Cochilo

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“Ela gosta de você, idiota, não é óbvio?"


Confesso que essa pequena frase não saiu da minha cabeça por um tempo. Okay, talvez muito tempo, ao ponto de, mesmo estando em casa e jogado no sofá, a voz do loiro ainda soava em minha mente, lembrando-me que havia uma menina gostando de mim. Nem mesmo conseguia me distrair jogando ou lendo um pouco, tudo sempre voltava a Hinata e suas bochechas extremamente vermelhas.

Nunca havia me apaixonado por ninguém e, no fundo, odiava admitir isso. A Hyuuga provavelmente seria mais uma que eu rejeitaria, mas não queria decepcioná-la depois de ter sido tão gentil. Ela era linda, de fato, além de ser bem inteligente e interessante nos mais diversos sentidos, mas, droga, por que ela não podia ser apenas minha amiga? Facilitaria tanto e eu não estaria aqui debatendo comigo mesmo.

— Cheguei. — Pude ouvir a voz de meu irmão mais fraca, por causa do volume da música que tocava em meus fones. — Sasuke?

Ele literalmente arrancou um dos lados do fone, buscando minha atenção, mas tudo que recebeu foi um olhar acusatório de minha parte. Itachi tinha uma confusão evidente nos orbes, mas contentou-se apenas em sorrir e se dirigiu à cozinha.

Se ele queria me perguntar algo, não o fez. Era sempre assim e estava tudo bem, eu acho. Meu irmão nunca dava o primeiro passo, apenas fazia uma das minhas comidas preferidas como forma de me animar.

No fundo, ele sabia que eu era excluído na escola e nunca me interrogava, apenas ficava ali, com sua feição mais amigável e com sua calmaria invejável.

— Passei no mercado e comprei alguns tomates, pode me ajudar a preparar o jantar? — ele perguntou, virando-se para me encarar e, vendo que eu assenti, voltou a sua concentração para os outros ingredientes na bancada. — Lave as mãos!

No final das contas, qualquer que fosse minha escolha — conversar ou não com a Hinata amanhã —, pouco importava. Eu queria apenas ficar e aproveitar naquele momento com meu irmão.






[...]






A manhã estava muito bonita, além de extremamente fria para o meu gosto. O café da manhã seguiu bem monótono, já que Itachi havia saído bem mais cedo para o trabalho e eu estava sozinho, contentando-me com um café preto e um gato derrubando os livros da mesinha de centro.

Meu humor estava tão bom naquele dia que estava provando café. Café preto sem açúcar. Tens noção disso?

Teria que pegar um metrô até aquela maldita escola e, sinceramente, minha vontade e animação naquele momento tornaram-se nulas pelo simples fato de: teria aula de geografia seguida de um tempo livre, onde aproveitaria para me esgueirar pelo pátio. O dia não seria nem um pouco produtivo, apenas copiaria a matéria e olharia o professor mexer no celular.

Havia decidido não conversar com a morena, depois de longos e torturantes minutos ponderando no meio da madrugada. No fim das contas, ela que deveria dar o primeiro passo e eu não poderia forçar nada, nem nenhum sentimento por ela. Seria a melhor coisa a se fazer: dar tempo para ela confessar ou decidir se, ao me conhecer melhor, ainda iria gostar de mim.

Agora, eu vivia o pior momento da minha vida: estava começando a pensar como meu irmão.

Enquanto caminhava pelas ruas com pouco movimento até o metrô, comecei a imaginar diversas cenas de uma possível declaração de Hinata. Talvez ela me dê chocolates, ou uma carta, e saia correndo pelos corredores, isolando-se na biblioteca ou buscando o conforto com suas amigas, como nos filmes.

Por que raios estava pensando isso? Não sei, talvez curiosidade ou algo do tipo.

Era tudo muito novo; pensar que alguém estava realmente gostando de um garoto tachado das piores coisas era simplesmente inacreditável. Eu era o sombrio de quase toda a escola, ninguém nunca havia conversado comigo, nem mesmo para os trabalhos em grupo e, sem aviso prévio, ela apareceu.

Lembrar dos acontecimentos de ontem me fez sorrir. O metrô estava vazio, então eu poderia rir sem me importar muito, o que era um grande alívio. Em apenas um dia eu havia conhecido algumas pessoas, ou melhor, conversado com elas — e gostado disso. Havia feito, também, uma amiga e descoberto que ela gostava de mim. Que irônico e avançado.

— Sasuke? — uma voz feminina me chamou, cutucando-me no ombro. — Bom dia.

Quando abri os olhos, encarei seus orbes perolados e o leve rubor que ela possuía nas bochechas. O destino definitivamente estava contra mim.

Céus, qual era a probabilidade de me encontrar com ela?

— Bom dia, Hinata — eu disse, vendo-a se sentar ao meu lado.

— Não sabia que pegava o metrô — ela comentou rindo. — Nunca o encontrei aqui.

Hm, meu irmão não pôde me dar carona hoje, então tudo que me restou foi o metrô — disse, dando de ombros. — Achei que seu pai te levava de carro também.

— Ele costuma trabalhar à tarde, então não acorda tão cedo. E, bom, eu gosto mais do metrô. É mais silencioso que meu pai e minha irmã.

Conversamos um pouco depois disso, mas logo o silêncio chegou e isso não me incomodou nem um pouco. Era uma situação estranha e eu não me importava em ficar calado até chegar a próxima estação.

Quando senti um peso me atingir no ombro, quase soltei um belo e audível: “porra", pelo susto, mas o ressonar baixinho de Hinata me fez gelar e travar. Ela estava tão adormecida e confortável que nem ousei me mexer, apenas ajeitei seu cabelo, colocando-o atrás da orelha para que não ficasse no rosto. 

— O dia vai ser bem complicado. — Suspirei.

Relaxando um pouco, me permiti fechar os olhos também e me apoiar em sua cabeça.

Não sabia como seriam os próximos dias, muito menos como olharia para ela com o passar do tempo, sabendo sobre seu segredinho, mas naquele momento, queria ignorar que tinha problemas de um adolescente no ensino médio e tirei um cochilo.


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⏰ Última atualização: Jun 16, 2022 ⏰

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10 motivos para odiar o ensino médioOnde histórias criam vida. Descubra agora