Trinta E Dois

389 35 0
                                    

As pessoas ainda me encaravam sem pudor, minha migração para outra universidade já estava certa, com o fim do semestre nesse fim de semana, tudo se ajustaria.

__ Vou sentir sua falta.__ Pedro disse.

__ Também sentirei a sua falta.

Abracei meu amigo em nosso último dia de aula juntos, um vai para a Tailândia, outro para uma faculdade longe pra cacete, estou perdida.

__ Entendi porque suas notas sempre são tão altas.__ Belinda começou.

__ Agora não Belinda.__ Tentei não lhe dar atenção enquanto respondia as atividades da professora Tina.

__ Você deve dar para todos dessa instituição não é?__ Como ela ousa?__ Eu já sabia que gentinha da sua raça não presta, mais daí usar o corpo que nem é bonito, para ganhar boas notas, é demais.__ As amigas riram.__ Essas negras me dão nojo.

Minha ravia subiu. Não deixaria ninguém nunca mais falar de mim ou dá cor da minha pele como se ser negra fosse um erro. Somos o país mais diverso do mundo, somos o país da miscigenação, deveríamos ser mais igualitários.

Belinda ficou perplexa ao sentir o tapa acertar em cheio sua face. Talvez ela não esperasse que alguém quieta, tímida e pacificadora a agredisse de tal forma.

__ Nunca mais...__ Cheguei mais perto dela.__ Repito, nunca mais fale como se me conhecesse ou soubesse da minha história. Não sou uma vadiazinha como você. Sou uma bolsista que precisou estudar muito para chegar até aqui, precisei passar dias e noites acordada estudando para passar no vestibular com notas excelentes. Mas uma pessoa medíocre e filhinha de papai como você, não sabe o que é isso, perde tempo falando mentiras sobre a vida alheia e sendo uma idiota racista. Acorda Belinda, é o século vinte e um, novo milênio, tens apenas dezenove anos, não é possivel que ainda fostes ensinada a ser assim. Pelo visto não sou eu que sou a burra sem noção aqui. Eu nunca precisei dar a ninguém para conquistar meus próprios méritos, e se você fala tanto sobre isso de transas para obter conquistas, acho que é você quem faz isso. Então, já chega de achar que sabe algo sobre mim, fui adotada por uma família branca ainda bebê, e para me destacar, tive que lutar sempre mais que os outros, então já chega, chega, chega... Não vou tolerar mais seus insultos. E por favor, saia da minha frente antes que eu perca minha cabeça e lhe dê um soco nesse nariz cirúrgico.

Pedro parecia feliz em me ver colocando-a no lugar dela.  Meu ultimo dia ali não estava sendo um dos melhores, mas tenho certeza que em breve tudo mudará.

__ Você e Belinda brigaram?__ Akira perguntou no pátio da universidade.__ De novo Ava?__ Suas mãos no bolso o deixava ainda mais sexy.

__ Ela me insultou novamente.

__ E eu te pedi que não ligasse para as merdas que ela fala.

__ Vai defende-la agora?__ O encarei incrédula.__ Ela zombou de mim, zombou da minha cor. Não vou deixar mais ninguém pisar em mim. E sinto muito se você não sabe como é se sentir humilhada porque todos apontam a garota negra que namora um professor universitário, e que acabou de perder o pai e o avô por causa de um tio racista que está lhe perseguindo tentando mata-la também.__ Ai droga, estou muito sentimental.

__ Vem aqui.__ Ele me puxou para um abraço sem se importar se as pessoas olhariam.__ Eu te amo, me desculpe.

__ Também te amo.__ Aceitei seu abraço.__ Seu celular está tocando.

Ele encarou a tela do celular por alguns segundos e então atendeu. Seu rosto vago dizia que era o número desconhecido de novo. Isso está me apavorando.

__ Não falaram nada?

__ Não.__ Ele beijou minha testa.__ Estou com medo.

__ Vai ficar tudo bem.

Rui e eu seguimos juntos para casa logo após as aulas. Ele nós preparou um ramén, e logo após o almoço, ficamos a tarde inteira da sexta-feira comendo besteiras e assistindo filmes.

__ Vamos visitar meus pais hoje?__ Akira perguntou enquanto os créditos da série passava.__ Mamãe acabou de nos chamar.

__ Ckaro.__ Beijei sua bochecha.__ Vou trocar de roupa, não quero que seus pais pensem que sou uma mendinga.

__ Uma mendinga bem gostosa por sinal.__ Ele bateu em meu bumbum.

__ Não faz assim.__ Minha voz saiu dengosa.

__ Poxa Ava, agora eu fiquei com tesão.__ Ele me puxou fazendo-me sentar sobre o seu colo.

__ Ficou?__ Ele confirmou com a cabeça.__ Na volta a gente resolve isso.__ Mordi seu lábio inferior.__ Agora deixa eu me ajeitar, não quero deixar sua mãe esperando.

Desci do seu colo e corri para o quarto. Ouvi apenas sua voz de desespero e frustração xingar um palavrão qualquer em coreano.

#Continua...

AKIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora