Enfim o martírio ou dia letivo, como vocês preferem chamar, acabou e eu enfim estou indo para casa. Passar pelo pátio da Hide High School para mim é uma experiência antropológica, todas aquelas garotas bem arrumadas, algumas até muito maquiadas para o horário, os garotos do time e todos aqueles músculos que sufocam seus cérebros, os góticos e todo aquele lápis de olho, os nerds e suas roupas desleixadas ou muito arrumadas, má só grupo que eu mais gostava de observar ao sair, era o grupo dos aspirantes a hipsters, com toda aquela pose pareciam tão esnobes que as pessoas dos outros grupos tinham medo de se aproximar, e por fim os excluído e os estrangeiros, bem esses não andavam em grupo, eram uma classe desunida e andavam sozinhos por aí eu sou um deles. Eu não ligo de estar só, já tive amigos mas o tempo muda as pessoas e eu não sou boa em preservar amizades. Não me identifico com nenhum dos grupos que eu observo, e acho que eles também não se identificam comigo pois estou nessa cidade desde a pré escola e o máximo de amigos que tive foram 2 Kim namjoon que hoje é do time de futebol e Lisa que foi um dia minha melhor amiga, mas como eu disse o tempo muda as pessoas e hoje em dia Lisa é líder de torcida e finge não me conhecer, e eu não sou o tipo que fica com os sentimentos feridos, eu apenas aceitei que nossa amizade tinha chego ao fim e desde então ando sozinha pela Hide High School.
Sou tirada dia meus pensamentos pelo barulho de uma carro e moto que já estou praticamente em casa.
Ao abrir a porta de casa posso sentir cheiro forte de desinfetante.
–Mãe?.
– Estou aqui querida._ ouço sua voz vir do banheiro e sigo até lá.
– Oi, precisa de ajuda?.
– Não querida já estou terminando. E aí como foi hoje? Era seu dia com a psicóloga, não era?._ Não posso dizer a ela que vou ter sessões extras com a senhora Yeri.
– Ah é... Foi tudo bem, está tudo bem por lá.
– Que bom querida, fiquei com medo que estivesse traumatizada._ respirou aliviada e então eu soube que fiz bem em lhe esconder a verdade.
– É... Mãe eu vou indo tomar um banho, depois a gente conversa, ok?.
– Tá bom querida._ Disse e me deu um beijo no topo da cabeça e foi em direção a cozinha, e parada ali eu a observei, minha mãe era uma mulher bonita e eu tinha puxado pouco da sua beleza, seus cabelos castanhos cacheados e seu olhos castanhos foram as únicas coisas que eu herdei, não fiquei com a altura nem a boa forma, o gene ruim do meu pai me fez crescer apenas o bastante.
Não posso preocupar minha mãe, ela é uma mulher muito ocupada, e arruma novas ocupações a cada dia, tem sido assim desde que o meu pai nos deixou há quase dois anos atrás para ficar com sua outra família.
Marina Ferreira sempre desconfiou das várias viagens de negócios de seu marido mas nunca o questionou, já que estava naquela cidade graças a uma dessas viagens de negócios. Marina e Antônio haviam se conhecido na faculdade, ela cursava enfermagem e ele direito, não demorou para que se apaixonassem, viveram essa amor por todos os anos de faculdade e os que vieram depois, quando ela descobriu que estava grávida e que eu viria Antônio tinha um bom emprego em uma empresa e recebeu a proposta de trabalho em outro país, ele é claro aceitou a oportunidade de sair do Brasil e quando nasci viemos para a Coreia do Sul, para Seul. O que Antônio, vulgo meu pai, não imaginava é que após 2 anos apenas ele seria demitido e laragado em um país extranho a sua própria sorte, foi quando nos mudamos para Hidewood uma cidade distante e fria. Como o bom sortudo que era ele logo arrumou um emprego, mas dessa vez em outra cidade e isso exigia que ele viajasse pir longos períodos e há mais ou menos 2 anos atrás Antônio Fernandes chegou de uma dessas viagens e disse que iria embora e que estava cansado de mentiras. Se ele que era o mentiroso estava cansado que dirá a minha mãe, desde então tem sido só eu e ela e ela gasta boa parte do seu tempo trabalhando como enfermeira no hospital da cidade e o pouco tempo que lhe resta a passa limpando a casa, foi um hábito que ela adquiriu quando meu pai foi embora, não há muito diálogo entre a gente mas a gente meio que se entende.
No começo quando meu pai foi embora eu sentia muita raiva, mas agora eu já não sinto nada, acho que minha mãe ainda sente mas nunca conversamos sobre isso...
...
Quase duas semanas depois da minha primeira conversa com a senhora Yeri e todo o colégio parece ter se esquecido do que aconteceu, as conversas dos corredores voltaram a ser as mesmas e o bullying com os colegas de turma continua. Quando é que esses imbecis vão aprender?.
E cá estou eu de frente a senhora Yeri na nossa quarta sessão, é nem tudo mudou nas últimas semanas.
– Quantas sessões mais são necessárias pra você se abrir Dalila?._ Acho que a senhora Yeri está perdendo a paciência.
– Eu não tenho nada.
– Por que evita tanto sentir Dalila?!.
– Mas eu não estou sentindo nada._ me assusto comigo mesma ao aumentar a voz.
– Eu só quero te ajudar Dalila, sufocar seus sentimentos vai acabar com você.
–Já acabou, sentir demais acabou comigo e eu estou bem não sentindo nada!._ sinto meus olhos se encherem de água, bendita senhora Yeri, está me fazendo chorar.
– Você sente raiva Dalila, por que?
– Eu não sinto._ minha voz sai falha nem mesmo a reconheço.
– Sim você sente, há quanto tempo não chora Dalila?
– Há muito.
– Me diz o que está acontecendo._ ela está usando o tom de voz calmo que sempre usa, mas agora isso me irrita a ponto de transbordar.
– Eu não sei!, Eu só não sinto nada, e quando não estou apática a tudo eu estou com raiva de tudo e eu não sei porque, e as vezes eu estou tão cansada de tudo e eu quero sempre estar sozinha, senhora Yeri eu estou bem assim._ Eu disse tudo tão rápido que nem menso sei se a senhora Yeri entendeu.
–Por que está com raiva agora?._ ela diz calmamente como se eu não estivesse em um choro desesperado em sua frente, meu Deus eu quero essa paz pra mim.
– Eu não estou com raiva agora.
– Você estava com raiava quando chegou aqui, por que ?
– Eu só não suporto andar por esses corredores e ver como as pessoas aqui superaram o ataque ou como eles culpam o Edward pelo o que aconteceu._ falei já mais calma.
– Você não acha que foi culpa dele ? Não acha certo que superem o que aconteceu?.
– Eu acho bom que superem mas não do jeito que estão fazendo, eles continuam a fazer as mesmas coisas, eles culpam o Edward mas eles o levaram ao extremo, eles o levaram a fazer o que fez e é ridículo como agem como inocentes, como vítimas, eu tenho nojo disso aqui.
–Eles quem, Dalila?._ sua calma me tira do sério.
– Todos! Eu, você, os idiotas do time, as líderes de torcida, os professores que fingiam não ver aquele garoto sofrendo bullying todos os dias.
– As coisas não são bem assim é..._ a interrompo.
– Sim as coisas são assim e as pessoas também e eu sinto raiva, raiva porque eu não o ajudei todas as vezes em que o vi sofrer, eu me omiti senhora Yeri, sinto raiva porque todos os dias durante as férias e até hoje eu levanto da cama e quero morrer, mas quando Edward estava atirando nós alunos do refeitório eu me escondi aqui, com medo e eu me arrependo de não ter ido lá._ e lá estavam as lágrimas correndo soltas lelo meu rosto já inchado. Ótimo já não me zoam o suficiente, como vou passar pelo corredor assim?
– Dalila esses pensamentos são muito obscuros, você precisa de ajuda e eu quero ajudá-la, teremos sessões por mais uma semana mas somente se você quiser, você quer?
– Eu não sei.
As vezes se abrir é dar espaços para seus demônios saírem e uma vez que eles estão a luz parecem bem mais assustadores.
Nesse momento me sinto liberta, sinto que me deixei sentir toda a merda que não me permiti quando meu pai foi embora, ou quando me minha mãe se trancou em seu próprio casulo. Talvez Edward precisasse disso também...
//Flashback dentro do flashback//– Oi, Dalila não é?
– Hey Edward._ o cumprimento recolhendo meus livros.
– Você pode olhar o corredor para mim? Ver se os garotos do time já foram embora.
– Amém claro, mas acho que todos já foram embora, por que está de escondendo aqui?._ perguntei enquanto olhava o corredor e ele realmente estava livre.
– O corredor está livre, eles já foram._ voltei minha atenção para ele.
– Obrigada, eu me escondi aqui quando o sinal tocou, os garotos do time sempre me zoam e jogam meus cadernos no chão na hora da saída, minha vó me comprou esses cadernos essa semana e pediu pra eu não estragar eles também, então achei melhor esperar até que eles saíssem na frente._ disse sorrindo de lado sem graça.
– São cadernos bem maneiros Edward, sua vó tem bom gosto. Você devia falar sobre isso com o diretor Minseok.
– Obrigada._ agradeceu o elogio aos seus cadernos novos. – Eu já pedi ajuda ao diretor, mas ele diz que é sou uma brincadeira de garotos._ Disse guardando suas coisas na mochila.
– Isso não me parece ser uma brincadeira, ele devia resolver isso._ disse e o chamei com um gesto de mão para que caminhassemos até a saída.
– Está tudo bem Dalila, eu estou resolvendo isso._ disse e sorriu pra mim.
– Se escondendo?
– Não, eu não vou mais me esconder._ disse sorrindo passando pelo portão mas voltou alguns passos, me olhou nos olhos e disse:
– Você é diferente Dalila, é legal, gosto de você e é por isso que vou te pedir que não vá ao refeitório amanhã.
– Bem... Eu nunca vou lá mesmo, só pra pegar a comida, você sabe o lance dos excluídos né?._ dei um meio sorriso e dei de ombros. – Mas porque me pediu isso?
– Traga comida de casa a daqui é uma droga mesmo._ disse me dando um último sorriso antes de virar a costas e seguir seu caminho sem responder minha pergunta.
// Flashback off//Aquela foi a primeira vez que nos falamos realmente e ele nunca me respondeu a pergunta, não teve tempo. Mas por alguma razão desconhecida eu segui o seu conselho daquele dia e levei comida de casa no dia seguindo e não fui ao refeitório.
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Lectus
FanfictionExiste uma história nunca contada sobre as pessoas que tentam tirar a própria vida e não morrem, uma verdade secreta que apenas quem tentou morrer conhece. Pessoas que tentam se matar mas permanecem vivas, voltam a vida diferentes, mudados. Reza a l...