A poltrona posicionada perto da grande janela do meu apartamento parece tão convidativa, as luzes da cidade atravessam a vidraria e deixam o ambiente aconchegante. Chegou o meu momento preferido da semana, quando finalmente posso me sentar aqui, apreciar a bela paisagem e descansar depois de toda a rotina de trabalho pesada.
Busco uma taça de vinho e abro a janela. Observar as luzes que iluminam a cidade, o movimento dessa época e os primeiros sinais do frio de dezembro me tranquilizam. Outro hábito que cultivo é o de imaginar como é a vida das outras pessoas que vejo, aqui ou em qualquer lugar.
Será que o cara do prédio ao lado vai viajar com a família? Será que a moça que sempre sorri para mim na 5th Avenue é uma atriz da Broadway? Será que a senhorinha que sempre leva seu cachorro para passear perto do hospital em que trabalho já viveu um grande amor? Tentar adivinhar quem são e como vivem, ou até mesmo inventar tudo isso, é um hábito compartilhado e que sempre me deixa feliz. Alice e eu fazíamos isso em qualquer oportunidade, ela se divertia tanto.
O som da sua risada ainda ecoa na minha mente, agora solitária. A lembrança dela, assim como em todos os outros dias, é doce e amarga ao mesmo tempo. Doce, porque ela é a pessoa mais gentil e mais brilhante que já conheci. Amarga, porque ela não está mais aqui.
Tateio o bolso da calça em busca do meu celular, gosto de ficar revendo nossas fotos que, mesmo depois de meses, ainda não consegui apagar.
Para a minha surpresa, no entanto, tem um voicemail que ela mandou há alguns minutos. Com as mão trêmulas, aperto o play e a voz dela invade o ambiente.
- Luke? Oi, aqui é a Alice. Não sei se você ainda tem meu número ou se ainda reconhece a minha voz. Você deve estar estranhando isso, já que... É a primeira vez, em meses, que entro em contato....
" Aposto que você ainda está acordado, sentado na poltrona perto da janela. Ei, você se lembra de quando imaginávamos como era a vida dos outros? Era tão divertido. Você ainda faz isso? Porque eu sim e... Sempre me lembro de você. Não sei se pensa que eu te odeio ou que segui em frente, já que nunca respondo às suas mensagens ou ligações. Nada disso é verdade!
Desculpa estar falando tão rápido, estou um pouco nervosa. Mas eu precisava dizer tudo isso e me explicar. A verdade é que eu não te procurei antes porque eu não saberia lidar com outro adeus. Não conseguiria lidar com a sensação de te ver ou de ouvir a sua voz, só para te perder depois, mais uma vez. Sei que isso acabaria comigo de novo. Acredite, Luke, eu já cheguei a digitar seu número várias vezes, passei pelo seu prédio com esperança de ter coragem suficiente para ir falar com você... Eu faço de tudo para não te ligar a cada madrugada que sinto sua falta, a cada ida na cafeteria perto do seu trabalho, a cada caminhada no Central Park...
Mas hoje... Hoje eu não consegui resistir. Quando vi, já estava te ligando. E... Você pensa em mim também? Eu penso em você o tempo todo, Luke. Sinto sua falta, tenho vontade de correr de volta para você. Eu até sonhei com você noite passada, acho que esse foi o sinal que me deu coragem para fazer essa ligação. Quer saber como foi? Estávamos na minha cama, eu estava deitada em seu peito, você acariciava o meu rosto e me trazia para mais perto só para me beijar de uma maneira tão suave... E eu me senti tão em paz, tão amada. Quando acordei, percebi que...
Droga, minha bateria está acabando. Não sei se conseguirei terminar a tempo.
Sei que fizemos uma grande bagunça, sei que as coisas ficaram complicadas e que decidimos seguir caminhos diferentes. Mas essa foi a melhor decisão? Mesmo depois de 8 meses, eu ainda penso nisso todos os dias. Como eu já disse, apesar disso, eu não tinha coragem nem de pensar na possibilidade de te dizer adeus mais uma vez...
Porra, Luke. O que foi que fizemos?
Como chegamos ao ponto em que estou me acabando de chorar enquanto gravo isso? Você sabe que eu não bebo, não coloco uma gota de álcool no corpo há anos... Então também sabe que tudo que estou dizendo é verdadeiro, certo? Bem... Eu ainda amo você e sinto tanto a sua falta. Será que você ainda pensa em mim? Eu aposto que sim, sei o quanto você me amava. Será que esse sentimento ainda existe? Nosso amor ainda está aí?
Como você se sente, Luke? Nós podemos..."
Essa mensagem foi encerrada.
Uma voz robotizada anuncia o que eu tanto temia: o final dessa mensagem. Inacabada, sem conclusão, interrompida.
Algumas lágrimas escorrem pelo meu rosto, mas não me dou o trabalho de secá-las. Minha cabeça gira com tantas informações, tenho dificuldade de processá-las. Ela pensa em mim. Ela sente a minha falta. Alice me ama e eu a amo também. Não deixei de amá-la nem por um minuto desde que terminamos. Ela é o amor da minha vida.
Chamo um táxi e peço para ele dirigir o mais rápido possível. Chego no prédio que é tão familiar, o porteiro já me conhece e me deixa entrar. O caminho até o apartamento 505 é tão automático, bato na porta e ela se abre.
- Luke? O que você... - Alice está mais linda do que nunca. Seu cabelo está um pouco mais longo agora e ela usa um cardigan vermelho escuro.
Seus olhos brilham quando ela me vê.
- Alice! - nós dois sorrimos e meu coração dispara. - Vamos tentar de novo, vamos fazer dar certo. Você nunca mais terá que dizer adeus. E é claro que eu penso em você, a todo momento. Você nunca sai dos meus pensamentos e, muito menos, do meu coração. Eu te amo tanto!
Então, sem perder qualquer segundo, ela passa os braços ao redor do meu pescoço e eu a seguro pela cintura. Diminuímos o espaço entre nós dois, nossos corpos se juntam e nossos lábios finalmente se reencontram.
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I ALMOST DO • LRH
Short StoryEsse é um conto inspirado em I Almost Do (Taylor's Version) - Taylor Swift ♡