Quando Nayeon e Sana se conheceram, era uma tarde de domingo de clima meio estranho. Daquele tipo de tempo que não é nem quente ou frio o bastante, então ele fica em um meio-termo, alternando de temperatura. De acordo com a perspectiva, pode ser agradável ou não, porque isso te ajudaria com uma boa desculpa para não sair de casa ou justamente te atrapalharia com os bons planos para sair de casa.
Infelizmente (ou não), nem mesmo a possibilidade de uma chuva era um impedimento para quem planejou o que aconteceria naquela tarde. E isso só deixava Nayeon irritada, se perguntando como acabara ali, às dezessete horas e vinte e sete minutos, esperando pela amiga que nunca conseguia chegar no horário marcado.
Por quase meia hora ela estava sozinha, inquieta em um canto do estabelecimento. Até que apreciou o fato de ser uma cafeteria simpática o ambiente escolhido para passar pelo constrangimento que estava por vir. Não podia ser em qualquer outro dia da semana? questionava mentalmente.
Então, aquele dia em questão reunia duas coisas que ela detestava: domingos e climas instáveis. Tinha uma relação meio conturbada com o domingo em específico. Às vezes, imaginava que se os dias da semana fossem sentimentos, aquele seria apenas o puro suco da tristeza e desolação. Somando a melancolia com o fato de não curtir aquele clima, ela notou a irritação se intensificar.
Suspirava impaciente, um pouco audível demais, agradecida pela falta de gente muito próxima. Olhou pela janela e começou a deixar finalmente o nervosismo dar lugar ao invés de tentar mascarar o sentimento com a suposta irritação por atrasos, climas confusos e dias inocentes da semana.
Prestou mais atenção no local, as paredes eram claras, a decoração floral dava um ar ameno no prédio. Tudo era delicado e contrastava com as roupas escuras que tinha optado por vestir. Encarou as cadeiras vazias ao seu redor, cruzou os braços em cima da mesa, reparou no atendente limpando o balcão e nos poucos clientes mais próximos da porta de entrada. Ela escolheu uma mesa mais reservada a pedido de uma Son Chaeyoung empolgada ao telefone no dia anterior, não entendia a necessidade de privacidade, mas não contestou.
A mais nova estava insuportável para Nayeon dar conta naqueles tempos. Fazia pouco menos de dois meses que finalmente uma japonesa tímida tinha aceitado o convite de sua amiga para um lanche, após o expediente no Departamento de Artes. Chaeyoung estava apaixonada desde a primeira vez que colocou seus olhos na novata da tecnologia, que ajudava o setor em alguns projetos digitais para o museu da universidade. Levou meses para criar coragem - com muito incentivo de Nayeon - e finalmente chamar despretensiosamente a sua paixonite para sair.
Conheceria a tal de Myoui Mina pessoalmente naquela tarde, agora com o status oficial de namorada da sua melhor amiga. Antes disso, tinham trocado pequenas interações em postagens nas redes sociais, pois, apesar de ser rabugenta e reclamar da boiolice da mais nova apaixonada, queria ser amistosa com esse momento de felicidade para uma das poucas pessoas que importavam na sua vida. Estava muito feliz pela conquista da outra, porém era Nayeon que aguentava cada mini surto do desenvolver suave daquele relacionamento:
"Conversamos tanto, ela é tão legal e fofa. Me agradeceu pelo convite, disse que ainda se sente deslocada, apesar dos anos aqui."
"Ela me chamou para sair e advinha? No sábado, em um barzinho do Centro. Devo considerar um encontro?"
"Ela segurou na minha mão."
"Vamos sair de novo."
"Falei que gosto dela desde a primeira vez que nos vimos. Ela respondeu que planejava centenas formas de flertar comigo desde a primeira semana."
"Nos beijamos, eu morreria feliz."
Nayeon se sentia a espectadora de uma série adolescente, mas também admitia a felicidade. Apesar de acreditar ter fechado aquela porta em sua vida, era reconfortante ver sua pequena menina motivada pela paixão daquele jeitinho. Foi justo por querer saber mais das intenções da tal Mina, que aceitou ir até ali. Só estava um pouco apreensiva, pois não seriam apenas as três no encontro. Informaram isso a ela apenas um dia antes, da presença de uma quarta pessoa: a melhor amiga da namorada da sua melhor amiga.
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Uma em um milhão
FanfictionA vida é baseada em um fluxo incontrolável de acontecimentos pelos quais não temos domínio. A verdade é: podemos muito bem planejar toda uma vida, mas o decorrer das coisas não respeita o roteiro que você traçou. Então, viver pode ser um puro caos...