Capítulo 5

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Katherine.

A praça da cidade tá bem movimentada hoje, bem mais do que se espera de um fim de tarde de terça-feira. Parece que praticamente todo mundo dessa cidade teve a mesma ideia, o que nem dá pra se julgar, tá um dia simplesmente perfeito pra tomar um sorvete no melhor ponto de vendas daqui.

Eu e Cristiane, minha melhor amiga aqui em Marília resolvemos sair hoje a fim de aproveitar-mos que eu ainda estou na cidade, sempre fazemos isso quando estou por aqui. Nós fomos no shopping e acabamos por encerrar o nosso passeio no carrinho de picolés e sorvetes do seu Abílio, ele vende o melhor sorvete que eu já comi na vida, e olha que eu já procurei muito um melhor em São Paulo, mas ainda não encontrei. A minha amiga acabou de sair e eu estou esperando André, nós combinamos que nos encontraríamos aqui às 17 H e 30 minutos,, eu até queria que ele tivesse vindo comigo, mas não seria legal fazer isso com a minha amiga, ela me odiaria por deixá-la ficar de vela.

Sou tirada dos meus pensamentos ao ouvir uma voz chamar pelo meu nome.

— Katherine? Você é a Katherine, não é? Você é muito mais linda do que nas fotos suas que eu consegui.

Assim que direciono o meu olhar na direção da voz que me chama eu simplesmente não consigo acreditar no que estou vendo. Não consigo acreditar que o meu pai está aqui, bem na minha frente agora. Me levanto rapidamente, mas preciso me apoiar um pouco no encosto do banco em que eu estava sentada, pois sinto que minhas pernas estão moles neste momento.

— E eu pensei que nunca precisaria te ver além das fotos suas que saíram nos jornais: —o meu tom de voz sai mais nervoso do que eu pretendia, mas continuo sustentando o meu olhar nos seus olhos.

— Eu saí hoje daquele inferno. Faz alguns anos que eu decidi que quando saísse te procuraria. Acho que você é a única que poderia me ouvir, a única pessoa que eu sinto que posso recomeçar de fato sabe? Afinal você é a única filha que eu não prejudiquei, pelo menos não tão diretamente. Eu quero recomeçar Kath: ele suspira, desviando os seus olhos dos meus por um momento.

— Você só pode estar brincando comigo né? Você me procurou porque pensou que eu seria a trouxa que acreditaria no seu papinho. Agora você vai me dizer que esses anos na cadeia te fizeram refletir, que agora é um homem arrependido e quer recomeçar. Eu não sou a bobinha que você pensa: — digo tentando demonstrar um autocontrole que eu não sinto de fato, preciso usar de toda a força de vontade que habita em mim para não chorar na frente dele. Será que o meu pai faz ideia que ele tem o dom de me deixar confusa?

— Eu sabia que te encontraria assim, na defensiva, acho que nem teria como ser diferente. Olha, eu sei que eu nem deveria estar aqui, até porque eu nem tinha esse direito de bagunçar a sua vida, é só que... Eu precisava falar com alguém ou eu vou acabar enlouquecendo com tudo isso que eu tô sentindo agora. Eu não acho que é uma boba, muito pelo contrário, dá pra ver que de boba você não tem nada. Eu só precisava que você soubesse que eu sinto muito pelo que causei aos seus irmãos e a você: — eu o olho atentamente, a fim de tentar ler as suas reais intenções pelas suas expressões, mas elas surgem como uma incógnita para mim, não sei se o olhar nervoso que eu vejo estampado em seu rosto se trata da realidade ou se é fruto da minha imaginação, que está projetando só o que eu quero enxergar.

— Eu não acredito em você, em nenhuma palavra que me diz: — tento manter o meu tom de voz firme, mas sinto que estou falhando miseravelmente nessa missão.

— Eu sabia que não acreditaria em mim assim, inclusive antes de me aproximar me questionei se valeria a pena, porque muito provavelmente não valeria de nada e eu acabaria só te machucando e me machucando. Mas pra mim valeu a pena sim, eu pude ao menos ver você. Kath, você se tornou uma moça tão linda. Obrigado por ainda estar aqui, por permitir que eu te conhecesse: — os olhos do meu pai estão marejados, e continuam fixos em mim.
— É, eu nem sei porque comtinuei aqui por tanto tempo, mas agora eu realmente preciso ir, meu namorado está me esperando.

Destroços do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora