17| Duelos

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Canto para Maria a música escolhida para a minha próxima apresentação e ela me dá alguns elogios depois de me ouvir. Talvez seja apenas porque somos irmãs, ela nunca diria que está uma porcaria. 

Se bem que, vindo de Maria, eu não duvido de nada. 

Pego meu celular e saio do quarto, dando à minha gêmea alguns minutos de paz e sossego sem ouvir a minha voz praticando high notes e falsetes. Recebo uma mensagem de Felix enquanto me encaminhava para o jardim do prédio e mudo meu trajeto quando o garoto me pede para ir ao terraço encontrá-lo. 

Subo até o local e vejo o garoto me esperando em uma mesa de madeira, protegida por um guarda-sol, já que ficava na parte descoberta do terraço. Vou até ele e o cumprimento, me sentando em seguida. Ele me empurra um copo de suco de laranja e eu levo o conteúdo à boca imediatamente, tentando me livrar um pouco do calor. 

— Huh, isso tá ótimo — digo entre um gole e outro da bebida. 

— Tá mesmo — o platinado tinha um rosto fofo enquanto sugava seu suco pelo canudo. — Adoro esse lugar. 

— Eu também. A vista é realmente incrível. 

Felix olhava o horizonte apreciando a paisagem carioca. Ele agora parecia tão angelical que eu mal podia acreditar que um dia ele havia sido aquele idiota completo. 

— Eu soube que encontrou meus pais — apoiou seu copo na mesa. 

— É, eu encontrei. Eles não são muito amigáveis. 

— Eu até já imagino o que eles queriam com você. 

— Mesmo? — questiono e ele confirma com a cabeça. 

— Eles me pedem isso há anos — o olho desconfiada. — Querem que eu faça o Chris desistir do sonho dele. 

— E você obedece —me ponho sobre os cotovelos, encarando o garoto. — Por isso a relação de irmãos entre vocês dois não é das melhores. 

Vejo Felix engolir seco sem conseguir dizer nada. 

— Não precisa responder, eu já sei. Chan me contou algumas coisas. 

— Eu tenho sido mesmo uma pedra no sapato do meu irmão — ele cora, envergonhado ao me dizer aquilo. — Tentei fazer ele se sentir inferior à mim, pensando que assim ele aceitaria cumprir a vontade do nosso pai, mas o Chris é mais forte do que eu esperava. 

— Por sorte você não parece orgulhoso disso, Lix — o garoto fitava o chão, evitando os meus olhos. — Chan não desiste fácil, e nada do que seu pai fizer vai mudar o que ele quer pra vida dele. 

— Sei disso. Também queria ser assim. 

— E por que não? Você também pode ser. 

— Eu sou covarde, Maya. Sempre fui. Não tenho coragem de enfrentar meus pais. Apenas acho que minha vida vai ser mais fácil se obedecer eles. 

— Pode até ser mais fácil, mas vai ser uma vida feliz? 

Ele parou de falar por alguns instantes, imagino que sua mente estivesse longe pensando em minha pergunta. Felix também sofre nas garras dos pais, e acho que era isso que Chan queria dizer quando me falava sobre ele. 

Talvez a versão amarga de Felix seja fruto da prisão em que foi colocado desde pequeno. Não deve ser fácil querer sair de uma situação, mas não ter forças para fazer isso. 

— Eu sempre quis ser um chef confeiteiro — ele riu pelo nariz, como se dissesse algo engraçado. — Sério, você precisa provar meus brownies. 

— Uma competição de quem faz o melhor brownie, valendo? — minha pergunta fez o garoto arregalar os olhos — Qual é, tá com medo? 

— Claro que não — ele limpa a garganta. — Quem ganhar pode pedir o que quiser pro outro. 

— Fechado! — aperto sua mão — Quando eu ganhar você pode me pedir dicas de confeitaria. 

Ele gargalhou e eu me senti feliz por ter conseguido arrancar uma risada dele. Tenho a ótima impressão de que Felix está finalmente começando a se libertar de todas as regras impostas pelos pais. E se eu puder ajudá-lo com isso, farei com o maior prazer. 

Felix me acompanhou até meu quarto e nos despedimos em frente à porta. Entro no cômodo e deito em minha cama, olhando as redes sociais enquanto descanso. Aproveito e mando uma mensagem para minha mãe. Nós não temos conversado muito esses dias porque as coisas estão de cabeça para baixo na empresa em que ela trabalha, então eu tenho evitado preocupá-la com o que quer que seja. 

Ouço uma batida na porta e caminho para atendê-la. 

— Chan! — me surpreendo por ele aparecer sem avisar — Tudo bem? Entra. 

— Oi — ele beija minha bochecha, passando por mim para entrar. — Eu tô bem, e você? 

— Hum, tô bem também — fecho a porta atrás de mim. — Aconteceu alguma coisa? 

— Nada, só queria te ver — sinto meu rosto esquentar com a fala do garoto. 

Maria pigarreia da escrivaninha, mostrando que estava escutando. 

— E aí, Chan — ela diz zombeteira. 

— A-ah... Maria, você está aí — minha gêmea ri ao deixar o garoto envergonhado. — Oi. 

— Vem, Chan — o puxo para sentar em minha cama. — Maria vai ficar estudando, não é? 

— É isso aí — ela colocou de volta os headphones. — Mas não falem mal de mim, eu posso estar escutando tudo. 

O moreno se senta em minha cama e eu vou até o frigobar, pegando duas latas de guaraná e o entregando uma. Como de costume, ele abriu a lata e me deu, pegando a fechada de minha mão para ele. 

— Ensaiando muito? — me ajeito na cama ao lado dele. 

— Bastante, e você? 

— Maria já tava quase me expulsando do quarto de tanto que eu cantei — rio, pegando uma bolacha no pacote e colocando na boca. 

— Sabe que tem uma chance de vinte e cinco por cento de você duelar contra o Seung, né? — dou o pacote de bolacha a ele. 

— Hum, eu sei — respondo de boca cheia. — Tô tentando não pensar nisso, seria terrível ter que ir contra ele. 

— Nem me fale — ele concorda enquanto mastiga. 

— Se eu fosse contra ele, pra quem você ia torcer? — o olho semicerrado. 

— Eu ia torcer pra empatar, claro — diz, depois de quase se engasgar. 

— Essa opção não existe — dou tapinhas em suas costas enquanto ele tosse. 

— Infelizmente.

[...] 

Me olho no espelho e vejo que a roupa que Felix me ajudou a escolher era realmente linda. Posso até não arrasar cantando hoje, mas meu look vai. 

Saio do banheiro e vou até a sala do Time. Michel Teló nos reuniu para dizer contra quem disputaremos os Duelos. 

Me aproximo de Chan, enganchando meu braço ao dele e o apertando para diminuir a minha ansiedade. Ele resmunga por ter doído e peço desculpas, me controlando para não esmagar o seu braço mais do que o necessário. 

Suspiro pesado e passo a mão pelos cabelos quando Teló me diz exatamente o que eu temia: vou duelar contra Seungyoun. Olho aterrorizada para Chan, que acaricia meu ombro num gesto de conforto, me dizendo que eu só precisava dar o meu melhor e esperar que o público decidisse. 

Saio arrasada da sala, pensando no quão difícil seria ir embora ou ter que ver Seungyoun ir. 

— Droga, droga, droga, droga! — explodo, levando as mãos à cabeça. 

— Calma, Maya — Chan tentava me acalmar enquanto eu surtava. — Desse jeito vai infartar. 

— Seria ótimo — vejo o garoto me lançar um olhar de repreensão. — Muito melhor do que competir contra o Seungyoun. 

— Para de falar besteira e vai ensaiar — disse, bagunçando meu cabelo com a mão -, ou então Seung vai ganhar de você.

I Want You ☆ Bang ChanOnde histórias criam vida. Descubra agora