Capítulo Único

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Um jovem alto e de cabelos esverdeados, visivelmente inquieto, batia à porta de uma residência em um bairro nobre japonês. Suas mãos seguravam seu skate, que usara para chegar ao local o mais rápido que pudesse. O motivo de sua pressa tinha nome e sobrenome: Kaoru Sakurayashiki.

Kojiro não costumava se preocupar demais quando se tratava do rosado, no entanto, especialmente naquele dia, o jovem Sakurayashiki havia faltado à escola e não respondera nenhuma das mensagens que o esverdeado deixara ao longo da manhã. Não que o rosado fosse do tipo que preferiria morrer à faltar aula, mas Nanjo podia contar nos dedos de uma só mão a quantidade de vezes que o rapaz deixara de ir à escola desde o jardim de infância.

E, como se já não fosse o bastante para despertar sua preocupação, sabia que os pais do rosado haviam viajado a negócios no último fim de semana, pretendendo ficar fora durante quinze dias. Ou seja, seu melhor amigo estava completamente sozinho em casa e não só havia faltado à escola como também não retornou suas ligações.

Batia naquela porta compulsoriamente. Gritou e chamou pelo rosado tantas vezes que até perdera a conta. Os vizinhos começaram a olhar pela janela, tentando entender a origem de tamanha balbúrdia. Alguns consideram ligar para a polícia, acreditando que o rapaz fosse um potencial perigo para a família Sakurayashiki mas, felizmente, as batidas e os gritos cessaram após ouvir um gentil "Já vai, caralho!!!" ser emitido do interior da casa e, para o alívio do esverdeado, era a voz de Kaoru.
Kojiro cessou as batidas e arrumou sua postura, esperando pelo rosado como um cachorrinho espera por seu dono.

Aguardou durante alguns minutos, mas, conforme a demora aumentava, ficava cada vez mais inquieto. Kojiro levantou sua destra, hesitante, planejando bater mais uma vez; no entanto, antes de atingir a porta, a mesma se abriu.

Não abriu muito, apenas alguns poucos centímetros. Do outro lado da porta, Sakurayashiki segurava a maçaneta, controlando o quanto do interior o esverdeado poderia ver. Olhando pela pequena abertura, Nanjo observou a escuridão que se encontrava o interior da casa atrás de Kaoru ou, melhor dizendo, atrás de seus cabelos. O rosado não o encarou, apenas abriu a porta com o rosto virado na direção oposta.

- O que você quer? - ele perguntou de forma seca e direta.

Kojiro observou atentamente o pouco que conseguia ver do rapaz. Percebeu que seus cabelos estavam despenteados, o que fez o esverdeado aumentar sua suspeita de que havia algo de errado, já que Sakurayashiki sempre fora vaidoso quando se tratava de seus cabelos.

- Eu vim ver você. - ele respondeu, deixando escapar um tom de preocupação em sua voz.

- Eu estou bem, obrigado.

Kojiro continuou observando o rapaz, estranhando seu comportamento.

- Porque não foi 'pra aula hoje?

- Eu perdi a hora. - o rosado respondeu depois de uma pequena pausa. Kojiro achou que a voz do rapaz estava diferente do usual: um pouco mais rouca e talvez até nasalada.

- Se tivesse perdido a hora, apareceria. Mesmo atrasado.

O rosado não respondeu.

- Você não costuma agir assim, Kaoru. - o mais forte disse em baixo tom, se aproximou vagarosamente da porta. Sakurayashiki não notou de início, já que seu rosto se encontrava voltado para a direção oposta, mas se deu conta do quão próximos estavam quando o esverdeado entrou em sua visão periférica. Tomando ciência da situação, arregalou os olhos como reflexo e, atendendo à seu instinto de fuga, se afastou da porta e correu rumo ao interior da sala.

Apesar de não ter sido convidado para entrar e de ter ficado com a ligeira impressão de que o rosado não queria partilhar de sua companhia, Nanjo aproveitou a brecha para meter a mão na porta e escancara-la. A escuridão do interior da casa foi quebrada pela luz que invadiu o cômodo. Kojiro olhou o ambiente rapidamente e concluiu que o Kaoru organizado e arrumado que conhecia não condizia nem um pouco com as embalagens de comida deixadas pela metade sobre a mesa de centro; muito menos com os cobertores desgrenhados sobre o sofá ou as dezenas de lenços de papel espalhados pelo chão. Em meio a bagunça, Sakurayashiki estava de pé, ainda de costas para o rapaz, trajando roupas largas e de limpeza duvidosa. Tinha algo de errado.

Are you... sick? (MatchaBlossom)Onde histórias criam vida. Descubra agora