O INÍCIO DO FIM
ANGÚSTIA.
Era o que eu sentia enquanto via minha imagem refletida no espelho - há pouco tempo quebrado - do meu quarto. Eu deveria estar sentindo dor nos meus dedos depois de socar com toda força o vidro, mas por que não sinto nada?
Minha mente vaga nos últimos acontecimentos de duas semanas atrás. Lembro-me dos jornais noticiando sobre uma nova infecção, os repórteres não tinham informações suficientes, nem mesmo os cientistas poderiam nos dizer a causa do vírus ou como combatê-lo.
Minha mãe estava ao telefone com a vizinha, sentada no sofá vermelho desgastado que nós tínhamos, olhando para a televisão aflita e supondo o que poderia ter causado tamanha desgraça no mundo.
"Talvez seja a fúria de Deus, nós sempre fomos avisados sobre o apocalipse, está na Bíblia."
Não escutei a resposta da vizinha, obviamente por estar longe e nem um pouco interessada no assunto. Eu sempre desgostei da mesma, Olívia era uma pessoa que todos tinham que se esforçar para gostar.
Infelizmente, foi ela que me encontrou quase morta, após minha primeira tentativa de suicídio aos dezesseis anos.
Minha mãe havia saído para ir ao supermercado, me recordo que no mesmo dia ela tinha recebido o salário e como meu pai não nos ajudava com nada em casa, ela usava o pouco que recebíamos para comprar alimento. A luz era o que menos nos importava na época, enquanto tivéssemos comida no prato, estaríamos bem.
Eu sempre planejei meus atos dias antes mesmo de acontecer, era como se eu já soubesse que eu estragaria tudo em cima da hora. Talvez fosse apenas minha ansiedade atrapalhando minha forma de viver, que seja.
Voltei a consciência com Olívia abanando suas pequenas, mas calejadas mãos em frente ao meu rosto. Consigo sentir a sensação até hoje, o ar faltando em meus pulmões, a força que fiz para erguer minha cabeça, parecia que uma tonelada de pedras me puxavam para baixo.
Faltavam poucos minutos para o horário habitual que minha mãe chegava em casa. Apesar de não ser religiosa, dei graças a Deus por não ser ela que estava em cima de mim, tentando desesperadamente me socorrer. Afinal, ter uma vizinha fofoqueira que passava mais tempo cuidando da sua vida do que a dela, não era algo tão ruim assim.
Depois daquele dia, minha relação com minha mãe nunca mais foi a mesma. No fundo, eu entendia o porquê de sua mágoa, mas meu lado egoísta insistia em pensar que ela só pensou em si mesma, não queria ficar sozinha, não depois de ter sido abandonada pelo meu pai.
Escuto passos desleixados, quase como se estivessem rastejando pelo assoalho da casa antiga, subindo as escadas detidamente. Sei que está subindo as escadas, porque o ruído estridente que os degraus fazem, eram a causa dos meus pesadelos toda noite.
Olho para o chão e vejo novamente meu reflexo, mas agora nos vidros quebrados em diferentes formas e tamanhos. Pego o maior pedaço que encontro e me posiciono atrás da porta, contando mentalmente até dez, isso sempre me acalmou.
Ou, apenas me poupava tempo e ajudava a desacelerar o inevitável.
Seguro firmemente o vidro em minha mão direita, causando atrito entre minha pele e o objeto cortante, mas a dor não me incomodou. Com a mão esquerda, abro cuidadosamente a maçaneta da porta, dando de cara com minha mãe totalmente desfigurada e infectada.
Tento ser forte, mas ver que minha mãe foi infectada e eu não consegui fazer nada para evitar que acontecesse, me matava cada vez mais. Era como se eu estivesse morrendo de novo, de novo e de novo, era um loop infinito que não acabava mais.
Solto o vidro e não tenho forças para me manter de pé, sinto minhas pernas trêmulas e desabo totalmente pelo chão, caindo de joelhos.
Minha mãe tenta se aproximar, rastejando-se lentamente, farejando e sentindo cheiro de carne fresca, sua nova refeição, sua filha.
Agarro em sua nuca, puxando com força para atrás, desvio minha atenção até sua gargantilha, era a mesma que eu usava quando mais nova. Minha mãe dizia que queria algo meu, para quando eu saísse de casa ou fizesse algo contra eu mesma novamente.
Meus olhos lacrimejam, observo pela última vez seus olhos verdes e opacos, pego o vidro em minhas mãos e enfio rapidamente em seu lobo parietal.
Seus braços param de ser mexer, ficando moles em cima do meu colo, parecia que ela estava agarrando em minha cintura, se despedindo. Seus olhos permanecem abertos e focando precisamente dentro dos meus.
Todas as memórias passam pela minha cabeça, tudo o que nós vivemos, tudo o que nós passamos juntas, todas as brigas, risadas, tudo agora era passado. Tudo havia morrido junto com minha mãe.
Inclusive eu.
ⁿᵒᵗᵉˢ:
Olá, espero que tenham gostado do prólogo de MAD WORLD. Gostaria de perguntar se algo ficou confuso, muitas informações para um capítulo só e se estão animados para ler como Scarlett vai se sair com tudo isso.
É meu primeiro livro sendo publicado, por isso sou meio leiga. Então, se eu cometer algum errinho, me perdoem, vou tentar melhorar.
Eu não tenho dias de postagem de novos capítulos, mas a primeira temporada já está feita e eu comecei a escrever a segunda há pouco tempo. Então, não vai faltar atualizações por esses dias!
Até o próximo capítulo. ♡
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𝙈𝘼𝘿 𝙒𝙊𝙍𝙇𝘿, daryl dixon
Fanfic𝙈𝘼𝘿 𝙒𝙊𝙍𝙇𝘿 ∣ Após uma infecção desconhecida ter dizimado grande parte da população mundial, o mundo fica cheio de mortos que voltaram a vida. O medo se espalha em cada vaso sanguíneo de qualquer ser humano ainda vivo, vagando pelo o que sobro...