Prólogo

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Março, 2028

Seus sapatos sociais faziam um eco a cada passo dado por aquele lugar infesto. O forte odor do ambiente o fez levar as mãos ao nariz e uma vertigem passou por seu corpo.

Ele poderia vomitar ali mesmo.

Seu estomago estava embrulhado com todo aquele cheiro forte de enxofre, e seus passos eram trêmulos ao caminhar por entre aquelas macas vazias, exceto por uma.

Ele nunca pôde realmente enxergar-se em um cenário como este, onde suas garrafas de gin seriam substituídas por soros, e as paredes coloridas das festas que costumava frequentar virariam paredes cobertas por caixas de alumínio contendo seja lá o que tiver dentro delas. E ao virar o rosto, o reflexo refletido naquelas caixas certamente não pertencia a Louis Tomlinson, o renomado empresário de Paris, tampouco a Louis Tomlinson, o impetuoso assassino de aluguel.

Aquele era Louis Tomlinson, o cara que perdeu tudo.

Passou seus dedos magros por entre os fios de cabelo desalinhado, em uma falha tentativa de amenizar sua aparência decadente. Levando a atenção novamente para a frente, continuou seus passos, até parar ao lado da maca.

Havia um corpo totalmente coberto por um lençol branco, dando a visão apenas de seus pés pálidos, e logo sentiu os pelos de seu pescoço se arrepiarem. Afrouxou o nó da gravata e arregaçou as mangas da camisa, vendo o médico se aproximar, trajando seu jaleco e no rosto uma expressão de pesar.

Em silencio, ele o encarou por alguns segundos, logo soltando um longo suspiro ao levar suas mãos para a borda do lençol. Ele descobriu apenas o rosto, e ele só precisou olhá-lo por dois segundos, sentindo a ânsia rapidamente subir por sua garganta e a visão ficar levemente turva ao desviar seu olhar daquele cadáver e encarar o chão do lugar.

-O senhor reconhece esse corpo? - Avoz do médico soou próximo a ele.

Ele não ergueu a cabeça.

Ele não expressou reação.

Seus olhos nada demonstravam.

Sua voz foi firme ao pronunciar:

-É o meu marido. - Sussurrou. -Harry Tomlinson.

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