Metamorphose

Esconderijo

Ele está amando poder curtir com a minha cara porque sou sua nova funcionária. Queria poder responder o que estou pensando, mas vou ser educada.

- Eu sei disso, desculpa chefe, mas preciso ir. Não quero me atrasar no primeiro dia de trabalho e não estamos falando sobre nada produtivo.

Stella e eu saímos andando adequadamente, como se isso não me afetasse nem um pouco. Aperto a mão de Stella para garantir que não me deixarei abalar até que estejamos longe da vista de Murilo e então desmorono. Tenho certeza que Murilo percebeu minha voz de raiva, tristeza e ironia nas palavras ditas, afinal ele não é um completo imbecil.

- Que cara patético e convencido. Como ele se atreve dizer aquilo para você? Quem ele pensa que é? - diz Stella, indignada.

Por mais que estejamos em um lugar praticamente isolado, sinto como se alguém estivesse nos observando. Olho para trás, mas não há ninguém. Deve ser coisa da minha cabeça, não tenho dúvidas. Já estou ficando paranoica.

- Vanessa, já que infelizmente você não tem escolha a não ser trabalhar para esse otário, faça com que ele pague por tudo o que fez com você. Ele merece sentir na pele tudo que você sentiu. Claro que você não vai deixar de ser profissional, porém um pouco de provocação não faz mal a ninguém. Faça Murilo perceber o que ele perdeu, mostre que você é tudo e muito mais. Você é sensacional! - ela sugere. - Estou certa de que ele irá se apaixonar por você, assim como você se apaixonou por ele. E é aí que você vai pagar na mesma moeda, ferindo os sentimentos dele, como esse cretino fez com você.

- Isso não combina comigo, Stella. Eu não quero nem que ele sonhe que tem chances. Estou saturada desse cara e desse assunto também. Vamos esquecer isso e sair para comer, essa festa chique só tem comidas esquisitas e nojentas. Prefiro comer Korean bbq chicken wings. Vamos? - digo pegando sua mão. Sei que ela jamais irá recusar.

- Vanessa, amiga do meu coração, eu posso arrumar a roupa que você vai ir trabalhar amanhã?

- Claro... Que não! - exclamo. - Óbvio que não pode. Você vai querer me vestir com alguma coisa extremamente extravagante. Eu já disse que não vou tentar provocá-lo, então a resposta é um grande e bem pensado NÃO.

- Nem queria mesmo - ela retruca, fazendo cara de magoada e beicinho. Como se eu já não conhecesse esses seus truques baratos.

- Não adianta! Eu não vou cair nessa. Termina aí que vou lá pagar a conta.

Evidentemente não vou poder trabalhar tranquilamente como pensei. Espero apenas que haja alguém amigável, é horrível não ter com quem conversar. Curtir solidão nem sempre é bom. Tenho a Rebeca, porém não ficaremos muito tempo juntas.

- Olá, boa noite - cumprimenta o atendente.

- Boa noite, eu vim pagar a conta.

Gosto desse lugar por isso, uma comida maravilhosa, num preço essencialmente bom. Sem contar que é no ar livre e é sempre um atendente gato que me atende.

- Gostaria de um hambúrguer - escuto uma voz masculina e logo me arrependo de não ter pedido o mesmo que ele. Olho em sua direção.

O moço é alto e tem boa aparência. Não me parece estranho. Sinto que já o vi milhares de vezes, mas ao mesmo tempo não o reconheço. Ele termina o pedido e escolhe uma mesa. Impossível não reparar. Ele usa uma jaqueta preta, tem cabelos levemente ondulados e só a altura já chama atenção. Pelo estilo eu diria que, provavelmente, também acabou de sair de uma festa. Olho para a Stella só para confirmar o que já sei, ela também está observando o rapaz.

- Por que demorou tanto? - reclama Stella, brava.

- Para de ser apressada menina - retruco. - Eu trouxe bala que você gosta e sei muito bem que você não se importou nem um pouco em ficar aqui admirando o bonitão.