Teia de Sangue

PARTE I - VENENO: Capitulo Três

A cada apertar de botão, uma fotografia de alguma das garotas mais bonitas da escola, na concepção de Eddie, preenchia a tela de sua câmera. O rapaz avaliava quais das fotos mereciam um tratamento especial de sua parte. O fotógrafo se frustrava um pouco pela maioria das meninas ainda não terem idade suficiente para que fosse legalmente seguro se envolver, ainda que por questão de meses. Ele preferia evitar. Em contrapartida, todas as que já haviam atingido a maioridade, Eddie havia dado um check em sua lista.

O rapaz se espreguiçou sentado na cadeira de sua escrivaninha dentro de seu quarto. Ouviu a porta da casa se abrir e em seguida ouviu passos pela casa. Seu pai chegando de seu trabalho como mecânico. Vindos da cozinha, Eddie ouviu grunhidos de desaprovação e soube que logo o homem apareceria na porta do quarto. E foi exatamente o que aconteceu.

— Tão inútil quem nem para deixar a minha comida fora da geladeira, hein, Eddie? — vociferou um homem atarracado e sujo de graxa.

— Foi mal! Eu acabei de chegar de um ensaio e...

— Me poupe dessa historinha de fotógrafo. Não é como se você trouxesse dinheiro para casa com isso. E nem vai! Isso é carreira de gente que não precisa se preocupar com grana. Quando é que você vai largar essa história de colegial metido a fotógrafo e vir trabalhar com um homem de verdade na oficina? A gente sabe que você não tem futuro nessas coisas que anda fazendo mesmo.

Os perdigotos que eram expelidos pelo pai de Eddie e só não alcançavam o rapaz porque o rapaz estava há uma distância considerável da porta. O fotógrafo retrucou, com um rosto vermelho e os dentes cerrados.

— Para sua informação, eu tenho muitas clientes e estou indo muito bem na escola para sair de lá esse ano! E logo mais eu pretendo buscar emprego no Cla...

— Por favor, moleque! Cala essa boca, antes que você fale mais bobagem. Essas clientes que você convence a fazer "nu artístico" — o homem fez aspas com os dedos — é só uma forma trabalhosa que tu conseguiu pra ver mulher pelada, depois colocar um filtro preto e branco e vir me dizer que é arte. Nunca vai ser um emprego sério. Ouça os conselhos do seu pai: tem formas muito mais fáceis de tirar a roupa de uma mulher. Mas talvez te falte manha para fazer isso, sem esses truquezinhos. Agora, seja útil pelo menos uma vez na vida e leve o lixo para fora.

O pai de Eddie retirou-se para o banheiro deixando o filho com uma fúria contida dentro de si. O fotógrafo se arrependia de não ter se mudado de país junto com a mãe, quando houvera o divórcio. Ainda com os dentes cerrados pela raiva, o rapaz foi até a cozinha retirou o lixo e seguiu para fora da casa, ruminando as palavras ditas pelo pai. Não era a primeira vez que o homem dizia palavras como aquelas, mas sempre lhe afetava como se fosse. Ele mal podia esperar para se livrar do velho e ter sua independência. Os dedos apertavam com uma força desnecessária os sacos de lixo, enquanto atravessava a rua indo em direção a um beco entre dois estabelecimentos, onde haviam as lixeiras.

Eddie tinha planos. Desde que havia lido a autobiografia de JJJ, o rapaz tinha no dono do Clarim Diário sua maior inspiração. A forma como aquele homem havia se tornado uma figura quase onipresente em qualquer formato de distribuição de notícias, fosse criando documentários para streamings, drops de notícias em formatos adaptados para plataformas de vídeos — tanto curtas como longas —, seus sites e blogs de nicho informativo, além de nunca abandonar o formato tradicional, tanto na tevê quanto no impresso.

O rapaz sonhava em ser contratado pelo Clarim e se torna um pupilo de J. Jonah Jamesson. Tinha certeza que um homem como aquele, com certeza, enxergaria o seu potencial e aí o pai dele teria que engolir todas as palavras. Quem sabe Eddie não se tornasse o sucessor de Jamesson, já que o filho dele era metido a explorador espacial?