Capítulo 3 - Revivendo o passado

370 35 11
                                    

[Capítulo editado e revisado]

Minha avó sempre foi meu porto seguro em diversas situações. Quando meu pai foi embora, na época eu tinha uns 12 anos de idade. Ele passou pela porta segurando as malas, alegando que minha mãe não tinha sentimentos, que era fria, não era como antes, e que ele não aguentava mais. Sabe... as vezes eu o entendo, mas o que eu havia feito de errado? Eu nunca entendi o porquê dele não ter voltado para me ver. Eu chorei diversas noites e minha vó sempre estava lá para cessar os meus prantos.
No meu aniversário de 14 anos, no ano passado, eu enlouqueci! Era de noite, já havia passado das onze, e eu como uma adolescente que não tem juízo, influenciei a minha melhor amiga, Amanda, a fugir comigo de madrugada, para aproveitarmos meu aniversário. Como o previsto, ela aceitou.

Foi a pior ideia que eu já tive em toda minha vida!

Era óbvio que não iria dar certo. Eu por outro lado, não quis enxergar! Eu estava no auge da rebeldia, não respeitava e obedecia ninguém. As pessoas passavam a mão em minha cabeça, alegando que eu perdi o meu pai recentemente, mas essa foi a gota d'água... O estopim!
Eu e Amanda estávamos voltando para casa trocando as pernas, por ter bebido uma garrafa de vinho que eu achei na dispensa da minha casa. Eu não vi. Ela não viu. Foi muito rápido. As memórias ainda se embaralham em minha mente, procurando um caminho para me encontrarem, mas eu as jogo para longe, porque eu não quero lembrar!
De repente, são apenas sirenes, gritos, alvoroço, choro, correria e Amanda não estava mais ao meu lado. Foi quando me dei conta de tudo. Amanda não estava mais comigo. Ela estava jogada em frente a um ônibus, desacordada.

No momento eu não sabia reagir. E como saberia? Eu estava bêbada. Só consegui dar mais alguns passos em sua direção e cair ao seu lado. Eu simplesmente apaguei. Não lembro de mais nada.
Quando acordei eram só gritos, choros, acusações...

"Você é a culpada!"

"É tudo sua culpa!"

"Não deveria ter deixado ela se juntar com você!"

"Por que fez isso?"

"Isso só aconteceu por sua causa!"

"Onde estava com a cabeça?"

De certa forma... Sim! É tudo culpa minha! Eu tinha plena consciência disso. Eu apenas me acalmei e esperei me levarem para casa, depois de vários interrogatórios. Minha mãe não falava mais comigo e eu não queria falar com ela. Comecei a pensar que talvez fosse por isso que meu pai tinha me deixado: Eu era apenas um problema.
Me permiti chorar depois no vazio do meu quarto, até que escutei a porta se abrindo. Era minha vó. Ela não disse nada, não precisava. Ela me abraçou e deixou que eu colocasse tudo para fora... até eu adormecer ali, em seus braços.

Ela é tudo para mim! A única pessoa que eu amo nesse mundo inteiro. Por isso, não vou deixá-la sozinha quando ela precisa de mim.

No momento estou arrumando minhas malas. Não vou levar tanta coisa, porque só vou ficar uns dias até ela se sentir melhor, até porque eu também tenho aula, por mais que eu não me importe muito com a escola no momento atual da minha vida. Minha mãe já está ciente.

Ainda é bem cedo, vou chegar lá antes do almoço. Entretanto, não sei se vou conseguir ver o Raul. Aliás, estou indo para cuidar da minha vó. Além disso, ele nem sabe que estou indo para lá, eu fiquei com tanta raiva da minha mãe que me esqueci de contar. Acho que nem vou avisar, não preciso enchê-lo de esperanças vazias.

Passo pela minha mãe em direção à saída e a mesma nem tem o trabalho de olhar para mim. O que ela achou que eu fosse fazer logo depois que ela me contasse? Sentar e aplaudir as atitudes dela? Sem chance!

Telefonei para um uber de confiança que me aguardou no portão, em frente à minha casa. Coloquei minha bagagem na mala e me sentei no banco traseiro. Decidi dormir durante a viagem, já que seria cansativa. Coloquei meus fones de ouvido e me deixei mergulhar ao som de "Reflections", desejando que eu chegasse logo.

Entrelaçados Ao AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora