Zhongli não esperava que Childe o chamasse para ir no cinema no meio de um dia pavorosamente normal de sua semana.
Era uma quarta-feira de manhã cedo, ensolarado e quente como todos os outros dias, quando o agente funerário recebeu uma mensagem de seu amigo, Tartaglia. A mensagem dividida em várias linhas e separada por figurinhas era um convite informal para que fossem ao cinema assistir um dos filmes novos da Marvel, Doutor Estranho. O jovem ruivo era um estudante de Artes em uma faculdade pública da cidade, um conhecido de Zhongli há alguns poucos meses, e o motivo deles se conhecerem, bom... Envolvia gente morta, é claro.
Childe havia arranjado seu número, só os deuses sabem lá de onde, e entrara em contato com Zhongli ao fim de último semestre letivo. Seu objetivo era claro: usar um corpo inanimado como referência para um de seus importantes trabalhos do curso.
Zhongli havia tentando explicar a ele que não poderia permitir tal tipo de coisa, mencionando algo sobre ética e divulgação da imagem de pessoas mortas sem autorização da família, que Childe realmente não dera muita atenção. A solução do garoto — extremamente insistente, por sinal — foi simples, prometendo que não iria dizer a ninguém sobre aquilo e que, entre os belos traços manchados de grafite, ocultaria os detalhes do corpo de seu "modelo", de modo que no final ninguém pudesse reconhecer o defunto.
Apesar da diferença de idade deles ser próxima de 10 anos, Zhongli sentira-se estranhamente incomodado quando o jovem invadira de repente sua sala enquanto ele recém maquiava a face de um homem morto.
Childe não pareceu se importar com as ações meticulosas dele, como enquanto Zhongli limpava o sangue coagulado de um ferimento de faca aberto na barriga do indivíduo. Ele apenas sentou-se do outro lado do cômodo, as pernas tranquilamente cruzadas, tirou um caderno gigante da bolsa e começou a desenhar formas sobre o papel. Atento a cada movimento do agente funerário, os olhos azuis mal piscavam, em contraste com as mãos fortes que se mexiam incessantemente.
Zhongli não soube dizer em que ponto exato aquilo, aquele olhar intenso que arrastava-se pelos minutos, começou a alastrar um calor estranho por seu corpo, seu pulso acelerando e o leve suor manifestando-se nas raízes de seu cabelo — ainda que a sala estivesse devidamente fria para auxiliar a manter as condições do corpo. Ele não estava acostumado a ser assistido enquanto fazia seu trabalho; ele pensou que talvez pudesse ter contraído alguma doença, um tipo de febre, mas antes que pudesse sequer considerar um diagnóstico, as tarefas com o corpo haviam terminado e Childe já estava indo embora da Funerária Wangsheng.
Quando moveu a boca para falar com ele, Childe esbanjou um sorriso aberto, tirando todo o oxigênio de seus pulmões antes de convidá-lo para um jantar de agradecimento.
É, Zhongli, realmente deveria estar doente — uma doença terminal, por exemplo — principalmente para ter aceitado aquilo, o tipo de contato incomum a ele, que o fizera ficar durante horas na frente do espelho tentando decidir qual terno deveria usar para ir àquele tal de Burger King, e que, posteriormente, servira para prolongar as conversas e o contato entre os dois no decorrer das semanas seguintes.
Conforme se conheciam melhor, ele descobrira que, apesar de problemático, Childe era leve e doce, carregando seu próprio e enorme charme por onde passava. No início, era sempre ele quem puxava conversa, entupindo o celular de Zhongli com stickers e carinhas felizes, fotos de seus desenhos talentosos ou cachorros vira-latas que invadiam corriqueiramente sua sala de aula na universidade. Depois, Zhongli acostumou-se a compartilhar fotos de arranjos de flores com ele, demonstrando seu conhecimento sobre palhetas de cores ou ponderando sobre a madeira que os clientes escolhiam para os caixões.
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Taquicardia - Zhongchi
FanfictionPorque a aceleração dos batimentos cardíacos que Zhongli tinha cada vez que via Childe só poderia ser uma doença. {Modern!AU}