a escolha certa

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Essa história é narrada do ponto de vista de uma pessoa em estado depressivo crítico. As definições de certo, errado, bem, mal, sucesso ou fracasso podem estar distorcidas.

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Todas as pessoas daquele grupo eram exatamente a descrição perfeita de fracasso: feios, desarrumados e esquisitos, se eu estava ali, provavelmente eu também era assim, só não percebia.

Me sentei na última cadeira disponível e esperei que a mulher não demorasse muito, porque já começava a balançar a perna, sinal de ansiedade.

Ela entrou, deixou algumas folhas em cima da mesa e puxou a cadeira para junto da roda. Analisava todas aquelas pessoas tentando entender o que as trazia ali, mas ao mesmo tempo não queria descobrir. Imaginava quem tinha sido o filho da puta a propor um encontro semanal de jovens problemáticos para ouvirem seus problemas e então perceberem que sempre tem alguém pior que você. Acho que esse era o verdadeiro intuito dessa merda. Me permiti sorrir de canto quando a mulher pediu que cada um de nós nos apresentássemos.

Tinha um gordo que sofria bullying, um gay que apanhava no banheiro, uma menina com as fotos vazadas, um cara com problemas alimentares e um burro. E eu.

— Meu nome é Choi Soobin, tenho 19 anos e tentei me matar duas vezes. Acho que eu tenho depressão ou alguma merda assim. Meu pai me odeia e essas coisas, minha história é bem genérica mesmo. — dei de ombros antes a voltar a me sentar.

Aquela velha disse que estávamos ali por um propósito maior e que deveríamos ficar felizes com o progresso de cada um, porque nós iríamos progredir. Também avisou que se nos encontrássemos fora do grupo, deveríamos nos cumprimentar e ajudar com o que a pessoa precisasse, essa ladainha de fazer o bem sem olhar para quem.

Por mais que meu rosto expressasse indiferença, meu corpo ardia em raiva. Acho que aquela era a pior merda que minha mãe podia ter feito comigo.

— Choi Soobin! — ouvi meu nome enquanto me dirigia a saída. — Acho que já te vi perto do meu bairro.

— E você nunca imaginaria que eu tentei me matar, né? — brinquei, mas ele me olhou confuso. Uma coisa sobre um quase-suicida é que ele vai fazer piada sobre isso, mesmo que não tenha a menor graça.

— Pode me dar carona?

— Eu vou de metrô.

— Ah, então podemos ir juntos. — se ofereceu.

Não estava gostando do rumo que as coisas estavam indo, mas decidi ser um pouco simpático. Não lembrava se ele era o que apanhava no banheiro ou o que tinha reprovado três vezes, mas finalmente me disse seu nome.

— Meu nome é Taehyun, caso não se lembre. — eu não me lembrava mesmo, Taehyun.

Caminhamos até o vagão e sentamos um do lado do outro. As pessoas entravam conversando alto, no telefone, umas com as outras ou até sozinhas. Cada uma delas ocupada com a própria história, com pendências para resolver. Todas aquelas pessoas tinham uma vida.

Me lembrava com muitos detalhes o dia que tentei aquilo pela primeira vez. Meu pai estava fora e minha mãe, como sempre, em qualquer lugar que não fosse em casa. Procurei a caixa de remédios e engoli todos de uma vez. Não esperava que o filho da puta chegasse mais cedo e me encontrasse jogado no chão todo babado.

Ele me levou ao hospital e fizeram lavagem estomacal. Por um breve momento, pensei "ele salvou minha vida, ele me ama", mas foi só o período da recuperação passar que começou tudo aquilo de novo.

"Você não faz ideia do quanto essa brincadeira me custou. Todos os remédios caros da sua mãe e aquela merda de hospital, tudo isso vai custar quanto? Você pelo menos consegue raciocinar antes de querer chamar atenção? Tem gente aí muito pior que você, vivendo bem, enquanto você tem tudo e só é um perdido que não quer nada da vida."

TAEBIN - ShallowOnde histórias criam vida. Descubra agora