Foi corna

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     Fernanda, a medida que opinava sobre o quarto de minha mãe, também se sentia no direito

 de opinar sobre mudanças no meu quarto, sendo que não foi solicitada  a opinião

 dessa desgraçada nisso. Não bastasse isso, ela também estava exigindo que eu ajudasse na

 produção dessas mudanças, o que me deixou extremamente irritado, pois essa meretriz falava

 em tom de ordem, e confesso que cheguei bem perto de xingá-la, algo que seria muito menos

 do que ela merecia.

     Há algo que não mencionei sobre Fernanda: ela é casada. Isso mesmo; ao que parece, existe

 uma alma viva capaz de suportá-la, que consegue sobreviver ao convívio com alguém tão

 entediante, o que talvez explique o motivo pelo qual ele colocou um belíssimo par de chifres nela.

     Sobre o fato dela ter sido corno, acho perfeitamente plausível e justificável, pois, se os poucos

 minutos que tenho de suportá-la vez ou outra já me fazem ter antipatia total por ela, imagina ter de conviver

 com tamanha criatura. Na verdade, sei apenas superficialmente da história da traição. Pelo que

 lembro, ela descobriu há uns 5, 6 anos a traição do marido, que, -e isso eu lembro bem-

 separou-se dela e foi morar com a amante. Mas isso não durou muito, pois logo ele voltou para

 Fernanda. Ainda não sei, talvez um dia saiba, por qual motivo ele se autoflagela com essa

 convivência.

     O que eu sinceramente espero é vê-la o menos possível, algo que faria até com que eu tivesse

 menos antipatia a sua pessoa. Que a presença dela em minha casa seja cada vez menor, que ela

 não use o seu dom em ser maestra na arte de "ser chata pra caralho".

Quero encerrar esse texto dizendo que há vizinhos discretos, que apenas cumprimentam; outros

 que são simpáticos, que cumprimentam e sempre puxam algum assunto sem serem invasivos;

 outros com simpatia exagerada, beirando a chatice; mas, aqueles insuportáveis, esses sempre

 moram ao lado.

A vizinha insuportávelOnde histórias criam vida. Descubra agora