ONZE MINUTOS ( Camren- Lauren Intersexual)

Capítulo 1 - Inicio de Tudo

"Embora meu objetivo seja compreender o amor, e embora sofra por causa das pessoas a quem entreguei meu coração, vejo que aqueles que me tocaram a alma não conseguiram despertar meu corpo, e aqueles que tocaram meu corpo não conseguiram atingir minha alma."

Era uma vez uma prostituta chamada Camila.

Um momento. "Era uma vez" é a melhor maneira de começar uma história

para crianças, enquanto "prostituta" é assunto para adultos, sendo assim como posso escrever um livro com esta aparente contradição inicial?

Mas como a cada instante de nossas vidas temos um pé no conto de fadas e o outro no abismo, vamos manter este início:

Era uma vez uma prostituta chamada Camila Cabello.

Como todas as prostitutas, tinha nascido virgem e inocente, e durante a adolescência sonhava em encontrar o homem de sua vida (rico, bonito,
inteligente), casar (vestida de noiva), ter dois filhos (que seriam famosos quando
crescessem) e uma linda casa (com vista para o mar). Seu pai trabalhava como vendedor ambulante, sua mãe era costureira, sua cidade no interior da Bahia tinha apenas um cinema, uma boate e uma agência bancária, e
por causa disso Camila não deixava de esperar o dia em que seu príncipe
encantado chegaria sem aviso, arrebataria seu coração, e partiria com ela para conquistar o mundo.

(Enquanto o príncipe encantado não aparecia, só lhe restava sonhar.)

Camila era devota à Virgem Maria e rezava toda noite, pedindo a ela que algum dia a tirasse daquele lugar que para Camila, não passava de um fim de mundo. Nada de importante acontecia ali e quanto mais ela rezava, mais presa ficava aquele lugar. Isso fez com que Camila começasse a achar que a Virgem era uma santa que habitava em um céu distante, que  não ligava para o que as crianças pediam.

Camila cresceu, acompanhando as novelas na TV, lendo na escola suas primeiras revistas eróticas, e passou a escrever um diário falando da sua vida monótona e da vontade que tinha de conhecer aquilo que lhe ensinavam - oceano, neve, homens de turbante,
mulheres elegantes e cobertas de jóias. Mas como ninguém pode viver de
vontades impossíveis principalmente quando a mãe é costureira e o pai não
para em casa , logo entendeu que precisava prestar mais atenção ao que se
passava a sua volta. Estudava para vencer, ao mesmo tempo em que procurava alguém com quem pudesse compartilhar seus sonhos e aventuras.

Quando completou quinze anos, apaixonou-se por um rapaz que conheceu em uma Procissão na Semana Santa.  Notou que o amor estava mais associado à ausência do que à presença da pessoa. Um dia Camila foi caminhar com o rapaz por um campo nos arredores da cidade. Conversavam um pouco, Camila perguntou se ele não tinha vontade de viajar, mas em vez de responder, ele a agarrou em seus braços e lhe deu um beijo.

O primeiro beijo de sua vida! Como sonhou com aquele momento! E a
paisagem era especial - as garças voando, o pôr do-sol, a região semi-árida com
sua beleza agressiva, o som de uma música ao longe. Camila fingiu reagir contra o avanço, mas logo o abraçou e repetiu aquilo que viu tantas vezes no cinema, nas revistas e na TV: esfregou com alguma violência os seus lábios nos dele, mexendo a cabeça de um lado para o outro, em um movimento meio ritmado, meio descontrolado. Sentiu que, de vez em quando, a língua do rapaz tocava os seus dentes, e achou aquilo delicioso.

Mas ele parou de beijá-la de repente.

- Você não quer me beijar Camila? ( ele questionou)

Ela não respondeu nada, ele então apenas sorriu e ali Camila descobriu que algo estava muito errado, mas teve medo de perguntar. Ele então a pegou pelas mãos e caminharam até a cidade, conversando sobre outros assuntos, como se nada tivesse acontecido.