Delinquente

Um mero ato imprevisível

Mihael não sabia o que pensar á respeito sobre, na verdade, ele não sabia o que deveria pensar. Ele podia esperar qualquer coisa, mas isso... foi imprevisível em todos os aspectos e sentidos da palavra.

Tudo começou cerca de quatro horas atrás só acontecido inesperado, quando Mihael estava em seu jeito banal de está nas aulas presenciais, ou seja, completamente desinteressado pelo assunto que lá estava sendo explanado. Sendo mais específico, desinteressado em sua aula sobre ‘Poder Público’, sobre a lei 9.605/98 em seu artigo 65 e incisos. A voz monótona e ainda mais desinteressada de sua professora ajudava bastante Mihael com o querer — não tão oculto assim — de fugir do colégio e ir para qualquer outro lugar mais interessante do que sua aula. Mihael sabia que que era possível conseguir uma resposta mais detalhada e reduzida dessa aula, apenas pesquisando poucas a síntese no google e seguir a vida, e de qualquer jeito, todos já estavam cansados de saber que pichação é crime, sendo essa considerada essencialmente transgressiva, predatória, visualmente agressiva, contribuindo para a degradação da paisagem, ou como a professora estava se dirigindo: “vandalismo desprovido de valor artístico ou comunicativo”. E não é como se alguém ali fosse um fora da lei ou um delinquente furreco, era de Wammy's que estavam falando, uma das escolas particulares mais populares e renomadas de toda Inglaterra, onde um acadêmico apenas pode entrar por indicação de seus inveterados colégios.

Apenas alunos inteligentes, todos de lá estavam em um posto venerado pela sociedade atual, mas dentre tantos adolescentes intelectuais, claramente iria existir um que iria se destacar mais do que outros. Nate River, um garoto de cabelos brancos, e vestimentas comumentes brancas, assim como a pele igualmente alva — Um garotinho baixinho, com olhar de poucos amigos, esse era aquele que sempre se sobressai entre os putros em suas atividades acadêmicas —. Nate nunca foi um garoto de se enturmar, sempre em seu próprio mundo.

Mihael era a mesma coisa, a única diferença é que ele não conseguia assimilar o fato de ter alguém — que em sua opinião — sabia apenas fingir ser tão inteligente quanto ele. Mihael gostava de ser a última bolacha do pacote, o mais especial, o que se diferenciava facilmente das outras pessoas. Mihael, por mais que não pareça por conta da personalidade impulsiva aparente, era uma pessoa extremamente sensível, que por mais que tentasse, um comentário ruim sobre ele fazia mais efeito sobre si mesmo, do que vários comentários bons.

Mihael não odiava Nate, mas de novo, sim, ele odiava ele. Odiava o fato de invejar o garoto, como se ele fosse uma adolescente de um filme adolescente dos anos 2000 que fica se comparado com a garota loira e mais gostosa da escola, odiava o fato das pessoa compararem ele com Nate, odiava o fato de se alto-rebaixar ao Nate.

Odiava o fato dele ter olhos tão mortos, e parecer apenas uma máquina sem emoção, que foi criada apenas para alcançar e superar a perfeição humana.

Agora mais uma pequena ressalva:

Nate sempre foi o mais perfeitinho de todos, o mais inteligente, o mais capaz de conseguir um posto de respeito no mercado de trabalho. Em geral, em qualquer situação incompreensível, Nate estava acima da média frequente de qualquer adolescente de sua idade.

Claro que ele teria um deslize de personalidade em algum momento.

Era inconfundível, aquele cabelo branco encaracolado nas pontas, a única diferença é que ele estava usando um casaco de capuz. Preto...

A reencarnação do próprio alabastrino, está usando preto.

E estava pichando o muro de trás da escola com uma tinta em spray preta, um muro onde ninguém quase nunca vai, apenas Mihael e seu amigo, Mail Jeevas, que vão lá para jogar algum jogo de Nintendo e fumar cigarros — apenas para se sentirem descolados —, isso somente na hora do Recreio. Mas agora, as sete horas da tarde, apenas faltando uma hora para os alunos serem liberados para irem para suas residências, Mihael tinha ido lá apenas para fumar o último maço de cigarro que ainda tinha, logo se deparando com Nate, pichando um “N” de tamanho intermediário comparado com  do muro razoavelmente grande, com a escrita impecável na fonte de “edding Text BT/Clerestory SSK”.

— ...Nate?... — Após ter limpado a garganta e ter reunido toda a sua coragem, chamou por Nate com a voz quebradiça. Algo que nunca esperaria de si mesmo, era um desafio interno, de sempre tentar bancar o intimidador com Nate.

Ao ouvir á tão conhecida voz de Mihael, em um tom diferente, Nate simplesmente para de se mover, imediatamente processando o acontecimento ao vivo. Não estáva acostumado a ficar “vandalizando” a parte de trás de sua escola, essa seria sua primeira fez, mas estava acostumado á nunca ter sido pego. Aparentemente, pela primeira vez, ele tinha algo calculado mal.

— Mihael... —Nate fala sem muito vigor, e com apatia aparente, olhando para aquele que sequer se esforça para esconder sua surpresa.

Depois de um raciocínio rápido, tinha três possibilidades de acontecimentos futuros, ou Mihael denunciara Nate por pichação sem autorização do poder público, levando-o para detenção de seis meses a três anos, e multa até dez mil, além de pena correspondente à violência ao ambiente escolar. Ou apenas ignorar e seguir com sua vida normalmente — o que é uma alternativa completamente improvável, mas mesmo assim não deixa de ser uma — Ou como esse é um apaixonado por acabar com a reputação de pessoas, iria contar para todos que:

“O número um, o perfeitinho, na verdade é apenas um delinquente apalermado”. Era... Um pensamento que tinha 97% de chances de se tornar realidade. E isso não deixava Nate muito animado.

Mihael que até pouco estava o olhando de forma estupidamente supresa, simplesmente mudou de postura bruscamente, soltando uma risada estranha que fez Nate reprimir o ato inconsciente de dar um passo para trás. Que Mihael era meio dodói da cabeça era um fato que todos sabiam, mas isso não significa que todos estão habituados a isso.

— Então é isso... O número um, o perfeitinho, na verdade é só um delinquente... — depois de um pequeno pigarrear, Mihael falou com um sorriso de canto irônico no rosto, olhando diretamente para o rosto de Nate.

— Tão previsível... — Nate pensou, fazendo uma carranca interna. Sem demonstrar nada com o rosto. — Prevejo que vai contar sobre minha má conduta para os superiores. Vá em frente, não há nada que eu possa fazer contra a verdade — Nate finalmente falou, imperturbável, aceitando a sua realidade futura de que talvez fosse expulso de Wammy's, afinal, eles levavam essa coisa toda de moralidade a sério, mesmo Nate sendo o número um, o melhor de Wammy's, era inaceitável que ele fizesse qualquer coisa que saisse da linha de “perfeitinho”.

A fala do outro diminuiu o sorriso de Mihael, mas não o fez morrer. Era algo que sempre irritava Mihael, o jeito que Nate simplesmente aceitava as coisas, mas apenas o fato de ver o famoso Nate – oqueSignificaErrar? – Ríver fazendo algo contra o poder público, era algo totalmente gratificante para Mihael.

— Não, Nate, eu não vou ser um dedo-duro do caralho... por mais que você mereça...  — Mihael falou, vendo o que deveria ser um leve fantasma de emoção na cara de Nate. Ele saíu de trás de seu colégio— sem nem danificar nada de seu pulmão, Mihael tinha até esquecido do porquê dele ter ido até ali —, indo embora para sua casa, satisfeito, por deixar Nate com cara de paisagem.

E de fato, aquele mero ato imprevisível foi o suficiente para deixar Nate impressionado, o fato de Mihael não ter o jogado do avião foi a possibilidade que ele menos colocou porcentagem, e de novo, havia calculado algo mal pela segunda vez no dia — e isso é algo que Nate nunca vai se acustumar —.

Nate olhou rapidamente para sua arte, pensando se deveria limpar enquanto a tinta ainda estava fresca. Pensou um pouco, e mais um pouco, e ainda mais um pouquinho, apenas para ter certeza que um mal cálculo não iria acontecer.

E no fim, Nate resolveu ir para casa, com a conciência limpa.

Ele resolveu confiar em Mihael, já que de acordo com seus cálculos infalíveis, Mihael era tudo, menos um mentiroso.

Bem... Isso na teoria seu Nate optou por acreditar, já que aquele que sempre se provou previsível simplesmente saiu do roteiro.