4. Estranho

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24:05:22

— Vish, é ele? — Liz espiou da cozinha com um sorriso leve no rosto, só a cabeça para fora, como se estivesse assistindo um filme de drama e romance.

Joui engoliu seco, com o nervosismo estampado em seu rosto. Ele apenas balançou a cabeça concordando, sem coragem de abrir a boca.

— Boa sorte então, filhão — provocou Liz, voltando para a cozinha com uma risadinha.

Joui suspirou profundamente, tentando se recompor. Ele tremia levemente ao pegar o bloco de notas e a caneta do bolso do avental. Com passos lentos, quase arrastados, ele se aproximou da mesa onde César estava sentado, claramente alheio, nem imaginando o caos que estava na cabeça de Joui.

— Bom dia, o que gostaria? — Joui perguntou, tentando soar o mais natural possível, mas evitando contato visual direto. De relance, percebeu que César estava com um leve sorriso de lado.

— Acho que hoje eu vou querer o tal café gelado — respondeu César virando seu rosto em direção a Joui, com um tom descontraído e um sorriso meio tímido, diferente do comportamento habitual de alguém que vinha resmungando diariamente.

Será que é por conta da live de ontem? E os comentários? Joui se pegou pensando, tentando ignorar o calor que subia até seu rosto.

— Mais alguma coisa? — perguntou, tentando se manter profissional.

— Eu quero dois.

Joui franziu as sobrancelhas, surpreso, mas manteve a compostura.

— Certo, só aguardar. — Ele se afastou, mas o pensamento o acompanhou. Dois? Será que ele está com muita fome ou... Não, não, era só isso que faltava.

Joui seguiu em direção à cozinha, tentando ignorar a ideia que insistia em surgir em sua cabeça. No fundo, ele sabia que poderia estar exagerando, mas o comportamento de César naquele dia estava estranho demais para passar despercebido.

Só pode ser o Arthur de novo... por favor, que seja só ele e mais ninguém, pensava, enquanto sentia o coração acelerar. Ao entrar na cozinha, deixou escapar um suspiro carregado.

— E aí? Ele pediu o quê? — Liz perguntou, distraída enquanto preparava algumas coisas na cozinha.

— Dois cafés gelados... — respondeu Joui, colocando o pedido na bancada.

Liz parou por um segundo, levantando o olhar em direção a Joui com uma sobrancelha arqueada.

— Dois? Tá com fome ou tá levando pra alguém?

— É exatamente isso que eu tô tentando não pensar... — Joui murmurou, balançando a cabeça. Liz riu baixo.

— Ah, vai ver é só o amigo dele ontem, aquele cara tá te deixando pensativo demais. Relaxa, Joui.

— É, tomara... — Joui respondeu, mas não parecia muito convencido.

Liz percebe a tensão de Joui e passa a mão em suas costas de maneira reconfortante antes de começar a preparar os cafés.

— Calma, filhão. Vai que as vezes nem é nada demais. — Ela sorri, mas Joui apenas acena com a cabeça enquanto volta para o balcão.

Ele tenta se distrair organizando alguns sachês de açúcar e os guardanapos no balcão, mas seus olhos inevitavelmente se voltam para César, que não parava de olhar para a porta. Por que ele tá tão estranho hoje?, pensa, mas seus pensamentos são interrompidos quando alguém entra na cafeteria.

Um homem alto e imponente, de físico bem definido utilizando uma regata branca, cabelo curto e castanho, atravessa a porta. Ele parece ter entre 20 e 30 anos e carrega uma presença que faz Joui engolir seco. O estranho caminha em direção à mesa de César, que se levanta ao vê-lo. Os dois trocam um abraço, e César diz algo no ouvido dele, mas a distância e o barulho da cafeteria impedem Joui de ouvir. Ele sente seu coração acelerar e uma pontada no peito. 

— O café tá pronto! — Liz sai da cozinha sorridente, equilibrando a bandeja com os dois cafés gelados. — Me esforcei de novo, pra você ganhar uns pontinhos extras com ele. — Ela pisca para Joui, sem perceber a expressão abatida no rosto do garoto.

Joui pega a bandeja com um suspiro profundo, evitando olhar para Liz.

— Respira, Joui... Daqui a uma semana você vai esquecer ele. É só mais uma paixão besta. — Ele murmura para si mesmo, tentando se convencer enquanto caminha lentamente em direção à mesa.

Joui se aproximou da mesa, sentindo o coração apertar. Eles conversavam de uma maneira tão íntima que fazia parecer que eram realmente um casal. Embora Joui não confiasse no homem ao lado de César, a proximidade entre os dois era algo realmente difícil de ignorar.

— Desculpa atrapalhar a conversa, aqui estão os cafés. — Ele disse, um pouco tímido, enquanto colocava os copos na frente deles.

— Nossa, isso tá com uma cara boa. — César abriu um sorriso largo, mostrando os dentes pela primeira vez. Joui não pôde evitar achar aquele sorriso lindo. — Não acha, Bruno?

— Ah, é... Acho que sim. — Bruno respondeu com um pouco de indiferença, apenas concordando com César.

— Valeu, Jo-Joui, né? — César gaguejou, tentando se lembrar do nome dele.

— É, Isso aí. — Respondeu Joui, com um tom de voz um pouco desanimado.

— Acho que vou pedir mais desses. O Arthur tinha razão, é muito bom.

— Ah... Que bom que gostou. — Joui murmurou, sentindo um desejo crescente de sair dali o mais rápido possível. A presença de Bruno parecia sufocante e desconfortável. — Eu vou voltar para o balcão.

— Uhum. — César respondeu de forma distraída, entre goles no café gelado que já estava quase no fim.

Joui se afastou da mesa sentindo como se tivesse acabado de cometer o maior erro de sua vida. Ele não conseguiu ignorar a sensação incômoda de que Bruno o observava. Talvez fosse só coisa da sua cabeça, mas a forma como o rapaz ocasionalmente lançava olhares em sua direção fazia o desconforto crescer.

Cada vez que Joui atendia outros clientes no balcão, parecia sentir o peso do olhar de Bruno em suas costas. O simples ato de trabalhar naquele momento se transformava em um tipo de tortura silenciosa.

No final do expediente, Joui ajudava Liz a fechar a loja, limpando as mesas, ajustando algumas coisas na cafeteria, enquanto desabafava sobre o dia.

— Vou desistir dele, Liz. — Ele declarou, enquanto passava o pano na última mesa da cafeteria e colocava as cadeiras em cima.

— Nossa, mas esse foi rápido, hein? Durou o quê? Dois dias? — Liz respondeu em um tom sarcástico, levantando uma sobrancelha.

— Três. — Joui corrigiu com um suspiro. — E outra, ele e aquele cara lá, o Bruno, estavam todos românticos hoje.

— Ele nem era tão bonito assim. — Liz disse, tentando animá-lo. 

— Nem você acredita nisso, Liz-Senpai. — Joui retrucou com um sorriso cansado, arrancando uma risada breve dela.

Os dois finalizaram o trabalho e saíram da cafeteria. Liz e Joui caminharam até o ponto de ônibus, conversando um pouco sobre o dia, até que chegaram ao local onde Liz pegaria o seu ônibus. Os dois se despedem e Joui, então, seguiu seu caminho a pé, como de costume, ouvindo o som de seus próprios passos enquanto refletia sobre tudo o que havia acontecido naquele dia.

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é isso amanhã eu tento postar mais um, não se esqueça de votar <33

coffee's boy • joesarOnde histórias criam vida. Descubra agora