Bônus

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   Doyoung olhava as folhas voarem do outro lado do vidro. Não era glamouroso. Não era lindo. Não era calmo. Apenas folhas sendo arrancadas dos galhos magros e retorcidos de uma árvore velha do outro lado da rua. O vento as levando para longe do céu. As arrancando para voarem por um tempo. Em uma viagem bruta, mas que não duraria muito, logo elas estariam repousando no chão. Sendo pisadas pelos os que elas outrora protegeram.

   O café que o coreano tomava estava quase frio. Ele olhava a ventania a muito tempo. A mais tempo do que deveria. Tomando consciência disso, se afastou do vidro. Iria para algum lugar mais calmo, mas não sem antes cobrir a cena lá fora com o tecido pesado da cortina. Tocou o tecido com as pontas dos dedos, temendo se queimar ao tocar tal coisa.

   Suspirou.

   Teria que trocar as cortinas.

   Andou devagar até a cozinha. Aproveitando para olhar a casa no processo, ela estava tão... Vazia. Os móveis não faltavam. Tinha mais objetos de enfeite que o normal. As cores muito vivas, fazendo um contraste cômico com seu estado emocional. Sua vontade era jogar o resto do café, frio e amargo, na parede coberta pelo rosa pastel. Manchar a cor favorita dele com seus sentimentos ruins. Seria justo, era culpa dele de qualquer jeito.

   Quando chegou à cozinha, quase correu para a garrafa de café, sem querer olhou o relógio. Se permitiu sorrir, imaginando o desgraçado saindo do avião. Levando nada mais que metade do guarda roupa e todo o coração do Kim. Esperava sentir a cada segundo a distância aumentando, suas forças se esvaindo. Realmente esperava. Aparentemente, já sentira tudo quando ele saiu horas atrás com a mala lotada e a porcaria da xícara favorita do Kim.

   Ela era tão perfeita. A cor. O formato. A grossura. O tamanho. Os detalhes... O fato de ter ganhado de Jaehyun anos antes, no natal. Talvez assim fosse melhor. Doyoung poderia fingir que ainda amaria a xícara se ele não a tivesse raptado ou até imaginar os momentos incríveis que passaria com ela. Poderia fingir que não a odiaria, que não a doaria o mais rápido possível. Nem se daria o trabalho de jogar em uma das várias paredes que o mais novo escolheu a cor. Não se daria o trabalho de limpar os cacos no chão, já tinha que arrumar muita coisa.

   Começando por si mesmo.

   Nem dormir no quarto mais distante do que outrora fora deles, por semanas, o ajudou. Ver ele saindo, levando todas as coisas que precisava, e saber que Doyoung não estava incluso.... Doeu muito. Lembrar das coisas que passaram, doía. Doía mais ainda pensar nas que prometeram passar juntos.

   Pelo menos a clínica para idosos seria mais calma sem Jaehyun.

   Enquanto enchia uma caneca feia de café quente, pela décima vez. Se permitiu pensar onde errara. No dia que tentaram transar de pé e tudo deu errado? Quando não conseguiu dar o melhor conselho para o namorado? Quando disse que não gostaria de casar tão cedo? Quando falou mal da série favorita do maior? Quando despreocupadamente foi chamar Jaehyun e o amigo dele para jantar e acabou ouvindo que o Jung não mais o amava?

   Talvez tenha sido quando ignorou isso e continuou agindo normalmente.

   Ou quando não chorou quando o maior lhe deu a grande notícia.

   Se Jaehyun parou de o amar antes de decidir ir para os Estados Unidos ou antes disso, era uma grande dúvida. Se sentia grato pelo Jung ter omitido a parte do fim do amor, só contou que iria seguir seu sonho de ser um modelo famoso e que lá não tinha espaço para o Kim. Se sentia irritado por não saber quando e como tudo isso virou uma mentira. Mesmo quando dormia separado do Jung, secretamente esperando que ele entrasse e o abraçasse por trás. Que murmurasse que nunca iria embora, que sentia muito, que ajudaria Doyoung a colar os pedacinhos de seu coração.

The way he likes it 『 dojae 』Onde histórias criam vida. Descubra agora