crise de desregulação.

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- Chan-hyung? Está acordado?

Felix bateu na porta e chamou por seu irmão, ouvindo um "entra" baixo e apático em resposta.

Quando Lee entrou, a cena era de cortar o coração. Bang Chan era um rapaz tão bonito, com um sorriso gentil que irradiava felicidade, só que tinha dias em que ele não parecia tão feliz. Hoje era um dia daqueles, onde Chan apenas deita em sua cama, chora e quer ficar sozinho.

Felix odeia esses dias.

- oi hyung, você tá bem hoje? - ele disse se aproximando da cama de seu irmão mais velho.

Chan olhou para Felix e tentou sorrir respondendo: - não muito.

Ele odiava dar esse tipo de trabalho para Felix, ainda mais quando o Lee já tinha seus próprios problemas, talvez bem mais sérios, para se preocupar, mas Chan já não conseguia mais controlar a frequência com a qual se sentia mal.

Altos e baixos são normais, Chan aprendeu isso desde novo, só que as vezes os baixos são muito mais baixos do que os altos são altos. As vezes ele sente que sobe um degrau de escada para cair de um penhasco, é péssimo pensar nisso.

Mas naquele dia Felix queria animar Chan.

- vamos lá para fora, hm? Faz tempo que você não desenha, talvez você encontre inspiração vendo um pouco de luz do sol. Ah, e se você não se sentir legal, a gente pode voltar depois sem problemas. - pediu o mais novo.

E sinceramente, Chan não queria, porém se deixou levar, porque Felix é um garoto doce e apenas quer ajudar de sua forma.

Ele não tem culpa das crises de Chan.

Lee estava animado, pegou o caderno de artes do irmão, seu estojo de colorir e arrastou Bang para a mesa de madeira que ficava no quintal da casa deles, com um sorriso de orelha a orelha.

Ele tirou a capa plástica que protegia a mesa da chuva e colocou as coisas do irmão ali em cima, sentando-se de frente para ele.

- o que quer que eu desenhe? - Chan perguntou, olhando em volta e percebendo como o dia ficava bonito após uma chuva.

- pode ser uma flor? - Felix sugere e Chan acena com a cabeça.

Então ele se põe a riscar com delicadeza a folha em branco, dando forma a flor que Felix pediu. O clima estava tão agradável e bom que Bang até pensou que seu humor poderia melhorar.

Porém a brisa leve balançava as folhas das árvores do quintal dos rapazes, e como havia chovido um pouquinho mais cedo, pequenas gotículas de chuva começaram a cair e quando uma pingou em Felix, ele se sentiu incomodado.

- Chan-hyung, tá chovendo? - ele perguntou ao mais velho, que tirou os olhos de seu desenho e olhou para Felix.

- não Lix, é apenas água que caiu na árvore eu acho. - ele respondeu, voltando para o desenho.

- mas não caí água da árvore, só cai folha. - Felix olha para o alto e aponta para a árvore.

- água caiu na árvore, agora o vento tá ajudando a secar, entendeu? - Chan disse continuando a desenhar, entretanto Felix não havia entendido.

Parecia complexo em sua cabeça cair água da árvore ao invés de folha.

Ao sentir pingando em sua camiseta outra vez, ele chamou o irmão novamente: - você tem certeza que não tá chovendo? Eu tô sentindo pingar.

- sim tenho certeza. Olha o sol Lix, não tá chovendo.

- sim, tem sol, mas porque tem água pingando na minha camiseta? - Felix estava começando a soar irritado.

- porque choveu na árvore e agora o vento está secando ela. - Chan explicou outra vez, agora se atentando mais ao irmão, temendo que o mais novo tivesse uma crise.

Mas era exatamente o que estava acontecendo.

Os olhos de Felix se encheram de lágrimas e suas mãos começaram a tremer, aquilo foi o suficiente para Chan ficar em alerta e respirar fundo, sabendo que precisava ser paciente, começando a repassar em sua mente seu mantra para não perder o controle.

"Felix não tem culpa disso".

"Felix não quer me machucar".

"Felix tem autismo e está em crise, ele só precisa se acalmar".

- Lix, eu tô aqui. - ele disse antes de, de fato, Felix começar.

As vezes, quando algo não previamente programado em seu cérebro acontecia, Felix tinha crises. Quando era mais novo, era muito pior, mas conforme cresceu, ele tentava lidar da melhor forma possível com as eventualidades. Era mais raro, mas ainda acontecia.

Viver não é uma linha reta, infelizmente, tudo tem seus altos e baixos, e agora Chan acha que Felix está atingindo o baixo dos baixos, enquanto ele cerra o punho e encara o irmão com fúria.

- você sempre mente pra mim. - o tom de voz de Felix se eleva - sempre me trata como a porra de uma criança, que inferno! - exclama e deixa um soco na mesa - eu tenho 16 anos não 2, caralho! Está chovendo e você continua mentindo pra mim, que merda!

Chan fica quieto. No passado, ele tentava acalmar Felix durante suas crises com contato físico, porém o mais novo sempre lhe machucava com beliscões, mordidas e até mesmo com socos. Aquilo apenas o irritava mais, por isso Chan apenas respirava fundo e deixava Felix extravasar tudo o que sentisse para fora, tomando o cuidado de não deixar nada pontiagudo ou que pudesse machuca-lo em seu alcance.

Doía para Chan ver seu irmão tão furioso consigo, mesmo que compreendesse que não era culpa dele, internamente Chan se sentia impotente por não poder fazer nada além de assistir a crise.

Era tão difícil ter esse tipo de responsabilidade quando Chan não era forte nem por ele mesmo. Ele tinha que se lembrar constantemente de que assim como Felix não tem culpa de suas crises depressivas, Chan não tinha culpa das crises de desregulação de Felix.

Felix consumido pela sua crise atirou o estojo e os lápis para longe, pegou o caderno e rasgou o desenho inacabado do irmão, enquanto gritava todo o tipo de xingamento que conhecia e maldizia o irmão, que apenas tentava se manter calmo.

Nem sempre Chan conseguia se controlar, por vezes gritava com Felix, mas se arrependia meio segundo depois. Se sentia um péssimo irmão, independente de qualquer reação que tivesse às crises de Felix.

O garoto mais novo continuava a rasgar o papel e gritar, depois abaixou a cabeça e começou a puxar o próprio cabelo, chorando amargamente e alto.

E assim como atingia o seu ápice de irritação, gradualmente Felix ia se acalmando e voltando a si, se arrependendo de seu comportamento anterior, mesmo que tivesse noção de que ele não possuía culpa.

Era nesse momento que Chan podia finalmente abraçar forte seu irmão e lhe dizer que estava tudo bem, mesmo que ambos chorassem. Era aí que Chan fazia carinho em seus cabelos até que o outro parasse de soluçar.

O desenho foi arruinado e a tarde calma e bonita agora parecia bem mais agridoce. Mas Chan sussurrava docemente para Felix, que não importava quantas gotinhas de água da árvore pingassem, ou quantos desenhos seus fossem destruídos, nada mudaria o amor que ele sentia, e mesmo que no mais baixo de seus baixos, Chan ainda seria um alicerce para seu irmão em todas as suas crises.

- eu te amo.

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N/A: olá, essa oneshot é uma espécie de desabafo, pois eu enfrento algo parecido em casa.

espero não ter sido capacitista em nenhum momento, não é minha intenção ofender e estou disposta a aprender caso tenha cometido algum erro. no mais, espero que tenham gostado.

i love you | chanlixOnde histórias criam vida. Descubra agora