"Laura é a face meio à luz nebulosa
Passos que você ouve pelo corredor
A risada que flutua numa noite de verão
Que você jamais consegue lembrar
E você vê Laura no trem que está passando
Aqueles olhos, o quão familiares parecem!
Ela deu seu primeiro beijo a você
Foi Laura, mas ela é apenas um sonho..." —música com interpretação de Julie London, em 1955
Sentou-se à penteadeira e olhou a si mesma no espelho, vendo, atrás de si, o reflexo de Charlotte aproximar-se. — Arruma-me, Lottie? — Ela perguntou, vendo a loira assentir e se empolgar, abrindo uma gaveta. — Eu gosto muito quando você faz isso, pois leva o maior jeito. Devia ser cabeleireira.
— Vou pensar. Só sei que gosto de arrumar você! — Charlotte diz, sorrindo a ela e dando-lhe um beijo na bochecha, seguido de um selar. Depois disso, já tendo começado, falou, muito baixo: — Só não queria que a finalidade fosse para ir dançar... A gente tem que sair dessa vida.
— Eu gosto de dançar, Lottie.
Com a fala, a outra respirou fundo e passou a prender o cabelo da morena, sem saber como convencê-la acerca daquilo. — Você sabe que eu só estou indo para você não ficar sozinha, não sabe?
— Pois então deixe de ir. Vá arranjar um emprego comum.
— É sério? — Irritou-se, olhando-a através do espelho. — É sério que está dizendo isso, Laura?
— Sim.
Olhou para a amiga através do espelho, vendo sua expressão mudar.
— Porra... — Soltou o cabelo da outra, indo para o outro lado do quarto. Sentia vontade de chorar. — Você não dá a mínima pra nada que eu faço por você, não é? Eu fico indo dançar como se não tremesse de medo toda vez, Laura, só pra não deixar você sozinha lá. Marietta não dá a mínima para o que eles fazem ou propõem. — Bufou, com as mãos trêmulas secando o rosto. — E pelo visto você também não. Não dá a mínima pra mim, não é?
Laura ficou confusa, mesmo já conhecendo Charlotte. Ela sempre foi assim, de ímpetos. Às vezes sentia como se estivesse se equilibrando na beira de um precipício ao estar com Charlotte e, de vez em quando, a odiava por isso.
— Lottie, — ela se levanta, pegando nos seus ombros — eu te amo. Você é a melhor pessoa que já entrou na minha vida e é minha melhor amiga. Só estou dizendo que... Você não precisa fazer isso por mim. Eu não sabia que você estava indo só por isso.
Mentirosa, a outra pensou, enquanto a ouvia.
— Hoje vai ser a última vez, somente porque tenho que avisar para Conti... — Começou, olhando-a com as sobrancelhas baixas. — Eu vou voltar para a pensão de Martha e você não vai ter que carregar esse fardo pra lugar algum, Laura. Eu sei que você pensa que sou um. E eu devo ser. Sei lá, porra. Não sei. — Respirou fundo, parecendo mais segura. — Sente aí, eu vou terminar seu cabelo.
Jackson respirou fundo ao ouví-la, sentou-se e ficou olhando Charlotte penteá-la, parar de vez em quando para limpar as lágrimas, aspirar fundo e aplicar um pouco de laquê. Desta forma, suas mãos estiveram inquietas e ela mesma não conseguiu; após um silêncio comprido, debulhou-se em lágrimas, borrando toda sua maquiagem. — Desculpa... — Laura murmurava, fungando. Seu nariz entope completamente ao chorar e, por isso, odiava fazê-lo. Mas não controlou.
Charlotte pareceu atordoada, surpresa. Algumas lágrimas caíram-lhe também e ela ajoelhou-se ao lado de Laura, segurando suas mãos e olhando-a, ainda um tanto confusa. — Acho que sou eu quem devo me desculpar... Eu sou uma idiota. Odeio te ver chorando, Laurie... — Assim, passou a mão pelo rosto da outra e Jackson aconchegou-se ao toque como um gato, encarando-a. — Que droga. Odeio te ver chorar. Desculpa, tá?
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Face primaveril na noite nebulosa
ChickLitDa mais variada forma, as ações e tempo estão inteiramente interligados e, dependendo da maneira que se dispuserem por escolhas, vão demonstrar teias de diferentes variáveis. Ao contrário do destino que lhes foi dado em Perfídia, em "Face Primaveril...