02 - Desavença

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O Freestin Restrô fica localizado a poucos metros da praça central. É um restaurante de esquina com suas paredes pintadas de pretos e ornamentações feitas de madeira. Pelas as janelas de vidro e alguns carros estacionados vejo que o movimento está bom hoje.

Arrumo a mochila nas costas, enrijeço o corpo e fico mais ereto.

Eu sei o que me espera lá dentro: palavras que constantemente são desferidas a mim, palavras que me machuca, mas que em nenhum momento eu posso demostrar. Durante a vida, especificamente depois do dia da Luta de Revelação de Dom eu passei a ser menosprezado pelo meu próprio pai. Ser um rapaz normal, para ele — e para uma grande parte da sociedade — é abominável e justamente por causa desse pensamento sofremos diariamente injúrias, seja por palavras ou até mesmo agressões, quando acontecem.

No caso do meu pai, o que mais o corrói é o fato de eu ter nascido no dia da Manifestação do Céus e não ter sido agraciado com a dádiva do dom e isso o levou a pensamentos de que eu não seria uma pessoa digna e sim uma maldição, uma maldição que ele teria que suportar por me ter como filho.

Isso ainda me afeta, mas mesmo assim eu sempre tento bloquear as palavras e esquecer esse pensamento que ele tem sobre mim, embora seja bastante difícil.

Por suas palavras e também pelo o pensamento que ele tem sobre eu ser uma maldição, eu me deixei afetar, pela a dor e pela a raiva; esses sentimentos constantemente estão disputando dentro de mim com meus sentimentos bons. Por exemplo, o que aconteceu mais cedo, meu ataque à Deyan, foi mais um dos meus minis excesso de raiva, e, por sorte, eu ainda consegui me controlar.

Respiro fundo enquanto espero o fluxo de automóveis passar. O sinal fecha e eu atravesso a rua, ainda com Ayáh ao meu lado, ela disse que me ajudaria em algumas atividades. Claro que neguei, mas como ela é o típico de garota que não aceita um "não" eu tive que aceitar contra vontade.

Abro a porta de vidro e logo vejo minha mãe no balcão, ela é uma mulher bonita, com seus cabelos loiros e olhos azuis, a pele lisa e sem qualquer traço de rugas. Ela contorna o balcão e segue até a mim um pouco apressada.

Diante de mim ela fica na pontas dos pés e beija minha testa.

— Boa tarde, querido, como você? — Ela é assim: sempre carinhosa comigo e sempre preocupada. Ela abraça Ayáh enquanto segura minha mão direita e depois me conduz para trás do balcão. — Hoje o movimento está sendo bom, mas estamos um pouco atrasados com alguns pedidos. Por sorte, a Sibell e o Nao estão mais rápidos que tudo.

Vejo Sibell, a poucos metros atendendo uma mesa, em seguida outra. Nao está na bancada de café onde prepara algumas taças, há muitas já prontas para serem servidas. Ambos sejam normais igual a mim, e tenham quase a mesma idade que eu, eles são bem respeitados pelos os nossos clientes.

Não faço questão de perguntar pelo meu pai, mas minha mãe faz questão de falar.

— Seu pai saiu para comprar algumas coisas, não vai demorar muito. Então, troca de roupa e vai fazer algo na cozinha.

Apenas meneio a cabeça.

— Sra. Freestin, hoje eu vim para ajudar o Karl nas suas atividades de trabalho, o que eu posso fazer? — diz Ayáh.

— Que gentileza à sua! Você pode ajudar o Nao a servir.

— Tá certo. — Responde.

Ayáh me dar um sorriso e segue parar onde Nao estar. E eu entro para os fundos do Freestin Restrô onde fica a cozinha.

Em uma pequena salinha, troco meu uniforme por uma camisa vermelha e uma calça, pego o avental no cabide e sigo para a cozinha.

Maros, o cozinheiro prepara alguns pratos bastante elaborados, sempre com um sorriso no rosto. Ele não nota minha presença e eu só chamo sua atenção para perguntar sobre quais os pedidos mais atrasados.

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⏰ Última atualização: Jul 15, 2022 ⏰

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