Capítulo Único

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1985


Em primeiro lugar, eu sou contra namoros. Totalmente contra namorar. Isso porque eu tenho uma maldição. Geralmente eu me apaixono com facilidade, porque tenho um coração bobo que cai na lábia de qualquer pessoa que seja gentil comigo. Até aí tudo bem, o problema é depois. O ciclo é esse: eu me apaixono, começo a namorar com a pessoa, nós terminamos, ela começa outro relacionamento pouco tempo depois, eu demoro muitos meses até superar e conhecer outra pessoa, depois disso terminamos de novo e o ciclo se repete. Isso aconteceu no máximo seis vezes. O ponto é que eu sou como um amuleto da sorte para os outros, porque depois de mim a fila anda e eles são felizes, mas o azarado aqui continua sozinho e não tem sorte com ninguém. É por isso que eu tomei a decisão de fugir de relacionamentos sérios. Se possível, não me envolver com ninguém nunca mais. Foda-se a carência e os desejos, eu consigo sobreviver sem carinho e sem sexo. Não deve ser difícil.

E, bom, eu posso me divertir sozinho. Posso ser contra namoros, e claro que vou sentir falta de outra boca na minha, de dormir abraçado com alguém, de um cafuné no cabelo, do sexo principalmente porque, honestamente, transar é muito bom, mas a vida pode ser boa sem todas essas coisas. O fato é que eu sou completamente a favor de curtir a minha própria companhia. Eu adoro assistir filmes de seriais killers traumatizados com as suas vidas e posso ser feliz sozinho indo até a locadora e alugando filmes, e posso fazer muito mais. Sair com os amigos, mesmo que todos estivessem ocupados com as suas vidas adultas, ouvir música no último volume e dançar pelo apartamento, cantar alto até os vizinhos reclamarem, pedir pizza aos fins de semana, ir ao cinema, em shows. Qual é, viver sozinho não é a coisa mais triste do mundo.

O meu último relacionamento acabou porque o meu ex-namorado não estava pronto para se assumir para a família, e eu estava cansado de esperar por isso porque estávamos juntos há dois anos. Para mim, que saiu do armário na adolescência, não era fácil continuar escondido da sociedade porque o meu companheiro não estava bem com isso. Posso estar errado? Posso. Mas sei que não estou. É 1985, as pessoas são mente aberta hoje em dia, não? Eu quero andar de mãos dadas com o meu namorado pela vizinhança ou pelo shopping. Ao menos não tive esse problema com os outros. Os antigos namoros acabaram pelos motivos que eu mais odiava: ciúme excessivo, mudanças para outra cidade e traição. Falando sobre namoros, não existe ninguém tão azarado como eu.

Mas em uma coisa eu sou muito sortudo: na vida profissional. Felizmente fui esperto o bastante para não seguir o conselho dos meus pais e estudei Fotografia na faculdade, e não Medicina como eles realmente queriam. De início não concordaram, me trataram com frieza durante um ou dois meses, até perceberem como eu era um aluno esforçado e estava ganhando dinheiro com trabalhos freelancer, então eles começaram a me olhar com outros olhos, admirados com a minha maturidade por ser tão novo e já estar trabalhando. A primeira coisa que fiz foi me mudar. Dá para encontrar um lugar para morar bacana que não tenha um preço absurdo se procurar direito. Falei com a minha professora e ela me passou um contato de uma amiga que estava alugando um apartamento pequeno.

Só que, agora, eu estou cansado. Quero ter um trabalho fixo, não freelancer, mesmo que muitos paguem realmente uma grana boa. Mas não se trata do dinheiro e sim da minha saúde. Eu passo noites acordado trabalhando. Quero um só emprego, um foco, um compromisso todos os dias e não quatro. Eu precisava de uma distração por enquanto, para pensar no que eu deveria fazer. Por isso estava indo até a locadora, e deveria entregar o meu cartão para o balconista. Barcode não era alguém que eu poderia chamar de amigo, mas nos conhecíamos o suficiente para sabermos da vida um do outro. Ele era oito anos mais novo do que eu, ainda estava na escola, morava com os avós e tomava conta da locadora para eles.

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