INUMANOS: Amar Ou Destruir

Prefácio

4 ANOS ANTES

Minha perna balança incontrolavelmente enquanto assisto dois garotos lutar em uma arena, um deles, totalmente habilidoso e sábio e o outro inexperiente e fraco. Isso é o que acontece em Katahrean quando se completa 16 anos de idade: a Luta de Revelação de Dom.

Ambos estão ali por longos minutos, um intocado e o outro bastante cansado e ferido, porém, mesmo assim a luta não pode acabar, apenas quando o dom for revelado... ou ele — Deyan, esse é o nome do garoto inexperiente — estiver inconsciente.

O garoto de pele negra e cabelos cacheados ataca o outro, todos os golpes desferidos é atingido com violência em Deyan. Ele se afasta. Um rastro vermelho de sangue escorre pelos lábios enquanto respira fundo. Sua feição carrega raiva e dor.

Vejo a mandíbula dele travar, todo seu corpo está teso, os punhos estão serrados. A raiva começa a se transformar em ira, percebo pelo fato do seu respirar acelerado e pelo o tremor do corpo. Um grito explode da garganta quando ele parte para atacar. São golpes que não tem êxito, pois o outro consegue desviar com facilidade, e por uma distração mínima Deyan consegue fazer o oponente perder o foco.

Levaria apenas uma fração de segundo para que o outro execute um bloqueio, mas Deyan é tão rápido que consegue atingir bem a tempo o corpo do garoto. Uma onda vibrante explode da mão de Deyan e faz com que seu adversário voe em uma velocidade descomunal e se choque contra o vidro de proteção à minha frente. 

O susto me faz parar de balançar a perna.

Vejo o sangue escorrer na parede de vidro e aquilo me deixa ainda mais acelerado.

Um sorriso se abre instantaneamente nos lábios ferido de Deyan e seus olhos esverdeado brilha em contentamento. Finalmente seu dom foi revelado, ele comemora em meio ao urro da plateia que o assiste.

Aos poucos o garoto caído se levanta e segue até Deyan que está com o punho erguido em comemoração, ao se aproximar ele faz uma reverência e depois abraça o vencedor.

O anunciador encerra a luta, e de onde estou ouço a algazarra da plateia que fica nas arquibancadas acima da sala de espera onde me encontro, mas o som do lado de fora é abafado pelas vozes e aplausos daqui de dentro.

Observo os outros jovens que esperam junto comigo, todos ali estão eufóricos pelo fim da luta, e ainda mais pela à espera da sua chegada.

O tempo vai se arrastando e a cada minuto que se passa eu fico apreensivo.

É... a minha hora também vai chegar, e eu terei que lutar para saber qual será meu dom, já que outros testes não me revelaram absolutamente nada.

Para os idealizadores, depois que uma luta acaba não há tempo para preparo físico ou algo do tipo, então depois de um tempo a voz do anunciador retorna nas caixas de som e faz todos ali se calar. Ele fala algo sobre a revelação do dom do outro garoto e em seguida anuncia o próximo nome.

Karl-Ly Freestin.

Os olhares de todos caem sobre mim e eu congelo onde estou. O barulho da sala parece começar a ficar distante, pois ouço toda agitação perdendo sua frequência sonora.

"Você ouviu? É seu nome". Minha mente falou comigo? Ou foi a garota de cabelo cacheado ao meu lado que sorri para mim? Pelo o sorriso, acho que foi ela.

Queria ficar ali por tempo indeterminado, criando coragem para passar por isso e me sentir pronto, a verdade é que eu não me sentia, não agora

O barulho volta tão de repente quando sinto uma mão enluvada nas minhas costas, e quando me viro vejo o homem uniformizado que me levará para a arena.

— Sua hora chegou. — disse.

Eu não queria ir... agora não, mas eu não posso relutar, seria inútil.

Enquanto ele me acompanha para sair da sala ouço algumas palavras de encorajamento de colegas da academia onde eu estudo. Passo por uma porta de vidro fumê e deixo a sala de espera para trás.

_____

Estar na arena me deixa nervoso tanto pelos os olhares que me assiste quanto pela a pessoa que eu enfrentaria, embora eu ainda não saiba quem é. Às vezes, alguns lutadores são brutais conosco que teríamos o dom a ser revelado e eu não queria ser agredido brutalmente só para que meu dom se revelasse. Para os idealizadores, um combate corpo a corpo — e desigual — geraria raiva, ódio, medo e tantos outros sentimentos ruins que faria o dom inflar e expandir dentro de si e só assim poderia ser revelado, mas para mim isso é apenas um reality violento.

Encaro o telão acima que me mostra. Sou um garoto normal, magro e de pele clara, com cabelo escuro que vai até a altura dos ombros. Por sorte meu semblante está neutro, não deixo transparecer meu incontentamento por estar aqui. Procuro meus pais e meu irmão, mas não os encontro em lugar algum, então, respiro fundo e tento manter meu coração compassado.

A seguir o anunciador apresenta meu oponente:

 — Ele é aluno do último ano da Academia KataÃm, possuidor do dom da eletrocinese — disse animado. — Seu nome é Laws Akarov.

E ele entra na arena, com um sorriso no rosto. Laws é o garoto mais popular da academia onde estudo e em lutas ele é o mais brutal. O observo entrar, Laws é loiro, o cabelo desgrenhado o deixa sexy, ainda mais com aquele sorriso estampado nos lábios, os olhos são escuros e a pele é clara, não mais que a minha. Ele é alto e apenas 4 anos mais velho que eu... apenas.

Não, não, não. Ele não, suplica minha mente.

Algumas pessoas gritam em euforia quando o anunciador fala seu nome.

Ele tira o casaco e fica apenas com uma camisa regata branca justa, os músculos salientes do abdômen e peitoral se mostra quase invisível sob o tecido.

Na academia todos só tem olhos para ele, afinal, ele é o garoto erudito do último ano, e o mais gostoso.

Sim, ele é absurdamente gostoso!

Mal percebo quando ele fala, não sei se por nervosismo ou por estar com o olhar tão concentrado nele.

— Tá pronto?

Meu cérebro dá uma guinada e me faz ficar confuso em relação ao que ele falou.

— Hã? — Digo. Ele não repete, e segue em minha direção em toda velocidade, já com um semblante furioso.

Ele vira um borrão e quando o vejo ele já está em cima de mim com o punho fechado para me golpear. Eu não reajo, apenas recebo o golpe de forma avassaladora.

E tudo fica escuro.

...