Único - 'Nancy não se arrependeu'

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Nancy queria retribuir os olhares de Robin, mas temia.

A Wheeler estava acostumada a receber os mais diversos tipos de olhares naqueles corredores do colégio. Alguns eram penosos, por tudo que havia ocorrido desde que Barbara Holland faleceu. Outros eram julgadores, e Nancy afirma sem titubear que o motivo deles era por conta do seu antigo relacionamento (conturbado) com Steve. Mas haviam outros olhares que dava dó de ignorar, que eram os olhares de admiração e paixão que alguns homens lhe direcionavam.

Não que a Wheeler ligasse pra eles. Homens são assim mesmo, recebia esse tipo de encarada desde o jardim de infância. Se sentia meio desconfortável? Sim, sentia, mas não tinha como interferir nisso. Se ela ignorasse, uma hora parava.

E, bem, essa técnica realmente dava resultado. Poucos meninos insistiam em secá-la com os olhos até receber a atenção da garota.

Mas pelo jeito, sua técnica não tinha efeito nas garotas.

Era recente, mas Nancy via/sentia aquelas encaradas tímidas e curtas de uma menina um tanto quanto reservada da sua sala. Robin (pelo menos de seu nome ela sabia), era falante quando estava dialogando com alguém do seu interesse, mas era extremamente quieta durante 98% do tempo dentro do colégio (sim, 98%. Nem é exagero).

Ela achava, lógico, que a  tingida queria somente sua amizade. Era o óbvio a se pensar, visto que ela vivia andando sozinha. Mas os dias foram se passando, as encaradas foram se intensificando, e a Wheeler não havia reparado num detalhezinho dessa história: ela nunca se incomodou de fato com os olhos de Robin sobre si.

Talvez por que ela não secava seu corpo propriamente dito, ou porque era a primeira vez que flagrava alguém do mesmo sexo que ela fazendo aquilo, mas ela nunca sentiu necessidade de impedí-la.

E chegou num ponto em que era impossível para ela fingir que não estava percebendo aquilo.

Chegou num ponto em que ela lutava contra o instinto de olhar para Robin também, de ver a garota com mais atenção, de chamá-la para conversar, de entender o que aquela garota alta tinha de diferente para chamar tanto a sua atenção.

E esse dia chegou.

No mesmo roteiro de sempre: Nancy chega, arruma seu vestido de cor clara no corpo, passa a mão nos cabelos presos, anda à passos alinhados até seu armário, pega os livros necessários e, assim que o fecha, olha na direção em que sempre há uma Robin Buckley distraidamente olhando para si.

Da posição em que a garota estava, tudo o que ela conseguia ver de Nancy eram suas costas. E o choque parecia ter sido intenso, pois a acastanhada se encolheu por fração de segundos, arregalou os olhos e virou rapidamente a cabeça para a direção de seu armário (vale ressaltar que ela bateu o ombro na porta aberta de seu armário de metal — e que aquilo havia doído —, mas ela nem ligava).

Nancy olhou a cena com um misto de divertimento e curiosidade. Normalmente, quando retribuía olhares de homens, a reação dos mesmos eram sempre as mesmas: uma piscadela, um sorriso de canto, um chamado gestual para Nancy ir até eles... haviam alguns mais tímidos, sim, mas naquele ponto?

Sobre querer, mas temer| RonancyOnde histórias criam vida. Descubra agora