O destino é mais cruel

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“Pode haver momentos em que somos impotentes para evitar a injustiça, mas nunca deve haver um momento em que deixemos de protestar.”

Elie Wiesel

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Jack:

Armando puxou o ar com força e soltou de uma vez, ele estava se preparando para contar o que quer que fosse.

– Quando eu tinha 22 anos eu namorei com uma mulher durante 3 anos, foram os três anos mais felizes da minha vida, mas eu deixei essa mulher por outra mais rica por causa da minha família, foi a pior decisão que eu poderia ter tomado. Com essa mulher mais rica eu tive 4 filhas, a vida era tolerável, as minhas filhas faziam a minha vida ser melhor. Eu me candidatei a prefeito e saí pelas ruas atrás de votos. A minha antiga namorada se casou e teve um filho, ela parecia feliz, a gente se via, mas não se falava muito. Mas quando eu comecei a pedir voto, o marido dela começou a me ajudar na campanha e a gente voltou a se falar, com isso o amor de anos atrás voltou.

       – Para!- Eu o interrompi, eu tive que perguntar para ter a certeza, porque não podia ser verdade, ele não estava falando sério.– Você e a minha mãe tiveram um caso?

       – Foi muito mais que um caso, era amor, o mais profundo deles. Mas eu estava no meio da campanha, não podia me separar da minha mulher para ficar com a… Helena.

Quando eu pensei em dizer alguma coisa eu escutei a voz de Rebeca, escutei ela dizer "Não". Olhei para o senhor Armando e ele também tinha escutado.

       – Você disse que me amava, o que está fazendo agora? Eu posso ouvir seu coração, ele me diz que você anseia por isso. - Eu já tinha ouvido aquela voz em algum lugar, eu sabia quem era.

O meu sangue gelou, eu pensei nas piores coisas do mundo, em alguns segundos eu já tinha imaginado mil e um cenários diferentes do que poderia estar acontecendo agora, e todos eles se resumia em Rebeca odiando o que quer que estivesse acontecendo ali. Não esperei nem mais um segundo, abri a porta rapidamente e eu vi a pior cena do mundo. Aquele policial que bateu na minha porta atrás do Lucas, estava agarrando a minha mulher, ele estava pedindo para morrer?

Mas antes que eu pudesse pular em cima daquele cara de arranca-lo de perto da minha garota, Armando tinha feito aquilo para mim, em um piscar de olhos Armando saiu do meu lado e começou a socar o cara.

Eu vi os olhos de Rebeca cheio de lágrimas a pele pálida e a boca tremendo de medo, eu cogitei a ideia de participar do espancamento junto com o Armando, mas me contive o mais importante agora era ter certeza de que a Rebeca ficaria bem, eu me resolveria com aquele filho da puta depois, agora eu tinha que cuidar dela. Aparentemente ela nem tinha notado a minha presença ainda, ela estava encarando seu pai, ela deu um passo para frente, mas eu segurei, ela não podia ver o pai dela naquele estado, então eu a abracei para que ela não visse aquela cena e fiz a pergunta mais idiota do mundo.

       – Você está bem?- Depois que disse aquilo eu senti vontade de rasgar a minha garganta, a resposta era óbvia, não, ela não estava bem!– Vamos entrar, se eu passar mais um minuto aqui eu vou matar alguém.

Eu estava me referindo aquele merda que tinha ousado tocar nela.

Quando entramos as irmãs dela estavam lá perto do sofá, assustadas e curiosas, elas começaram a fazer inúmeras perguntas, uma atrás da outra, sem pausa, como se a Rebeca estivesse bem para responder. Eu já estava estressado, com muito ódio meu coração, e ver as irmãs dela não percebendo a situação me deu mais ódio ainda, eu sei que elas estavam preocupadas mas aquele não era um momento de fazer perguntas.

Dores Que CompartilhamosOnde histórias criam vida. Descubra agora