capítulo 01

321 36 355
                                    

Natállia Martins.

E aqui estava eu mais um dia encolhida no chão chorando, depois de sofrer mais uma agressão pelo meu próprio marido.

Eu não entendia e acho que nunca vou entender o porquê dessa mudança repentina. O Erick era tão carinhoso comigo, tão amoroso, tão diferente..

Lembro sempre como se fosse hoje, da primeira vez que os nossos olhares se encontraram, a sensação boa que percorreu pelo meu corpo era inexplicável!

Mas, como tudo tem uma parte boa e ruim, comigo não seria diferente. A vida que ele levava era diferente da minha, era diferente da que eu planejava pro meu futuro.

Eu sempre fui na minha, visionária. Nunca quis me envolver com nenhum homem do morro, eu sempre soube que eles só tinham apenas dois destinos. Cadeia ou caixão.

Então, todas as vezes que eu estava em um lugar que o Erick também estava eu virava o rosto, fingia que ele nem estava no mesmo ambiente.

Mas teve um dia que eu fui no beco fazer xixi, minhas amigas todas estavam acompanhadas, mas como eu disse, preferia ficar só do que me envolver com qualquer homem do morro.

Eu fui saindo do beco logo depois que terminei e dei de cara com o Rk, ele estava me esperando, ele já foi me agarrando e nós ficamos. Me deixei ser levada pelo momento mesmo, por toda aquela adrenalina que eu dizia ser boa.

Eu era muito nova, tinha uns 17 anos, e ele 30. Nunca tive minha mãe nem meu pai do meu lado, na verdade meu pai eu não faço ideia de quem seja. E depois de tanto tempo sendo bem sincera, não faço nem questão de saber.

Já a minha mãe, isso foi uma escolha totalmente dela, me largar, me destratar. A Yone mora á dois becos da minha casa, pertinho, mas quando me vê na rua faz de conta que nem sabe quem eu sou.

E ela sempre foi assim, desde muito antes de eu me envolver com o Erick. Eu morava sozinha desde os meus 15, sempre foi eu pra tudo, trabalhando desde cedo pra me sustentar, colocar comida dentro de casa, minha vida nunca foi fácil!

Correria pura, sempre batalhei pra ter tudo que eu tenho hoje. Todos os móveis dessa casa foi eu que comprei, com meu próprio dinheiro suado, nunca encontrei nada de mão beijada.

Meu irmão é a minha paixão, 1 ano mais velho que eu, mas parece até que eu que sou a mais velha. Nunca vi um garoto pra me dar tanta dor de cabeça, mas em meio á todo esse caos, ele é a minha fortaleza, protejo de todas as formas que eu posso, às vezes até quando eu não posso!

O Lucas não sabe o que eu passo dentro de casa, e eu nunca quero que ele saiba. Ele já é revoltado o suficiente. Ele nunca apoiou a nossa mãe em ter me colocado pra fora de casa, e até por isso ele é um pouco revoltado com ela, mas ela mesmo assim trata ele como um bebê, como a coisa mais preciosa desse mundo..

Obviamente, todas as vezes que ele vem aqui em casa peço que ele me avise antes. Assim dá tempo de eu trocar de roupas e colocar umas maiores, pra que ele não veja as minhas marcas e feridas..

O Lucas entrou no tráfico muito cedo, um tempo depois da minha mãe me colocar pra fora de casa. Eu sempre oro, e também peço á ele próprio que saia dessa vida. Ele sempre me diz que vai sair, mas nunca sai.

Mesmo eu sabendo que ele fica apenas me enrolando eu nunca perco às esperanças que um dia ele saia dessa vida maldita.

Apenas quem é da família e se importa de verdade sabe, é muito ruim a sensação que você fica dentro de casa quando seu irmão, seu pai, seu primo, qualquer pessoa da sua família sai pra trocar tiro com policiais ou facção rival.

Obsessão.Onde histórias criam vida. Descubra agora