Prólogo

271 11 0
                                    

Com o canto do galo, Hector despertou e olhou para o lado. Sua belíssima esposa continuava a dormir com seus lindos olhos cor de mel, mesmo dormindo igual a um peixe de olhos abertos, ainda era linda.

O homem se levantou e fez suas higienes matinais. Em seguida, foi ao quarto dos filhos e lá estavam. Dois pequeninos encolhidos, cada um em seu berço.

Hector sentiu um abraço por trás e um beijo quente no pescoço.

- Muito bom dia, meu amor. - Ele disse.

- Shh, vai acordar as crianças querido. - Alertou Sandra. As crianças demoraram a cair no sono, não queria que seu homem desastrado estragasse o momento. - Quem diria, Hector... nossos filhos estão dormindo em silêncio.

- Quem diria, uh? - Afirmou a beijando apaixonadamente.

- Ecaa... - O casal parou o começo dos amassos quando ouviu a reclamação fininha. - Mamãe e papai estão se bezando!

- Enzo, volta pra cama menino! - O pai falou com tom irritadiço, mas na verdade estava envergonhado por ter sido pego por um pirralhinho.

- Desculpe, querido. Seu pai foi bem imprudente. - Sorriu a loira encarando a criança e Hector encarou-a incrédulo. - Estou brincando, homem. Deixe de dramas. Venha meu pequeno, dormir uh? - Estendeu a mão para o filho mais velho (de apenas 5 aninhos), o pequenino abraçou as pernas da mãe. Ainda estava meio sonolento e Sandra lhe deu uma palmadinha de leve no bumbum, o que era uma menção para subir em seus braços.

- Eu não estou mais com sono mamãe...

- Shh querido. Sua irmã está dormindo agora. - A loira colocou o pequenino de volta no berço e depois se divertiu de forma apaixonada com seu marido no quarto do casal. Aquele dia estava perfeito, até que se pode ouvir batidas - mais como estrondos - na porta. Hector revirou os olhos, se vestindo e indo em direção a porta.

- Sim? - Perguntou suavemente. Mas sua calma sumiu quando se ouviu um tiro e logo em seguida o grito de sua mulher. - Querida!!!

- Pague suas dívidas, senhor Silva.

- Desgraçado! - Gritou correndo em direção a esposa que sangrava no chão.

- Lembre se que deve mais de quinhentos paus ao banco. Dá próxima, atacaremos seus filhos.

- Não! Meus filhos não! Eu pagarei minhas dívidas, eu juro! - No borde do desespero, o homem não deixou de chorar vendo os agiotas saírem tranquilamente da porta de sua casa. Hector abraçou sua mulher que apenas sussurrou um "Cuide das crianças, meu amor...". E apagou para sempre. Em 07 de setembro de 1959.

No dia seguinte, ele, o pai devastado teve de levar seus dois filhos ao velório da mãe. Nem se deu trabalho de explicar o que estava havendo. Apenas Enzo chorava. A pequena Potifar nem sabia ao certo o que estava acontecendo ali. Sandra foi a melhor mãe que as crianças tiveram e agora, Hector Silva, um endividado, teria que cuidar de dois seres vivos.

"O tempo voa mas as feridas não se fecham nunca." Essa era a frase de seu pai. Hector as levou na memória e as usou no momento em que conseguiu sua justiça. Com ajuda de amigos, em 1961 se tornou sócio do banco pelo qual foi atacado e expôs os agiotas. Os fazendo serem punidos perante a lei com prisão perpétua, depois de ser perdoado por suas dívidas. Dali em diante, tudo mudou. Hector se tornou banqueiro. Namorou por uns meses com uma telefonista chamada Nicole e teve mais dois filhos. Uma menina chamada Capitu, em 1961 e um menininho chamado Theodoro, em 1963. Porém, esse relacionamento não deu certo e Nicole acabou abandonando seu marido e os filhos indo morar na Argentina para seguir seu sonho de ser cantora. Hector ficou com os quatro filhos numa fazenda perto da cidade onde ficava seu negócio. E em homenagem a sua falecida mulher, se tornou um pai mais presente e severo, com bastante amor para compartilhar.

Silva - Anos 1970Onde histórias criam vida. Descubra agora