Três Vassouras

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Depois de uma semana inteira presa dentro de um cubículo no Ministério, agradeço aos deuses por ser sexta-feira. Atendi seis pessoas em um total de 40 horas de trabalho e me sinto o ser humano mais inútil do planeta, ainda que Bertie siga me dizendo que por mais que eu pareça não estar fazendo muito, na verdade, estou fazendo sim. Algo me faz pensar que ele disse isso para todos os demais até que eles se conformaram em passar a vida ali, cochilando em suas cadeiras.

Porém, eu não vou me conformar.

Na quarta-feira, durante o almoço, me inscrevo para a palestra de Direitos Constitucionais e para o curso de Feitiços Para Defesa Pessoal, ainda que eu já entenda suficientemente bem sobre ambos. Descubro que participar das atividades do Ministério não só faz bem para o currículo como também te liberta de algumas horas de serviço semanalmente e tudo se encaixou com perfeição como em um quebra-cabeças.

Na quinta conheço Hiram, um homem já na casa dos quarenta anos responsável por conduzir o curso. Ele nos dá uma excelente introdução do conteúdo, mas assim que começa a verificar os presentes na lista, é claro que faz uma pausa ao ler meu nome. Me tece elogios e fico constrangida, mas se considero que tudo voltará ao normal a partir daí, estou enganada. Ele simplesmente me dispensa do curso em seguida, dizendo que eu não preciso dele. E assim mais um fio de esperança morre.

Conto isso para Bertie quando ele estranha que eu tenha voltado rápido e ele parece não entender muito bem. Felizmente, em seus aparentes setenta anos, ele não está por dentro o suficiente das coisas e não deve fazer ideia do meu passado. Isso me alegra. Ao contrário de Ron, não gosto muito de ser reconhecida por aí. Sou mais como Harry nesse aspecto.

Não poupo detalhes ao dizer todas essas coisas para Ginevra no Três Vassouras e ela ri como se fosse a melhor piada do mundo. Acabo rindo também porque já estou tão desesperada que é isso ou chorar. Harry leva uma das mãos até a testa, envergonhado. Ele com certeza já passou por esse tipo de coisa durante o treinamento obrigatório do Ministério para tornar-se Auror. Posso ver as lembranças estampadas no seu rosto e isso me deixa um pouco menos inconformada. Não sou a única, afinal.

— Vamos falar das novidades — Gina interrompe o momento, percebendo que já estou começando a ficar desconfortável. — Gui enviou uma coruja para mamãe avisando que Fleur já programou o parto do bebê. Isso não é incrível? — ela bate palmas animadas. — Meu primeiro sobrinho. Ou sobrinha.

Harry comenta algo sobre como a medibruxaria está cada vez mais evoluída. Fico feliz em saber que mais um Weasley virá ao mundo em breve, então sorrio. Porém, algo ainda me incomoda.

— Não entendo por que vocês não fazem um exame para descobrir logo se é menino ou menina — Harry entende o que eu digo, tendo vivido com os trouxas por muito tempo também. — É tão simples. Os trouxas fazem isso o tempo todo.

Gina nos rola os olhos.

— Existe muita coisa envolvida nisso, Mione — ela começa, bebericando da sua cerveja. — É quase tradicional. Gostamos da ansiedade, da dúvida, da surpresa. Todos ficam tentando adivinhar. É divertido.

— Com certeza é — concordo, mas ainda não entendo por que pelo menos os pais não matam logo a sua curiosidade. Eu mataria a minha nem que precisasse ser escondido dos demais.

Ela parece ler meus pensamentos.

— Se um dia você ficar grávida e fizer isso, eu mato você.

Dou um sorriso amarelo e minto que tal ideia nem passou pela minha cabeça. Harry ri de nós.

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