Corro pela casa enquanto o papai olha pela janela, ele sorri e me chama.
Antônio!
Vou até, ainda correndo.
Sim, papai!
Amanhã você faz 7 anos. O que quer de presente?
Passar o dia com você e a mamãe.
Só isso?
Só!
Ele me olha e sorri, volto a brincar. Sou um atleta olímpico e corro mais rápido que a luz. Vejo o papai subir as escadas para o andar dos quartos e pouco depois ouço ele me chamar.
Subo e entro no quarto dele com a mamãe, o vejo fechar uma janela e a outra em seguida.
Papai o que está fazendo?
Antônio se sente na cama.
Sua voz suave sumiu dando lugar a um tom áspero. Obedeço em silêncio. Ele tranca a porta e vem até mim. E começa a tirar minhas roupas.
Papai o que está fazendo? Fiz algo errado?
Ele não me respondeu...
Papai? Papai pare está doendo... PAPAAAAIIIIII.....
30 ANO DEPOIS
Acorda Antônio!
Carla?!
Você estava tendo um pesadelo?
Olho ao redor e minha esposa está sentada ao meu lado com uma expressão preocupada em seu lindo rosto negro, seu olhos verdes me encaram. Suspiro e a beijo de leve.
Não se preocupe. Estou bem.
Você deveria ir ao ...
Psicólogo. Vou procurar um.
Ela me olha com um sorriso debochado, pois sabe que não irei.
Você não tem uma audiência hoje?
Tenho. Mas não mude de assunto Antônio.
Te dou carona hoje.
Saímos da cama e nossa rotina matinal ocorre na perfeita sintonia. A deixo no escritório de advocacia e sigo para o meu trabalho no banco.
No 19° andar na mesma em frente a janela, com vista para toda a Cidade de Linoa, me sento e respiro fundo pensando em como é bom não ter as janelas fechadas.