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      A noite estava mais fria do que o esperado para meus pés. Pensei que a melhor ideia seria colocar meias e tentar dormir, porém sair da cama não me parecia um bom devaneio.
      Meus pensamentos me fariam vagar para um local menos apropriado, ou ainda seguro, mas que me chamava como se necessitasse da minha aparição.
      Será que ele sentia frio nesse momento? Ou que o vento pitoresco ao passar pelas persianas da janela chamava seu nome? Ou diferente de mim ele conseguia ter uma boa noite de sono?
      Olhei o horário pelo visor do meu celular e suspirei. Teria mais problemas no dia seguinte se não fosse dormir em exatos dez minutos. Mas minha mente não parava de vadiar, correndo até o Changmin dos meus sonhos. Da minha memória.
      Seus lábios pareciam ainda mais chamativos a léguas de distância. Eu não deveria ter deixado com que ele fosse atrás do seu sonho. Isso soou meio egoísta, porém é a verdade, não quero mentir para mim mesmo ou para qualquer um que chegue a ler isto. Não suportava pensar naquele ditado, sobre deixar as pessoas irem. Claro que elas se colocarão a frente de qualquer outro, pelo menos eu me colocaria. E fico feliz que ele tenha feito o mesmo.
      No entanto, outra parte de mim odiava isso. Queria tê-lo aqui comigo, passando seus braços pela minha cintura enquanto eu respirava profundamente aquele cheiro característico de terra molhada e bolo de morango. Até hoje me pergunto como ele conseguiu combinar esses odores e fazer com que isso anunciasse sua chegada nos lugares.
      Havia tempos em que não sentia o gosto de café e frutas vermelhas sendo transmitidas da sua língua para a minha. E eu não tinha ideia se algum dia aquilo iria acontecer de novo. Terminamos de forma que eu não via motivos para que ele voltasse. Quem sabe por conta do seu amor por mim, ou alguma outra bobagem piegas. Queria poder acreditar nisso, seria bem mais confortável. Como usar meias em uma noite fria.
      Precisava saber se ele estava bem. Queria retornar nosso contato, mesmo que significasse ferir meu próprio ego. Isso deixou de importar pra mim quando aceitei nossa finitude como seres humanos. Ele com certeza não irá me atender, mas minha alma não ficaria quieta até que eu pudesse tentar.
      Peguei o celular novamente e liguei. Quem sabe meu número ainda esteja salvo, mesmo que eu duvide muito disso. Foi angustiante ouvir aqueles toques, esfregando na minha cara que tudo aquilo deveria estar no passado. Que eu estava no passado dele. Depois de três tentativas, desisti.
      Coloquei o dispositivo de lado e me pus a refletir, rindo da minha idiotice. Ah, Kim Sunwoo, quem você pensa que é? Não tem mais importância alguma na vida daquele homem e continua sendo patético desse jeito? Cresça.
      Dormi antes que lágrimas e sentimentos sombrios das horas mortas tomassem posse de mim. Ele não vai retornar. Nem minha ligação, nem para mim. Eu deveria superar, de forma ou outra. Era para o meu bem, não o dele.
      Mas queria que o meu bem e o dele fosse nós dois juntos, sorrindo um para o outro. Da nossa própria maneira.

      Por que você não ficou?

Why Don't You Stay « sunkyu »Onde histórias criam vida. Descubra agora