— Convença Christopher a desistir desse lixo de programa — arregalo os olhos quando o homem diz autoritário, finalmente mostrando o seu eu verdadeiro.
— O que? — rio incrédula.
— Não me faça repetir, garota.
— Você deve estar maluco se acha que vou fazer isso — digo firme, mas a rapidez com que meu coração batia revelava o quão assustada eu estava.
— Você vai fazer meu filho a sair daquele programa e esquecer essa ideia ridícula de cantar — impôs, soltando os talheres com força no prato.
— Ou o quê? — reúno o pouco de coragem que ainda me restava e o desafio.
— Ou eu mesmo vou fazer. E garanto que não será de um jeito agradável.
— Você devia pedir pra um dos seus amigos neurocirurgiões te examinar. Seu cérebro é podre — disparo as palavras e levanto com força da cadeira.
As pessoas ao redor nos olhavam, mas eu não me importava nem um pouco. Queria que todos soubessem o quão nojentos aqueles dois eram.
Lanço a eles um último olhar fumegante e saio dali, ouvindo o homem esbravejar que eu me arrependeria daquilo. Quem tem que se arrepender de algo é ele, que inferniza a vida dos filhos e ainda acha que está na razão.
[...]
Bato na porta do quarto de Chan e sou atendida mais rápido do que esperava. Isso é realmente surpreendente.
— Chan, eu- paro de falar vendo o garoto fechar a porta e o olho confusa.
— Eu já tava indo te chamar, Maya, estamos atrasados pra reunião do Time! — droga, eu me esqueci da reunião de novo.
— Chan, eu vim te contar uma coi-
— Claro, claro. Você pode me contar no caminho — diz apressado, me puxando para sairmos dali.
Abro minha boca algumas vezes mas a fecho sem conseguir dizer nada. Ele ignorou mesmo o fato de eu ter algo importante para contar só por causa da reunião com o Michel Teló? Eu sabia que ele era fã do cara, mas chegar a esse ponto já é um pouco demais.
Me rendo aos puxões dele e afasto de minha mente o encontro que tive com os pais do garoto, pelo menos por agora. Eu não devia mesmo deixar a competição de lado, não quando eu desisti de um sonho de anos para cantar.
Bom, se nada der certo, pelo menos ainda estou na faculdade. Não é como se eu fosse ficar desempregada para sempre.
Chego na sala acompanhada por Chan, que não parava de falar no meu ouvido que não queria se atrasar para a reunião com o líder do Time e noto como a equipe estava quase deixando de existir.
Somos apenas quatro.
Ver a sala praticamente vazia me deixou um pouco aflita. Isso aqui costumava ser tão barulhento e cheio de vida, é como se as memórias que fizemos aqui estivessem sumindo conforme nossos colegas iam sendo eliminados.
Por que competições são tão cruéis?
Passo o encontro inteiro viajando em meus pensamentos. As palavras do Sr. Bang voltavam à minha mente o tempo todo, se misturando algumas vezes com a minha insegurança para a próxima fase do programa. Essa mistura infernal estava me dando dor de cabeça.
— ...Christopher vai com o Time Brown e... deixa eu ver... — Teló escrevia em sua prancheta, como sempre — Maya, você vai contra o Time Ivete.
Concordo murmurando um 'ok' e me desligo da reunião novamente. Preciso sair daqui e contar para Chan o que aconteceu de uma vez, ou isso não vai parar de me atormentar.
Guardo meu celular dentro da bolsa com pressa e saio da sala, dando um tchau vago para todos que estavam ali. Ouço os passos apressados de Chan atrás de mim, correndo para me alcançar e me viro para encará-lo.
— Pensei que não viria.
— Como eu poderia? Não sabe o quanto eu tô ansioso para saber a fofoca que você tem pra me contar — o moreno responde rindo.
Me senti a pior pessoa do mundo nessa hora. Era nítido que Chan estava super animado para saber o que eu tinha para dizer a ele, provavelmente pensando que se tratava de mais um de nossos assuntos aleatórios que compartilhamos um com o outro o tempo todo.
Mal sabe ele que a protagonista da fofoca dessa vez é a sua família abusiva.
Fico calada pensando no que responder enquanto caminhamos para fora do prédio. Na verdade eu não faço ideia de como abordar um assunto tão delicado assim. A única coisa que eu sei é que preciso contar a ele urgentemente. Ele merece saber.
Reúno um grãozinho de coragem dentro de mim e disparo as palavras de uma vez, antes que me arrependesse.
— Seu pai quer que eu te convença a sair do programa — suspiro ao falar. — Ele quer que eu faça você parar de cantar, Chan.
O garoto para no meio do corredor, como se minhas palavras o tivessem paralisado. Espero alguma reação do moreno. Raiva, tristeza, indignação, mas tudo o que ele faz é ficar parado sem fazer ou dizer nada. Olho mais atentamente e vejo que ele apertava as mãos em punho e percebo que ele apenas não queria demonstrar que estava furioso com o que tinha acabado de ouvir.
— Chan — o chamo enquanto chego mais perto dele.
— Ele não podia ter feito isso — o garoto me interrompe sem alterar a voz, mas eu podia imaginar quanta raiva ele sentia por dentro. — Ele não podia ter ido atrás de você.
— Isso não importa, Chan — seguro suas mãos tentando passar a ele uma confiança que nem mesmo eu tinha. — Estou preocupada que ele possa fazer algo com você.
O encaro apreensiva enquanto o garoto nega com a cabeça.
— Ele não vai fazer nada — ele tentava me tranquilizar, mas eu continuava tensa. — Já me acostumei com as ameaças dele, Maya.
— Não dá pra saber. Com todo respeito, Chan, mas seu pai é um cara horrível.
— Concordo — o moreno ri como se o assunto não fosse sério e eu me zango. — Mas ele nunca faria nada com o filhinho que ele tanto quer que seja médico.
Dou de ombros entendendo que ele não daria mesmo o braço a torcer.
— Tudo bem, Chan. Mas depois não diga que eu não avisei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
I Want You ☆ Bang Chan
FanfictionQuanto vale um sonho? Para Maya, que decidiu se demitir da cozinha de um dos restaurantes mais famosos do país depois de sofrer nas mãos de um chefe abusivo, responder essa pergunta não era mais tão simples assim. Mas ela precisava seguir em frente...