Eleanor não estava nem um pouco preocupada com a recém notícia dada pelo pai.
Talvez Isabel possuísse razão e, realmente, o guarda pessoal atrapalharia Eleanor em sua temporada. Mas talvez não. O homem em questão poderia ser apenas um sujeito mal-encarado, carrancudo e possuidor de mau hálito.
A jovem riu consigo mesma, visualizando a cômica aparência do guarda pessoal criado por sua mente zombeteira. O rosto dele era exatamente como uma ameixa seca: desidratado e enrugado. Os cabelos escuros que, apesar de serem longos, eram pouco agradáveis por conta da oleosidade excessiva. A descrição mental feita por Eleanor avançou rapidamente, de modo que conseguiu acrescentar um nariz pontudo e uma verruga facial ao homem imaginário.
Todos tem um nome. O nome de alguém é o cartão de visitas. — pensou ela.
Achava que nomear era uma tarefa difícil, já que a mínima confusão momentânea poderia causar um enorme estrago, deixando a “coisa” em questão com um nome que nada tem a ver com sua verdadeira essência.
— Mortimer. — sussurrou Eleanor, experimentando a movimentação estranha em seus lábios enquanto o nome se desfazia neles.
Encaixou.
— Quem é esse? — Elizabeth questionou, pairando ao lado da irmã no canto do corredor.
Um brilho emanava da garota, tão resplandecente que quase cegou Eleanor. Os fios dourados de Elizabeth caíam sob o ombro direito, perfeitamente envoltos em um único cacho espesso. No topo, uma pequena coroa de flores discretas estava encarregada de dar o toque especial.
— Ora, ninguém. Não seja tão intrometida, apenas estou testando o nome.
A caçula suspirou, ajeitando o vestido de seda levemente roxo.
— De novo isso? Nell, não entendo como consegue estar obcecada com nomes enquanto está tão linda como jamais vi.
Eleanor sorriu para a irmã como agradecimento, retribuindo o elogio com uma fala semelhante. Sabia que precisava dizer algo a mais, mas considerava que todo o crédito deveria ser dado à camareira Jeanne por ter conseguido domar seus fios teimosos.
Mal reconheceu-se quando o trabalho foi finalizado e finalmente visualizou os resultados: Seu cabelo estava apresentado em um coque cheio de cachos, com uma tiara de ouro que reluzia sob fios perfeitamente emoldurados em seu rosto. O vestido era branco — representando a inocência e pureza — com relevos dourados presentes desde às mangas bufantes até os pés.
— Logo serei anunciada. — pontuou Eleanor, dividida entre o desespero e o pavor, se é que fossem coisas diferentes. — Espero que eu não tropece em meus próprios pés ao descer a escadaria.
— Você? É claro que não, treinou para este momento a vida toda! — A caçula exclamou, assumindo uma expressão neutra ao tocar o colar de safiras brancas que pesava no pescoço de Eleanor. — Veja, não quero lhe apavorar, mas se ela a deixou usar isso, as expectativas são altas.
— Eu sei, Lizzie.
Continuaram caminhando em silêncio ao longo do corredor do quarto andar. Alguns criados foram surgindo com passinhos rápidos, cumprimentando-as cordialmente e voltando aos seus afazeres, já que a maioria era encarregada dos comes e bebes.
Não demorou muito para que Elizabeth fosse embora, deixando Eleanor sozinha próxima à escada. Ainda sim, estava perfeitamente escondida da alegre e barulhenta multidão no piso inferior.
Queria esconder-se a noite inteira, mesmo que aquele fosse seu baile. Poderia procurar abrigo na melodia romântica tocada pelos músicos, onde cada nota parecia cada vez mais convidá-la a retirar-se daquele recinto, apesar da beleza presente.
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Onde Nasce o Pecado
Ficción históricaNa nobreza, não existe amor. Sendo a filha mais velha de uma das família mais influentes da Inglaterra no século XIX, Eleanor cresceu já ciente de que a racionalidade e frieza são características essenciais daqueles que desejam a ascensão. Por isso...