O príncipe de Busan não sabia ao certo em qual momento sua mente ficou em branco e a imagem de Kim Lucien com a agulha em mãos refletiu em seus olhos. O medo e o sentimento de incapacidade estavam presentes em todo momento em que a mulher se aproximava, lhe lembrando a pessoa fraca que havia se tornado nos últimos dias.
Uma pessoa frágil, limitada e incapaz de agir por conta própria.
A dor em seu dedo perfurado era demasiado, mas minúsculo comparado ao que a mulher estava prestes a lhe causar.
Seu lobo, que a tantos dias se mostrou ausente em seus pensamentos e ações, agora começava a demonstrar sinais de que estava ali o tempo todo, querendo o controlar e desligá-lo de suas emoções presentes. As veias em seus pulsos começavam a ficar cada vez mais nítidas, assim como sua corrente sanguínea esquentava, ou melhor, ferviam em seu ser.
Os soldados haviam ouvido o barulho de algo semelhante a um rosnado e temeram, temeram porque farejaram a ameaça eminente. Jeon Jeongguk estava prestes a se transformar e não parecia estar sobre total controle de tal ação.
Kim Lucien sorria quando decidiu subir seu olhar para saber qual o motivo do silêncio por parte do jovem e demais guardas. Esperava que o ômega fosse atacá-la como um animal que pensava que Jeongguk fosse, mas nunca pensou que veria tão de perto os dentes afiados e o olhar predatório do mesmo desferido em sua direção.
Tal coisa a assustou ao ponto de deixar que a agulha caísse no chão, mas ela disfarçou ao limpar sua garganta, que de uma hora para a outra, parecia estar seca.
A mulher soube que naquele momento que torturar Jeon Jeongguk poderia ser bem mais perigoso do que torturar Kim Seokjin – ao que o pai de Kim Seokjin se mantinha em silêncio, com o lobo submisso preso em seu interior –, no entanto, mesmo sentindo o perigo, estava tentada demais em saber qual o limite que poderia levar o outro.
Sendo assim, um novo sorriso se pôs em seus lábios rubros e não poupou força ao agarrar os fios negros entre sua mão e puxá-lo até que a face alheia estivesse rente ao seu.
— Eu vou fazer com que almeje a morte com todas as suas forças, seu maldi-
— Olha-a, parece que eu confundi o banheiro! — Kim Lucien largou o ômega de imediato ao ver o novo lorde de Strong entrar porta adentro. — Espero não ter atrapalhado nada, majestade.
Kim Lucien ajeitou a postura e sinalizou para que os guardas soltassem o ômega e assim foi feito. Jeon Jeongguk caiu de joelhos no chão, com a vista turva, focada em um ponto aleatório da sala. Sua respiração estava descompassada, fora do ritmo.
— Não atrapalhou nada, Lorde Lee Trarn. — A mulher foi acompanhada com os guardas em direção a porta, mas antes que saísse, tocou no ombro do homem e lhe lançou um olhar sério. — Conto com o seu silêncio quanto ao que viu agora. Não queremos que mais nenhum nobre morra em algum acidente trágico, não é mesmo, Lee?
— Sim, é claro. — Se curvou desajeitado, esperando que a mulher se retirasse e essa sorriu de lado. O homem estava tão bêbado que até mesmo um sopro o derrubaria.
Não demorou muito e todos se retiraram da sala, restando apenas Jeon Jeongguk, sozinho com seus pensamentos.
O gatilho que serviu para que voltasse a realidade fora o baque da porta.
As mãos trêmulas foram para sua barriga e por mais que tentasse, não conseguia deixar de chorar. Se encolheu aos poucos, deixando que suas finas lágrimas se tornassem grossas e pingassem em suas vestes incessantemente.
— E-eu estou com tanto medo. — Mordeu os lábios, tentando conter a tremedeira em sua boca. — Eu só que-quero voltar para o meu reino...
Reino de Busan, Fast
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Entre Dois Reinos
General FictionDesde pequeno Jeon Jeongguk gostava de duas coisas: ter cabelos longos e lutar. Não era novidade para ninguém do reino Fast saber que o príncipe ômega tinha mais interesse em participar de guerras do quê arranjar um marido. Vários dos nobres que ten...