Capítulo 2 - Afogando

5 0 0
                                        

Desde pequena, um dos meus filmes favoritos sempre foi Titanic. Fossem pelos incríveis efeitos especiais utilizados em uma época onde as tecnologias ainda não eram tão desenvolvidas, ou simplesmente pela estória de amor de Jack e Rose, fato era que esse filme foi um marco no cinema. Me lembrava que toda vez que assistia, me arrepiava quando o construtor do navio, Thomas Andrews, dizia que não importava o que fizessem, o Titanic afundaria.
    Eu sempre fiquei me perguntando como haviam sido as últimas horas de vida daqueles passageiros à bordo do transatlântico. Que angústias haviam se passado dentro de seus corações, quanto medo haviam sentido diante da morte se aproximando, no desespero que havia levado muitos a se jogarem em pleno oceano Atlântico, antes mesmo de o navio afundar, ou naqueles que precisaram aguardar nos botes salva vidas enquanto observavam aquela cena de horror que acontecia diante de seus próprios olhos, enquanto aguardavam a chegada de outro navio para resgatá-los. Também pensava naqueles que, simplesmente, se conformaram e abraçaram a morte como uma velha amiga. Sempre me perguntei que tipo de pessoa eu teria sido naquela fatídica noite de 15 de abril de 1912. Seria eu a pessoa que lutaria até o fim como Rose e Jack? Seria a pessoa que me jogaria do navio antes do naufrágio? Ou seria como o Sr.Andrews e como o capitão que ficaram no navio até o último minuto?
    Eu nunca havia necessitado decidir que tipo de pessoa eu seria. Não até aquela notícia. Não até saber que não importava o que eu fizesse, eu morreria. Eu era o Titanic e estava afundando, não importavam os esforços. Quem eu seria? Eu estava me afogando, sem colete salva vidas, sem segunda chance, sem navio reserva que me tiraria dali, sem bote. O câncer era o terrível iceberg que havia aparecido do nada na minha frente e eu era o Titanic que, mais cedo ou mais tarde, estaria no fundo do oceano.

7 meses Onde histórias criam vida. Descubra agora