Capítulo I - Queda

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    Em um espaço escuro e quase vazio, uma figura pode ser vista, um cervo jovem e belo, parece estar calmo e sereno, de repente suas orelhas abaixam e também seu corpo, parecendo estar com medo de algo, sons como de ossos se quebrando vêem de dentro dele enquanto seu corpo se contorce e cresce, sua boca enche-se de presas afiadas, seus olhos são tomados por um tom de amarelo intenso, se levanta até que fique apoiado em suas patas traseiras, enquanto todos os seus cascos viram garras e a pele de sua cabeça se desfaz lentamente, deixando apenas seu crânio a mostra, tudo isso enquanto a criatura geme mas ao fim dessa mudança um rugido horrendo é liberado pela criatura. Um rapaz de cabelos negros e ondulados acorda espantado em sua cama,   apesar do que tinha visto, se recuperou rapidamente e se levantou pra começar mais um dia, depois de um banho rápido ele prepara o café da manhã, fritando ovos e fazendo torradas, uma mulher de cabelos ondulados e castanhos entra na cozinha.
    —Bom dia—ela diz enquanto abre a geladeira.
    —Bom dia—responde o rapaz já pondo dois pratos com comida sobre a mesa.
    —Você tem algum plano pra depois da aula?—ela pergunta após pôr uma caixa de leite sobre a mesa.
    —Não, tenho algumas atividades pendentes.
    —É que eu estou pretendendo pegar o turno da tarde direto hoje, queria saber se preciso me preocupar com o seu almoço.
    —Mãe, eu fiz o almoço de ontem—ele termina a frase com uma simples risada.
    —Eu sei, eu sei—ela ri—só é que me incomoda você ficar sozinho.
    —Não precisa se preocupar, sabe que eu até gosto.
    —E é isso que me incomoda ainda mais, você não deveria gostar de estar só, você tem dezessete, quase dezoito, e prefere ficar em casa do que sair pra se divertir com os amigos ou sei lá, eu fico preocupada filho.
    —Eu entendo, mas a senhora sabe que eu sou assim, sempre fui
    —Sei disso, mas acho que ultimamente você tem estado diferente, está mais calado que o comum.
    Ele se recorda do sonho, e lembra que é a quinta vez na semana que ele sonha com aquela criatura.
    —Não é nada demais, só tem sido um pouco mais cansativo no colégio, os professores estão pegando cada vez mais no pé dos alunos, só isso, tá tudo bem mãe, é sério.
    —Tudo bem então, te vejo mais tarde— ela fala enquanto se levanta da mesa.
    —Na verdade, a senhora pode me levar na escola?
    —Tão cedo?
    —É que eu preciso de um livro da biblioteca um pouco antes da primeira aula de hoje.
    —Entendi, ok, vamos então.
    O jovem recolhe os pratos e copos e os deixa sobre a pia, depois vai até seu quarto e pega sua mochila normal, mas lembra que o material que ele precisava nas aulas do dia estavam na mochila lateral, então a pega e vai até o carro com sua mãe.
    —Pegou tudo que precisa?— a mãe pergunta.
    —Sim sim, pode ir.
    Então ela segue para o seu destino, deixa o rapaz no colégio e segue até seu serviço, lá o jovem escuta seu amigo o chamando.
    —Leon!—Hector grita para ter a atenção de seu amigo.
    —Oi, bom dia—Leon pergunta enquanto se aproxima de Hector.
    —Anda logo, preciso te falar de algo que achei—ele fala com uma voz empolgada.
    Ao entrarem na biblioteca, Hector vai diretamente aos livros principais de sua busca.
    —Ok, sobre a criatura no seu sonho, como se tratava de sonho, fui primeiro em um livro sobre, descobri que cervos são um símbolo de vida, fertilidade e pureza.
    —Acho que podia até ser puro, nos primeiros instantes apenas.
    —Pois é, e com isso eu fui atrás de um livro sobre lendas folclóricas, procurei em uns quatro diferentes até eu achar algo como o que você me descreveu.- ele folheia um livro grande com uma capa grossa e para em uma página- o Wendigo. -logo abaixo deste nome existe uma ilustração de uma criatura humanoide coberta de pêlos com um crânio de cervo com a boca preenchida de presas e garras enormes. Aquila gravura retratava tão bem o que Leon havia visto em seu sonho que ele é até capaz de ouvir aquele rugido.
    —É-é isso—ele fala com a voz falha- é essa coisa que tem aparecido nos meus sonhos ultimamente.
    —Então, sucesso?
    —Progresso, ainda não sei o que isso significa ou pode significar.
    —Verdade, mas com isso nós já temos uma base, eu achei interessante que a lenda dessa criatura seja retratada como um espírito sombrio que assombra florestas e bosques na maioria das fontes, mas em algumas, é tratado como uma maldição, que cai sobre aqueles que perecem ao canibalismo quando se perdem na floresta e também...
    A explicação de Hector é cortada pelo sino do colégio, fazendo com que ele e Leon seguem para a sala de aula, mas continuariam a conversa durante o intervalo. Já em sala, Leon parecia pensativo sobre o que acabara de saber, folclore, espírito, maldição, essas palavras rodeavam a sua cabeça, ele buscava um meio pra entender o que estava acontecendo, ele tinha desistido da ideia de que não passava de uma coincidência na terceira noite em que sonhou com aquilo. E de algum jeito, sentia que estava se aproximando, cada sonho era mais intenso que o anterior, como se sempre que sonhava, aquela criatura estava um pouco mais perto.
    Seus pensamentos estavam tão imersos que as aulas terminaram num piscar de olhos, quando se deu conta já era a hora do intervalo foi ao encontro de seu amigo para darem continuidade à conversa. Quando Hector viu Leon percebeu que ele estava distante, parecia estar perdido em sua própria mente.
    —Você tá bem?- Hector pergunta.
    —Eu não sei, talvez eu devesse deixar isso de lado, parece muito fantasioso.
    —E qual é o problema?
    —É um pouco difícil de ser real, talvez devêssemos parar no livro dos sonhos mesmo- ele fala enquanto ri pra tentar tirar o foco.
    —Você tá com medo?
    —O quê? Não.
    —Cara, até pra mim isso é estranho e você sabe que eu gosto dessas coisas sobrenaturais. Mas eu entendo se tiver algum receio sobre, essa coisa é bizarra!—ele põe as mãos sobre os ombros de Leon—Eu tô contigo, se quiser deixar isso pra lá, tudo bem, percebi o como você ficou mexido.
    —Valeu—ele puxa um leve sorriso—sério, valeu mesmo.
    Depois do intervalo, Leon estava um pouco mais calmo, apesar de ele não acreditar nessas criaturas, tomou a sua mente o que sonhar com aquela coisa poderia significar, mas lembrou das palavras de seu amigo, e se recuperou. Acabadas as aulas, enquanto saia do prédio foi convidado por Hector para almoçarem juntos, ele pensou um pouco e decidiu aceitar o convite, sabendo que sua mãe não estaria em casa pela tarde toda. No caminho à casa do amigo falaram bastante sobre qualquer assunto não relacionado ao sonho, depois do almoço, Leon pergunta:
    —Faltam quantas atividades pra você?
    —Que atividades?
    —Das treze atividades que foram passadas—depois de ver o olhar confuso e pensativo de Hector ele continua—Vamo lá, eu te ajudo.
    —Cara, é por isso que eu te amo—ele diz antes de um riso nervoso.
    De todas as tarefas, algumas Leon já tinha feito,mas a maioria ainda estavam por serem feitas, ambos na verdade, pois Hector não tinha feito nenhuma, depois de algumas horas por causa de distrações, já era fim de tarde, o véu estava escurecendo rapidamente, Leon precisava ir, um pouco antes de sair, Hector sugeriu que ele dormisse por ali, ele agradeceu, mas acabou indo. Pegou um atalhos cortando um bosque, no caminho acabou ouvindo sons incomuns vindo do arvoredo, o ruído de metal arranhando e batendo, sons de árvores sendo quebradas e derrubadas, com receio, foi ver o que estava acontecendo, ao se aproximar se espanta com o que viu, a criatura do sonho, em confronto com um homem com uma armadura simples e uma espada larga. O Wendigo estava tentando a todo custo acertar suas garras e presas naquele homem, que desviava com uma velocidade e agilidade incrível, e mostrava uma facilidade em brandir a espada com apenas uma mão, mesmo ela sendo tão grande, mesmo assustado, Leon não conseguia sair dali, queria uma resposta ou qualquer coisa pra justificar o que estava vendo ao se aproximar um pouco mais, tropeçou em uma raíz e fez um pouco de barulho, atraindo a atenção do monstro que rapidamente o teve como alvo e correu em sua direção o homem imediatamente deu uma investida acompanhando o Wendigo e então apertou o cabo da sua arma fazendo com que ficasse com um brilho azul celeste e disparou um feixe em direção a criatura a acertando na cabeça, fazendo ela sair de sua rota até Leon e batendo em uma árvore e a derrubando, ele ainda sem entender muito bem a situação apenas se afastou de onde o monstro foi derrubado, e logo atrás dele estava aquele homem que cobriu o corpo de Leon com um tipo de barreira com a mesma cor do feixe que tinha disparado.
    —O que é iss...— ele nem termina a pergunta antes da criatura se levantar.
    —Fique atrás de mim!— o homem grita enquanto se põe a frente de Leon.
    O monstro ataca com uma das garras e é desviado pela espada, e com a outra disferiu um soco contra eles, que acabou atingindo eles, foram lançados pra trás o homem caiu ao chão e alguns metros depois, Leon, que ao levantar um pouco do chão, viu que a barreira aí seu redor tinha diminuído e quando virou o olhar para o homem, ele já estava de pé e avançando contra a fera agora um pouco mais lenta depois do choque contra a árvore, e finalmente ele consegue acertar alguns golpes nela, e as feridas pareciam ter um brilho intenso. Leon termina de se levantar e mesmo com medo ele coleta algumas pedras e atira no monstro que não reage a quase todas mas algumas que atingem as feridas parecem incomodar bastante, ao notar isso a expressão de medo desaparece de seu rosto dando lugar a uma de determinação ele pega um galho grande, quase como um bastão e avança contra a criatura, como estava focada no homem a atacando, não notou Leon se aproximando suficiente pra cravar o galho em uma das feridas na lateral da besta, que solta um rugido assutador, e ela revida batendo o dorso da mão contra ele o jogando algums metros para trás. Então ele escuta um grito:
    —O escudo não vai aguentar outro ataque!— o homem grita antes de receber de volta a atenção da fera.
    Logo Leon nota que a barreira diminuiu ainda mais, mesmo assim, prontamente se levanta para ajudar o seu aliado na luta, que estava com um pouco de dificuldade, e mantinha um recuo do seu adversário. A boca do Wendigo começa a brilhar com uma luz  amarela, Leon percebeu que era um ataque, mas o homem nem notou a luz, a besta dispara um ataque luminoso e Leon se joga na frente de seu aliado, sendo arremessado na direção dele com a explosão do projétil e a barreira se desfaz por completo. Um cai sobre o outro e ao entender o que aconteceu o homem pergunta:
    —Eu não te disse que o escudo não ia aguentar outro ataque?
    —Disse, mas eu estou inteiro, então ou você errou na contagem ou mentiu, meu palpite é a segunda.
    —Claro! Porque eu achei que se você achasse que estava desprotegido iria embora!
    A criatura estava mais atordoada com a explosão, pois grande parte dela acabou a atingido depois de cambalear um pouco ela cai ao chão parecendo ter sido derrotada.
    —Eu tinha uma espada e você um escudo e de algum jeito ainda foi você que a derrotou, estou impressionado, um pouco indignado, mas impressionado.
    —Obriagado, eu acho— ele se levanta de cima do homem e o ajuda a levantar.
    —Meu nome é Dylan— ele se apresenta.
    —Me chamo Leon.
    —Leon, O escudo ofensivo!— ele grita erguendo um punho.
    —O quê?
    —Desculpa, é que eu realmente gostei do que você fez, foi muito corajoso e imprudente.
    —Eu vou agradecer o elogio e ignorar a ofensa, mas enfim, o que foi que aconteceu aqui?
    —Uma missão de caçada de outra coisa e acabou comigo perseguindo esse bicho.
    —Tanta naturalidade que me assusta.
    —Depois de um tempo você se acostuma.
    —Ok então—ele dá uma breve risada— mas e ele?— se referindo a criatura no chão— Tá morto?
    —Acredito que sim, antes de você aparecer eu já estava cansando ele há mais de uma hora.
    —Uau, mais de uma hora lutando daquele jeito.
    —Na verdade, o ritmo desacelerou bastante, nós dois estávamos esgotados.
    —Isso sim é impressionante, bom eu tenho que ir. Cadê a minha bolsa?
    —Aquela? —Dylan aponta pra bolsa de Leon, que estava a alguns metros depois da criatura, enquanto Leon se aproximou da bolsa o corpo da fera começou a soltar algumas centelha o que o acuou— não se preocupa, essas coisas fazem isso quando morrem, pode ficar tranquilo. Então Leon pega sua bolsa e passa de volta próximo da besta, mas seu brilho tinha sumido Dylan estranhou, mas não ficou muito nisso estava prestigiando seu parceiro de briga e quando Leon deu seis passos depois do monstro, ele estendou um braço em direção ao jovem com a garra brilhando, ele tinha concentrado sua última energia naquele ataque, Dylan ainda pôde gritar o nome de Leon, mas foi inevitável o golpe que atingiu as suas costas o fazendo cair com seu peito no chão.

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