Capítulo 1

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Porsche estava tendo um ótimo dia, na medida do possível. A maioria dos seus dias eram ótimos, na verdade, porque ele sempre fazia as mesmas coisas.

Ele tinha uma pequena estante de livros com 17 histórias diferentes. Tinta para pintar o quanto quisesse, violão e flauta. Tinha até lápis para desenhar, coisa que ele estava tentando aprender porque ele era simplesmente péssimo nisso. Ele se perguntava se era normal; saber pintar, mas não desenhar.

Tinha também um local para exercícios, com locais para fazer suspensão, pesos para malhar os membros, equipamentos pequenos que seu pai disse ser importante para saúde.

O que ele não tinha era algo novo, uma experiência nova. Já não tinha quase nenhum espaço para pintar em sua torre, logo teria que pintar tudo de uma só cor e pintar tudo do inicio novamente. Suas paredes estavam pintadas para todos os lados. Ás vezes ele se sentava no parapeito da janela e pintava os paralelepípedos ao redor dela.

Tudo o que ele queria era sair e ver o mar. Queria ver uma das bebidas que tinha lido em seu livro favorito, aquela em que tinha fogo em cima do líquido. Beber enquanto via o mar. O mar deve ser lindo, ele só tinha ouvido descrições, nunca uma imagem.

Deitado de bruços em sua cama, perto do teto do quarto, Porsche se balançava de um lado para o outro com o pé.

Nunca poderia sair de lá, no entanto. O pai tinha deixado claro que um grupo de homens malignos o queria para atingi-lo. Porsche não podia permitir que o usassem para magoar seu pai. Ele tinha lido tudo sobre o sequestro de familiares que seu pai tinha trazido.

"Você nunca vai poder sair daqui, Porsche. Não é seguro, você não saberia se defender. Não me peça nunca mais para deixar a torre, entendeu?"

Ainda hoje, mesmo cinco anos depois de ter ouvido aquilo, ainda doía. Ele tinha nutrido por anos a ideia de que seria livre aos dezoito, desde que seu pai comentou que saiu de casa nessa idade. Pensou que poderia fazer o mesmo, mas aparentemente o mundo tinha mudado desde aquele tempo. Tinham gangues para todos os lados e a maioria das pessoas passava a vida sem sair de casa.

Iria morrer ali, sem ver nada nem ninguém de diferente.

Seus devaneios deprimidos foram interrompidos por um grito de alegria. Porsche olhou para baixo rapidamente, pronto para ver o pai entrando na clareira. Animou-se, só fazia dois dias desde a última vez que ele o viu – ele não queria ter que esperar mais oito dias para conversar com alguém novamente.

Mas o que viu foi um desconhecido de camisa branca suja de sangue enfiando o rosto dentro do rio metros abaixo.

Um intruso!

Porsche saltou da rede, segurando-se no pano para não cair direto no chão e machucar as pernas. Correu para perto da janela, olhando por um buraco entre os paralelepípedos para ver melhor.

Um homem, assim como ele. Não podia ver bem porque estava muito distante, mas tinha certeza que ele tinha sobrancelhas grossas.

Quase saltou de susto quando o desconhecido olhou em sua direção, mas se lembrou que estava escondido.

"Você não saberia se defender..."

Era isso! Ele sorriu, batendo seu punho fechado em sua mão aberta. Se aquele intruso entrasse em sua torre, Porsche só tinha que capturá-lo e esperar para mostrar ao seu pai que sim, ele podia se defender. Que não era mais uma criança.

Correu até a cozinha, procurando o que usar para se defender. Uma faca? Não, ele não achava que conseguiria matar o estranho. Sua cabeça girou em diversas direções enquanto ele tentava decidir o que escolher.

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⏰ Última atualização: Jun 15, 2022 ⏰

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