• A corda sempre arrebenta do lado mais fraco •

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Arte:

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Arte:

"O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós."

Jean Paul Sartre

1.0

Daniel A.

O som da máquina de lavar enxaguando as peças de roupa, preenchia o interior de meus ouvidos. Eu me concentrei na pequena claraboia, observando os tecidos coloridos se mesclando semelhante a um quadro exposto numa galeria. Uma obra que seria leiloada por milhões de dólares, mesmo que não fizesse sentido, como a maioria das obras contemporâneas. Nem sendo um grande amante da Arte, eu conseguia compreender o que levava a humanidade a apreciar uma banana presa com fita adesiva na parede¹, após anos contemplando obras realmente significativas. Poucos artistas se salvam, usando a arte para criticar sua comercialização super faturada e sensibilizar as pessoas, como Banksy² por exemplo.

- Daniel? - a voz da minha mãe me fez erguer os globos na sua direção. Ela se assentava abaixo do batente da porta da lavanderia, vestindo um pijama de cetim escuro. Seus fios cacheados estavam presos num coque alto. - O que está fazendo aqui?

- Eu lavei minha roupa. - inclusive aquela peça amaldiçoada com o nome e cheiro de Tierre. - Estou esperando para colocar as peças no varal.

- Não temos varal. Você sabe que a máquina lava e seca, né? - ela se aproximou e apontou no painel eletrônico os botões específicos daquela função. Eu me mantive sentado de pernas cruzadas me sentindo um idiota por não saber o básico. - São seis horas da manhã. Está tudo bem?

- Não, eu perdi o controle da minha vida. - admiti tentando ser engraçado enquanto encarava as próprias palmas. Não percebi a água salgada escorrendo por minhas bochechas até que minha mãe se jogou no chão e me abraçou. Ela tomou meu rosto entre seus dedos e limpou as lágrimas com a ponta deles, igual fazia comigo na infância.

- O que houve querido? É por causa de Cadu? - a seriedade em sua voz, demonstrava que algumas horas de sono acabavam com seu estado de embriaguez. As suas íris negras e feições suaves me dando total atenção, arrancaram tudo que reprimi em meu peito nos últimos dias. - Você pode nos contar tudo... - Eu agarrei seu torso antes de afundar minha face no colo de seu peito. No fundo me sentia mal, absolutamente fraco e despedaçado. - Eu e seu pai sempre estaremos aqui por você.

Ao ouvir aquilo eu cai num choro silencioso e profundo. Eu deveria revelar tudo a eles, porque eram os únicos que realmente me amavam e se importavam comigo. Só que esse também era o maior empecilho. Se eu citasse a merda que fiz no Jacarézinho e a bola de neve que desenvolveu, soterrando meu relacionamento com Cadu e minha dignidade, eu não sei como meus pais reagiriam. E levando em consideração a influência do meu pai no poder legislativo e judiciário³, eu imaginava o pior cenário possível. Eu não queria que inocentes pagassem pelo meu erro e só de lembrar do sorriso azulado de Caixa D'água, nem todos os criminosos mereciam uma punição. Apertei minha mãe entre meus braços tentando amenizar a aflição concentrada em meu âmago. Eu não conseguia abrir a boca para respondê-la nem com mentiras. Se tentasse explicar algo, a intensidade das lágrimas me atrapalharia e eu pareceria, ainda mais, uma criança.

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