora, pois estava com muita vontade de comer sushi em nosso restaurante preferido, e ele não se opôs. Não me importo que ele não tenha sequer vontade de olhar em minha cara; Nós iremos sair. Não vou deixar que Téo atrapalhe minhas vontades. Seria deprimente demais, e bem distante de minhas limitações.

Vou até o quarto, para separar uma roupa para mim e também uma para Téo. Ao abrir a porta, ele está em pé, como se estivesse prestes a pressionar a maçaneta e sair do quarto, e ao me ver ali percebo seu tão familiar olhar - o olhar que diz "eu sinto muito, me perdoe, meu bem!". Sinto vontade de revirar os olhos, já cansada de suas atitudes tão previsíveis. Tão cínicas.

— Me desculpa, Lice. Me desculpa mesmo. Eu não queria ter te tratado mal, eu juro. Você pode me contar agora, me conta tudo que aconteceu no seu dia. Eu vou escutar agora. Só me perdoa, por favor. — em algum ponto de seu discurso de lamúrias ele agarrou minha mão, e agora a aperta suavemente, tentando aliviar minha raiva. — Eu não queria ter agido daquele jeito. Eu não... Não queria... Eu não consigo controlar... Essas reações, elas vem do nada, você sabe, e eu não consigo impedir. Eu... Não dá...

A esse ponto lágrimas superficiais inundam a borda de seus olhos. Algumas pouquíssimas ousam cair, escorrendo por todo o rosto de Téo. Parece falso demais.

Preciso de mais. Quero que ele se arrependa totalmente por ter me tratado tão mal. Quero que ele me trate bem, como deveria ter feito desde antes. É o mínimo a se esperar, depois de ter sido largada no meio de uma conversa sobre minhas felicidades.

Téo parece compreender que suas poucas lágrimas e seu discurso apelativo não irão ser suficientes, pois solta minhas mãos e vai em direção ao armário, escolhendo nossas melhores roupas e me pedindo para ficar ainda mais linda.

— Você merece ser tratada como uma rainha, e muitas vezes eu acabo esquecendo disso, então vou recompensar isso hoje. Vamos sair para o melhor restaurante da cidade, com direito a tudo que você merece.

Dou um meio sorriso, e saio do quarto logo em seguida, porque Téo ainda não fez o suficiente. Não quero um pedido de desculpas vazio e algumas promessas fáceis. Quero que ele perceba que suas ações só desgastam nosso relacionamento, que entenda que quanto mais me despreza, mais eu me machuco. Quero que ele me trate melhor. Quero ser a rainha de seu coração. E é preciso ter pulso firme para isso. É preciso que eu demonstre firmeza, para, no fim, receber seu total arrependimento. É só assim que nossa relação pode continuar bem.

Uma hora depois, estamos saindo de nosso prédio. Uso um vestido vermelho rodado, com pequenos detalhes de renda em sua saia, e um salto alto preto; Téo usa suas melhores roupas também, formando um complemento espetacular. Ele me estende a mão para que eu a segure, e hesito um pouco antes de enfim o fazer.

Todos os caminhos nos levam ao fimOnde histórias criam vida. Descubra agora