One Shot

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Com uma viagem marcada e passagem comprada com data de ida, mas sem previsão de volta, lá estava Paula Terrare, buscando em seu closet as peças que usaria em Paris, cidade da moda.
Ainda lhe era um pouco estranha a ideia de viajar ao lado da mulher com quem passara anos a trocar alfinetadas, no entanto, depois de ter encarado a morte várias vezes, literalmente falando, nada mais lhe assombrava.
A Morte imanente ao destino de todos lhe fizera acreditar que a vida é curta demais para não aproveitarmos as chances que recebemos todos os dias para construir novos caminhos e trilhar novos passos, ainda que esses passos estivessem indo rápido demais em direção à uma mulher de 1.77, cabelo platinado e sorriso indecente.

Com tudo pronto, Terrare decide ir dar uma olhada na organização do ensaio fotográfico da Wöllinguer-Terrare ou Terrare-Wöllinguer, como preferia chamar.

Não contava, é claro, com a aparição de uma quase assombração no teleférico.

- Paula. - chamou Neném.

- Ah, não. Você não. De novo, não. Some.

- Paula. - chamou outra vez. - Sou eu, Neném.

Ao se virar, deu de cara o camisa 10 da seleção. Seu coração deu saltos, mas a morena não sabia identificar se eram saltos provenientes do amor que ainda nutria por ele ou de uma possível ansiedade por encará-lo novamente tendo em vista as suas pretensões futuras.

- O cê tá fazendo aqui? A outra lá te despachou?

- Não, não. Ah... Eu e a... Eu e a Rose, a gente não tá mais junto. Ela tá seguindo o caminho dela e eu tô aqui.

Vendo a hesitação de Paula, ele disse:

- O destino colocou você no meu caminho. Desculpa... Desculpa! Eu não entendi. - encarou a morena por longos segundos. - Eu te amo. - fez uma pausa e contemplou a falta de reação da Terrare. - Eu te amo. - disse, rindo nervosamente.

- Fala de novo.

- Eu te amo. - bateu no peito em êxtase.

O beijo que veio a seguir foi inevitável.
O beijo tão ansiado por Paula, durante tanto tempo, viera acompanhado das palavras que ela queria ter escutado por todos esses meses em que ele esteve com a Rose.

Pensou em se agarrar àquele momento porque havia materializado seu desejo.
Mas algo estava errado.
O gosto do beijo parecia ter mudado.
Não o gosto, em si. Mas algo estava diferente. Talvez Paula estivesse diferente.

Aquele não era o gosto que o paladar dela ansiava. Pelo menos não mais.
Aquilo causou uma confusão tremenda na cabeça da morena. Por isso, ela agarrou-se mais a ele tentando espantar aquela maré de incertezas que brotavam em sua mente e em seu coração.

Mas era o Neném, não era? Tinha que ser o Neném.

E por que ela não sentia mais que aquela era a escolha adequada?
Aquele seria mesmo o momento adequado para ruminar aqueles pensamentos insistentemente torturantes?

Paula, Paula, ouça o seu coração. Ela ouviu a voz melódica da Morte e abriu os olhos enquanto os lábios de Neném ainda tocavam os seus.

Naquele milésimo de segundos fora transportada para outra realidade. Nela, não havia Neném, nem teleférico, nem viagem, nada.
Só estava ela e um infinito branco em que pôde por fim pensar.

Mas qual era o motivo daquela reticência? Não era o que ela queria? Não era o que o seu coração desejava? Já não sabia se aquele era um desejo dele ou se era apenas uma projeção que havia criado de uma relação. Relação essa que girava em torno do Neném, porque, de certa forma, ter algo para agarrar-se com afinco possibilitava, ao menos um pouco, que ela não sucumbisse ao vazio de sua alma.

Paris para duas Onde histórias criam vida. Descubra agora