3. Nervosismo

42 4 0
                                    

Minhas pernas tremem ao entrar no avião, não consigo parar de suar, o medo e o nervosismo me consomem.

Eu não achei que teria que fazer isto tão cedo. Eu esperava nunca fazê-lo na verdade.

A aeromoça pergunta se quero algo, apenas nego com a cabeça, sinto que se comer algo iria vomitar no mesmo instante em que a comida chegasse ao meu âmago.

Tento dormir mas não consigo, então pego meu celular pessoal e abro na minha conta fake.

Pode parecer besteira mas eu não posso entrar nas minhas redes sociais verdadeiras, afinal se eu curtir ou ver algum story que não deveria o povo já vai começar a criar teorias e notícias fakes com o meu nome, e eu já estou cansada disto, então tenho um fake para poder ver e fazer o que eu quiser em paz.

Vejo várias notícias sobre mim, principalmente sobre a minha aparição no coquetel, tem algumas fotos minhas ao lado do Nicholas Roth e as pessoas especulando se iremos voltar ou não. Há várias fotos minha revirando os olhos e pessoas falando o quão arrogante, estúpida, infantil, esnobe,... eu sou. Eu realmente não me importo, estou nesse ramo a tanto tempo que seria novidade ter somente notícias boas sobre mim.

A mídia ainda não sabe que eu estou indo para outro país, e nem vão saber. Afinal são poucas as vezes em que eu apareço para a mídia, se eu passar uma semana fora eles nem descobriam. Quer dizer sempre perto de Daytona eu apareço mais, mas tem vezes que as pessoas se perguntam se estou viva ou não por causa dos meus sumiços.

Uma coisa boa do Brasil é que neste país eu não sou famosa, então eu posso andar normalmente pela rua que ninguém vai querer tirar fotos comigo, ou os paparazis me seguir. Não lembro quando foi a última vez em que eu pude ter isso.

Me agarro a esse pensamento para tirar algo de bom desta viagem. Afinal estou voltando para casa.

Não não posso chamar esse lugar de casa, esse lugar pode ser qualquer coisa menos casa...

Paro de usar o celular pois minhas mãos estão trêmulas demais e suadas, apesar do frio que está fazendo aqui.

São nove horas de voo e eu já estou surtando, não se passou nem uma hora. Eu preciso me acalmar.

Coloco uma música bem alta nos meus fones e me forço a dormir.

𝓖𝓻𝓪𝓱𝓪𝓶 𝓖𝓻𝓮𝓷𝓫𝓻𝓲𝓪𝓻

- Pai você prometeu que viria! - Nathan praticamente grita ao telefone.

- Eu sei, vamos conversar pessoalmente é melhor, venha até a minha casa. - Peço a ele com esperança.

- Eu não vou até São Paulo apenas para conversar com você, eu tenho coisas a fazer! - Ele ainda está gritando.

- A sua mãe já está aí? - Pergunto para desviar o assunto.

- Ela nunca saiu daqui. - Ele fala com amargura já em um tom mais baixo.

- Que bom então...

- Não tente me enrolar! O que essa cidade tem que ninguém quer vir para ela!? - Ele volta a gritar.

- Eu só não queria rever a sua mãe, mas por você eu vou. - Falo abatido mas não demonstro isto.

- Não se atreva a tentar alguma gracinha para não vir! Eu quero tudo perfeito... - Ele fala impaciente.

- Tá bom, tá bom.

- Tchau, estaremos esperando no aeroporto as 13:30. - Ele fala em um tom mais calmo.

- Até depois. - me despeço dele e desligo o telefone.

Suspiro vou ao meu quarto arrumar a minha mala.

A 6 anos atrás eu jurei nunca voltar aquela cidade e aqui estou eu arrumando minhas malas para fazer exatamente isso.

Eu digo que já superei o termino, pois eu realmente superei, só não sei se estou pronto para ver meu melhor amigo com a minha ex mulher de novo.

Acho que eu senti mais dor ao perder o meu melhor amigo do que ao perder uma mulher que me casei por obrigação.

Sim foi por obrigação, o que é estranho isso acontecer em pleno século 21 mas nossos pais nos obrigaram a nos casar para "manter o legado da família Donelson de sempre se casar com um Grenbriar" o que é uma merda.

Um casamento por obrigação não pode ser um casamento feliz, eu sabia disso mas eu aceitei, aceitei pois naquela época eu estava machucado e já não acreditava mas no amor. Clichê eu sei mas é a verdade. A minha mãe até tentou me convencer a não fazer isso mas eu fui um grande imbecil com ela.

A única coisa boa que saiu desse relacionamento foi o Nathan e o Caio.

Suspiro e ligo para o Fernando, ele é o meu assistente.

- Oi Fernando, essa semana eu vou tirar folga...

- Por quê? - Ele pergunta abismado afinal eu nunca tiro folga, se quer falto um dia de trabalho.

- Não é da sua conta. - Falo simples e desligo antes que ele possa responder algo.

Não gosto de outras pessoas entrando na minha vida e nem delas saberem algo sobre minha vida pessoal, eu deixo isso bem claro para todos.

Suspiro e chamo meu motorista para me levar ao Aeroporto, eu não estou com vontade de dirigir nesse trânsito infernal que é sempre em São Paulo.

Passo o caminho olhando pela janela e não demora para chegar ao Aeroporto.

Pego um voo de somente uma hora até Florianópolis onde o Nathan vai estar esperando e podemos ir para aquela merda de cidade que nem um Aeroportoto tem.

Eu poderia ter ido direto para a cidade mesmo assim no meu jatinho, mas o Nathan implorou para eu ir de avião pois ele já teria que ir busca a sogra dele que também vai chegar no mesmo horário que eu.

- Gostaria de algo para beber senhor? - A aeromoça pergunta quebrando o silêncio que estava no local, além de mim só a mais duas pessoas.

- Uma taça de vinho Concha y Toro. - Falo, eu vou precisar de bastante álcool para voltar aquela cidadezinha.

- Algo mais? - Ela pergunta docemente após trazer o meu vinho.

- Não. - Falo e começo a beber. Não posso beber tanto para chegar bêbado e ver meus filhos e conhecer a minha nora mas posso apreciar um pouco.

♠︎

- Pai! - Caio exclama quando me vê e logo vai me abraçar, Nathan vem logo atrás dele e também me abraça.

- Pai está é a minha noiva Bree e Bree este é meu pai Graham. - Nathan fala quando olho a mulher ao seu lado.

- É um prazer conhecê-la. - Falo e aperto a sua mão e solto um sorriso tentando ser acolhedor. Ela sorri também.

- É um prazer finalmente conhecê-lo. - Ela fala.

- Vamos então. - Falo já querendo sair desse lugar cheio de pessoas ao meu redor.

- A minha sogra ainda não chegou, estamos esperando ela. - Nathan fala nervoso.

- Ok. - Caio engata uma conversa aleatória para passar o tempo.

Uns 20 minutos depois a minha Nora se vira e corre para abraçar uma mulher.

Uma mulher que eu achava que nunca mais ia ver na vida.

Ela está diferente, não parece mas a menina de antes. Ela nem sequer sorri ao abraçar a filha, fria sem sentimentos, é como se só estivesse a carcaça do que um dia ela foi. Saio dos meus devaneios quando ela se aproxima de nós

ᴘᴏʀ ɴᴏssᴏs ғɪʟʜᴏsOnde histórias criam vida. Descubra agora