Das coisas que importam

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— Você se tornou a pessoa mais chata do mundo, está ficando pior que a Myoui.

Ao ouvir a investida direcionada a sua melhor amiga nem mesmo presente, Sana ficou tensa com os risinhos de apoio que ecoaram. O estresse de tentar convencer com cautela que precisava ir embora já dava lugar à raiva.

Não era a primeira vez que ouvia algum tipo de insulto disfarçado de brincadeira nada inofensiva. Começou a se culpar por nunca ter dado uma boa resposta ou um basta na inconveniência daquelas pessoas. Mina era sua preciosa amiga que apenas preferia coisas mais calmas do que toda aquela agitação sem fim.

Encarou séria o rapaz ao seu lado, que tinha um risinho pretensioso no rosto e estava muito próximo. Os outros integrantes da mesa do bar apenas sorriam de maneira idiota ainda em resposta a menção sobre a japonesa reservada que nunca aceitava os convites para as saídas do grupo. Isso irritava os necessitados por bajulação.

— Você não a conhece, não fale dela, Siwoo.

Respondeu grosseira, logo se afastando. Gerou mais reações debochadas nos presentes por conta de toda a severidade não comum a ela. A paciência estava no limite e citar Mina de maneira maldosa era a gota d'água.

Se pudesse definir sua existência em um único sentimento naquele exato momento, seria o arrependimento. Não deveria ter aceitado aquele convite no final da aula. Mas Akari, a única colega japonesa da turma, insistiu a pedido de um Siwoo ainda esperançoso sobre um romance com possibilidades de acontecer apenas na sua cabeça de moleque arrogante.

Prometeu se afastar totalmente daquelas pessoas, restringiria o contato apenas às coisas do curso. Sentiu o coração aliviar um pouquinho ao lembrar da data de formatura bem próxima.

Quando Siwoo, com um sorriso de escárnio estampado no rosto, foi novamente ao seu encontro empenhado para desfazer a distância imposta, Sana apenas levantou com seus pertences, deixando com Akari sua parte no consumo. A colega a encarava com um sorriso sem graça no rosto, em uma tentativa de pedir desculpas pelo comportamento idiota do amigo. Lamentou por saber que a conterrânea nutria uma paixão unilateral por aquele cara e isso só a machucaria.

— Vou indo, até segunda, galera. — Apesar de chateada, tirou a carranca do rosto e acenou para o grupo, se movimentando para fora do bar. Com rapidez, não deu tempo para que ninguém contestasse diretamente sua saída e nem mesmo se importou com o falso aborrecimento expressado pelos murmurinhos que deixou para trás.

Já um pouco longe da fachada do bar, procurava suas chaves na bolsa enquanto andava pela calçada, desejando mais do que tudo sair daquele bairro e chegar no apartamento da namorada para descansar e se divertir um pouco. Passou boa parte do tempo fora recebendo fotos enviadas com legendas dramáticas para expressar o quanto estava perdendo da diversão das meninas reunidas distantes dali.

Pensou o quanto era penoso aceitar convites sem vontade. Sua preferência de companhia mudara totalmente em pouco tempo. Até mesmo Mina passou a socializar mais com o passar dos meses.

— Ei, calma. Deixo você. — Um Siwoo esbaforido a assustou para chamar atenção. Não percebeu que ele a seguia apressado pela calçada. Deu tempo apenas de afastar seu braço antes que o aperto do rapaz fosse concretizado. O impedimento brusco do toque o deixou levemente incomodado. Um homem mimado que não aceitava contestações.

A rua estava um pouco deserta e o clima frio não ajudava em nada naquela sexta-feira de aborrecimentos, Sana nem mesmo bebera algo alcoólico para esquentar seu corpo. A impaciência já voltava à superfície, sua irritação estava em um ponto irreversível. Dificilmente criava ranço de alguém, mas, definitivamente, aquele indivíduo estaria na sua lista eterna de pessoas desagradáveis.

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⏰ Última atualização: Jun 24 ⏰

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