Casamento

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Choro abertamente. Um gemido agudo é sufocado na minha garganta, mas o soluço que ele produz parece quase o uivo de um cão. Alterno entre fungar, soluçar e respirar vez ou outra. As lágrimas ensopam minhas bochechas e sei que, à essa altura, elas já devem estar avermelhadas. Sou um completo desastre.

Então olho para frente e escuto alguém dizer:

— Eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva.

Assisto o beijo mais apaixonado que já vi em minha vida. Ele me lembra das muitas cenas românticas que já assisti em filmes, ainda que o romance não seja nem de longe o meu gênero favorito, e não consigo evitar as lembranças em minha mente. Me sinto feliz por ter tido a oportunidade de presenciar uma história assim na vida real e, de certa forma, me sinto mais confortável com o papel de expectadora do que com o de protagonista.

Harry não foi a primeira escolha em minha mente para uma amizade quando ainda éramos crianças em Hogwarts. Na primeira vez em que vi ele e Ron de perto eles me fizeram chorar, mas lutar contra um trasgo quando se têm apenas onze anos é algo que aparentemente pode unir pessoas muito melhor do que gostar das mesmas músicas. Já Ginevra foi um porto seguro no meio da tempestade. Quando eu me sentia solitária ou desconfortável por ser uma nascida-trouxa aprendendo sobre o mundo bruxo, ela estava lá para me explicar o que fosse preciso e me lembrar de que havia alguém por mim incondicionalmente. Ver os dois finalmente unindo suas vidas após tantos anos de altos e baixos é como receber um final feliz em longo livro. Reconfortante, eu diria.

Depois do longo beijo e de muitos aplausos, Ginevra joga o buquê de girassóis para um grupo de garotas eufóricas. Sem condições de participar dessa luta de punhos, assisto Luna Lovegood agarrar as flores em pleno voo e saltar feliz, olhando para o namorado sentado na mesa. Ele dá um sorriso torto e por sorte não faz qualquer piada boba sobre querer fugir dela após isso, caso contrário eu teria que azará-lo. Satisfeita, Gina se volta para o agora marido, Harry, com um sorriso. Ele coloca suavemente sua mão ao redor da parte posterior do pescoço dela e a segura mais perto. Eles sorriem, lábios nos lábios, e eu sorrio também.

É tudo tão lindo, então eu volto a chorar. Muriel, a tia-bisavó de Gina que está sentada ao meu lado, me olha com a maior expressão de desgosto que é possível se fazer com um rosto rechonchudo e centenário. Ela me olha com uma mescla de preocupação e medo, e eu me lembro de quando Gina e eu conversamos há muitos anos sobre como ela podia ainda estar viva. Parecia um fantasma que não percebeu que já estava morto e continuava a andar por aí entre os vivos.

Trato de falar através da minha trabalhosa respiração e soluços, olhando-a de canto, mas é difícil.

— É simplesmente lindo. Tão lindo. E feliz.

Soluço de novo, dessa vez mais forte. Me afundo na cadeira de uma maneira totalmente imprópria pra uma dama, mas não ligo pra isso e deixo escapar um lamento baixo.

— Por Merlin, você está péssima.

O rímel molhado faz com que meus cílios grudem. Quando me dou conta de que a pessoa que disse isso é Gina, levanto meu rosto para ela e curvo os lábios em uma tentativa de sorriso.

— Você está tão bonita — digo enquanto tento enxugar as lágrimas. — Maravilhosa. Eu estou tão feliz por vocês.

Ginevra me entende. Ela sabe que naquele momento eu estou completamente emocional porque Harry foi o meu melhor amigo desde a infância, assim como ela. Houve um tempo em que não imaginava que os dois acabariam se casando, mas em algum momento isso se tornou óbvio e agora era real. Ela parecia pensar o mesmo, deixando seus lábios estremecerem e seus olhos se encherem de água também.

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