16| Não Diga Que Não Avisei

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— Convença Christopher a desistir desse lixo de programa — arregalo os olhos quando o homem diz autoritário, finalmente mostrando o seu eu verdadeiro. 

— O que? — rio incrédula. 

— Não me faça repetir, garota. 

— Você deve estar maluco se acha que vou fazer isso — digo firme, mas a rapidez com que meu coração batia revelava o quão assustada eu estava. 

— Você vai fazer meu filho a sair daquele programa e esquecer essa ideia ridícula de cantar — impôs, soltando os talheres com força no prato. 

— Ou o quê? — reúno o pouco de coragem que ainda me restava e o desafio. 

— Ou eu mesmo vou fazer. E garanto que não será de um jeito agradável. 

— Você devia pedir pra um dos seus amigos neurocirurgiões te examinar. Seu cérebro é podre — disparo as palavras e levanto com força da cadeira. 

As pessoas ao redor nos olhavam, mas eu não me importava nem um pouco. Queria que todos soubessem o quão nojentos aqueles dois eram. 

Lanço a eles um último olhar fumegante e saio dali, ouvindo o homem esbravejar que eu me arrependeria daquilo. Quem tem que se arrepender de algo é ele, que inferniza a vida dos filhos e ainda acha que está na razão. 

[...] 

Bato na porta do quarto de Chan e sou atendida mais rápido do que esperava. Isso é realmente surpreendente. 

— Chan, eu- paro de falar vendo o garoto fechar a porta e o olho confusa. 

— Eu já tava indo te chamar, Maya, estamos atrasados pra reunião do Time! — droga, eu me esqueci da reunião de novo. 

— Chan, eu vim te contar uma coi- 

— Claro, claro. Você pode me contar no caminho — diz apressado, me puxando para sairmos dali. 

Abro minha boca algumas vezes mas a fecho sem conseguir dizer nada. Ele ignorou mesmo o fato de eu ter algo importante para contar só por causa da reunião com o Michel Teló? Eu sabia que ele era fã do cara, mas chegar a esse ponto já é um pouco demais. 

Me rendo aos puxões dele e afasto de minha mente o encontro que tive com os pais do garoto, pelo menos por agora. Eu não devia mesmo deixar a competição de lado, não quando eu desisti de um sonho de anos para cantar. 

Bom, se nada der certo, pelo menos ainda estou na faculdade. Não é como se eu fosse ficar desempregada para sempre. 

Chego na sala acompanhada por Chan, que não parava de falar no meu ouvido que não queria se atrasar para a reunião com o líder do Time e noto como a equipe estava quase deixando de existir. 

Somos apenas quatro. 

Ver a sala praticamente vazia me deixou um pouco aflita. Isso aqui costumava ser tão barulhento e cheio de vida, é como se as memórias que fizemos aqui estivessem sumindo conforme nossos colegas iam sendo eliminados. 

Por que competições são tão cruéis? 

Passo o encontro inteiro viajando em meus pensamentos. As palavras do Sr. Bang voltavam à minha mente o tempo todo, se misturando algumas vezes com a minha insegurança para a próxima fase do programa. Essa mistura infernal estava me dando dor de cabeça. 

— ...Christopher vai com o Time Brown e... deixa eu ver... — Teló escrevia em sua prancheta, como sempre — Maya, você vai contra o Time Ivete. 

Concordo murmurando um 'ok' e me desligo da reunião novamente. Preciso sair daqui e contar para Chan o que aconteceu de uma vez, ou isso não vai parar de me atormentar. 

Guardo meu celular dentro da bolsa com pressa e saio da sala, dando um tchau vago para todos que estavam ali. Ouço os passos apressados de Chan atrás de mim, correndo para me alcançar e me viro para encará-lo. 

— Pensei que não viria. 

— Como eu poderia? Não sabe o quanto eu tô ansioso para saber a fofoca que você tem pra me contar — o moreno responde rindo. 

Me senti a pior pessoa do mundo nessa hora. Era nítido que Chan estava super animado para saber o que eu tinha para dizer a ele, provavelmente pensando que se tratava de mais um de nossos assuntos aleatórios que compartilhamos um com o outro o tempo todo. 

Mal sabe ele que a protagonista da fofoca dessa vez é a sua família abusiva. 

Fico calada pensando no que responder enquanto caminhamos para fora do prédio. Na verdade eu não faço ideia de como abordar um assunto tão delicado assim. A única coisa que eu sei é que preciso contar a ele urgentemente. Ele merece saber. 

Reúno um grãozinho de coragem dentro de mim e disparo as palavras de uma vez, antes que me arrependesse. 

— Seu pai quer que eu te convença a sair do programa — suspiro ao falar. — Ele quer que eu faça você parar de cantar, Chan. 

O garoto para no meio do corredor, como se minhas palavras o tivessem paralisado. Espero alguma reação do moreno. Raiva, tristeza, indignação, mas tudo o que ele faz é ficar parado sem fazer ou dizer nada. Olho mais atentamente e vejo que ele apertava as mãos em punho e percebo que ele apenas não queria demonstrar que estava furioso com o que tinha acabado de ouvir. 

— Chan — o chamo enquanto chego mais perto dele. 

— Ele não podia ter feito isso — o garoto me interrompe sem alterar a voz, mas eu podia imaginar quanta raiva ele sentia por dentro. — Ele não podia ter ido atrás de você. 

— Isso não importa, Chan — seguro suas mãos tentando passar a ele uma confiança que nem mesmo eu tinha. — Estou preocupada que ele possa fazer algo com você. 

O encaro apreensiva enquanto o garoto nega com a cabeça. 

— Ele não vai fazer nada — ele tentava me tranquilizar, mas eu continuava tensa. — Já me acostumei com as ameaças dele, Maya. 

— Não dá pra saber. Com todo respeito, Chan, mas seu pai é um cara horrível. 

— Concordo — o moreno ri como se o assunto não fosse sério e eu me zango. — Mas ele nunca faria nada com o filhinho que ele tanto quer que seja médico. 

Dou de ombros entendendo que ele não daria mesmo o braço a torcer. 

— Tudo bem, Chan. Mas depois não diga que eu não avisei.

I Want You ☆ Bang ChanOnde histórias criam vida. Descubra agora