Capítulo Único

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Os Colossos do Oriente

Ichigo olhou uma última vez para o campo de batalha. Seu coração se despedaçou por dois motivos. O primeiro era que eles não conseguiriam vencer a guerra. Setecentos mil samurais e quinhentos mil ninjas não eram suficientes para derrotar cem mil dragões. A Guerra Draconica seria o último marco da humanidade.

O segundo motivo para seu desespero era saber que ele e os duzentos e noventa e nove guerreiros que se juntaram a ele na base do Monte Fuji eram a garantia da vitória da Grande Aliança do Oriente. E que, ao conseguir aquela vitória, aqueles trezentos guerreiros nunca mais veriam um pôr do sol.

— Ichigo taichou, se formos fazer isso, tem que ser agora.

O primeiro capitão olhou para Sado, o segundo em comando daquela unidade. O antigo general dos ninjas do império engoliu em seco enquanto contemplava os dragões jorrando o poder dos elementos sobre os exércitos humanos.

— É loucura — falou Sado, seguindo seu olhar. — Os magos celtas, vikings nórdicos, centuriões romanos, semideuses gregos… toda resistência da humanidade foi derrotada.

Ichigo nada falou por alguns momentos. O barulho de armas místicas, feitiços e o brado de guerra se misturava ao rugir das feras milenares que declararam o fim do mundo dos homens.

Ninguém sabia de onde tinham vindo. Não só os dragões, mas elfos, fadas, anões, caiporas, curupiras, sacis, sobeks, pássaros-trovão... raças consideradas contos de fadas tinham se materializado anos antes. Demônios, youkais, anjos, celestiais... A Terra como a humanidade conhecia não existia mais.

Poucas raças se uniram aos homens quando os dragões rugiram sua fúria aos céus e atacaram tudo e todos. Se curvar aos dragões ou se esconder parecia a única maneira de permanecer vivos.

— Ainda não temos notícia dos Filhos da África e da União Indígena das Américas. E nós, bem — Sado olhou para o que tinha em mãos —, temos a chance de causar uma reviravolta aqui.

Foi a vez de Ichigo engolir em seco. O ex alto general das forças samurais encarou suas mãos. A pedra do tamanho de um olho que pulsavam com poder divino.

Nunca antes um mortal tinha encontrado um Coração de Deus. Eles não passavam de lendas, como os próprios deuses. Só quando os dragões começaram a devastação, que os homens descobriram que lendas existiam. Pois foi nesse dia que os deuses da dimensão celestial e desceram à Terra com poder e glória.

— Se os próprios deuses não venceram os dragões, que chance nós temos? — perguntou Rukia, a ex-líder das ninjas kunoichi e samurais onna-bugeishas, divisão de mulheres guerreiras do império.

Ichigo sabia a resposta. Todos eles sabiam. Pouca chance. Talvez um pouco mais que os deuses. Mas a profecia que o Sennin Dourado encontrou dizia que cada mortal que se apossasse de um Coração de Deus, teria poder para salvar o mundo a um preço: sua memória como humano e a não permanência no plano terreno quando tudo acabasse. Um poder maior que os deuses.

Não tinha a ver com a força sobrehumana dos semideuses. Eles eram poderosos, sim. Mas como seus pais, caíram diante das feras dracônicas. Era mais que isso. Um poder profetizado tinha um valor grande demais, era algo revelado pelos Guardiões do Destino aos homens de fé. E ninguém duvidaria do Sennin Dourado, que previu tantos desastres e vitórias dos homens e deuses durante os últimos vinte anos.

Pegando pela última vez a foto de sua esposa com suas filhas, Ichigo se despediu. O mundo estava em jogo. A humanidade com os dias contados. O império não passava de escombros, choro e dor. Mas era por elas, e somente por elas que Ichigo, o maior ente os bushis, os generais samurais, faria aquele sacrifício.

Os Colossos do OrienteOnde histórias criam vida. Descubra agora