A minha vontade

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Não havia muitas opções para os jovens naquela época, em 1948 eram os pais que escolhiam seus cônjuges, seus companheiros para a vida inteira. Hinata foi-lhe apresentada aos dezoito anos e um mês depois, Itachi já se encontrava com ela no altar da igreja que frequentou durante toda a vida. 

Hinata vestia um vestido de seda reluzente, com mangas longas e um decote que se podia ver apenas sua clavícula e um colar de prata com pingente da cruz. Enrolado em sua mão direita, a Hyuuga apertava o terço entre os dedos que seguravam o buquê. 

Itachi se encontrou com a noiva apenas uma vez antes do casamento e podia dizer que se sentia indiferente a ela. No entanto, foi só durante o beijo que finalizou a cerimônia religiosa, que o Uchiha percebeu que sentia completa ojeriza por ela. Ele se sentiu culpado por isso, mas não conseguiu evitar: no primeiro selar de seus lábios aos dela, a sua boca do estômago abriu e o Uchiha teve de se afastar rapidamente para conter a ânsia de vômito. 

Ao menos ela era bonita e com o passar dos dias ele conseguiu se controlar perto da esposa. Talvez o enjôo durante o casamento tenha sido pelo nervosismo, pois nunca mais se sentiu daquela forma. Mesmo assim, ele controlava para que os beijos entre os dois fossem escassos e rápidos. 

Logo no primeiro mês, Itachi percebeu que era fácil estar casado com Hinata. Ela era quieta, mal dizia dez palavras durante às 24h do dia, era silenciosa até mesmo na cama. Hinata acordava antes dele, fazia seu café, pegava o jornal que o jornaleiro deixava à porta de casa e enchia sua banheira para que o marido não se preocupasse com isso quando acordasse. Dessa forma, o Uchiha se levantava, ia até o banheiro onde seu banho já estava pronto, vestia o terno que sua esposa havia passado no dia anterior e descia as escadas para tomar o café que acabara de ser filtrado.

Hinata sempre o acompanhava até a porta e esticava o pescoço para cima para receber um suave beijo nos lábios, sendo atendida quase sempre. Itachi considerava essa a melhor parte de seu dia, quando se despedia dela e ficava oito horas no escritório de sua família. Ele não fazia isso por birra, apenas não gostava de ficar em sua casa e ter a mulher ao seu lado, olhando-o com aqueles olhos grandes e brancos como se esperasse por algo. 

Quando retornava para casa, Hinata abria a porta para ele como se estivesse o aguardando voltar, espiando pelo olho mágico da porta. Ela o recebia, pegava seu chapéu e seu casaco para por no cabideiro, se ajoelhando para ajudá-lo com os sapatos. A casa sempre estava limpa quando o Uchiha retornava e isso sempre despertou sua curiosidade. Não era uma casa pequena, possuía dois andares e grandes cômodos, por que ela limpava a casa todos os dias tão minuciosamente? Talvez tivesse medo de sua reprovação. 

Então, Hinata o conduzia até a sala de estar, onde Itachi se sentava na poltrona de couro perto da janela de vitral fechada e pegava um charuto. Sua esposa se aproximava com um isqueiro e o acendia, entregando um copo que continha uma dose de whisky antes de se afastar para conferir o jantar. Após isso, ela pronunciava algo como "dez minutos", e essa era, provavelmente, a última coisa que ela falava durante o dia. 

Eles jantavam em silêncio, Hinata comia pouco e o aguardava terminar de comer para poder lavar a louça suja. E enquanto Itachi assistia o telejornal, Hinata terminava seus afazeres na cozinha, esvaziava seu cinzeiro e subia as escadas para se preparar para dormir. Ele logo a seguia, indo para o banho que a Uchiha já havia preparado e vestindo sua roupa de dormir após se secar. 

Aquele momento da noite deveria ser destinado a seus deveres como marido e mulher, mas Itachi preferia que esses momentos fossem escassos. Não que ele não gostasse, afinal isso era algo que ele fazia muito antes de se casar, mas realmente se irritava quando Hinata o abraçava com suas pernas e emaranhava os dedos em seu cabelo, respirando de forma entrecortada até acabar. Fazendo ou não, ambos sempre terminavam a noite virados em lados opostos na cama, e então o dia começava novamente e tudo se repetia. 

O corvo pretoOnde histórias criam vida. Descubra agora