CAPÍTULO III - Lua crescente

9 3 2
                                    

complete-me, esteja comigo, é tempo ainda.
faça sentido, de forma qualquer...

— Sinto muito pela situação, senhoritas, mas é necessário. Preciso fazê-las perguntas sobre a senhorita Agatha Olshaker. — Foi o que dissera o detetive, e Charlotte o olhou com certa raiva. Laura, apesar de tudo, limpou o rosto e respirou fundo, se mostrando disposta a falar. 

— Qual é seu nome, hein? — Foi a loira a perguntar, cruzando os braços. 

— Benson, senhorita. 

— Eu estou perguntando o nome inteiro.

— Joseph Benson. 

— Sei. 

Fazia quase um ano que tinha voltado de Minnesota. Sua vida estava encaminhando e, naquele dia de folga, tinha recebido a notícia de que uma das garotas do dancing que trabalhava tinha sido assassinada. Situação foi, veio, e agora estavam sendo interrogadas por um detetive por terem vindo ao encontro de Lady Conti. Marietta Conti, aliás, tinha falecido. A situação era deveras desconfortável e Charlotte tentava driblá-la de sua forma; naquele dia, em especial, não tinha acordado se sentindo bem nas áreas mentais. Estava impaciente, ranzinza, e tudo de ruim. Talvez fosse o período próximo de chegar, ou algo semelhante. Ou a sensação esquisita, quase nostálgica, de morte. 

Não foi uma experiência de fato agradável ser interrogada, e isso não acontecia há tempos. Era estranho. Uma forma muito específica de julgamento, até cuidadosa, e violenta por sua ação. No entanto, apesar de tudo, não estava mal pela morte de Agatha. Além de, na verdade, ser um dia esquisito para suas faculdades psicológicas — usava vários termos para referir a si mesma, na verdade —, não era próxima da vítima. Não lhe foi bom, o dia.

O detetive em questão conversou com todos os funcionários presentes, junto a um outro homem que, na verdade, era tremendamente mais simpático que ele. Mas Charlotte tinha sentido algo; Um alarme; um ímpeto. — Me diz uma coisa, Benson. Você fuma?

Joseph a olhou com estranhamento. Ele estava num canto observando a situação e tomando notas, esperando Lady Conti procurar alguma documentação. 

— Não. 

— Não minta, vai. Dá pra ver. 

Ele respirou fundo, como se realmente não quisesse responder. Mas o fez. 

— Eu fumava. Estou tentando parar. 

— Sei... 

— Por que a pergunta?

— Ah, eu ia te oferecer um. Está todo nervoso. — Os olhos de Joseph tomaram outro tom (não literal) ao observar que, de fato, havia um maço nas mãos de Charlotte. Muitas pessoas fumavam ali, mas procuravam evitar no salão desde que Conti adoeceu. Ele sentiu uma sensação esquisita, como se a boca secasse, as mãos perdessem exatidão e ela, no entanto, observou como se tivesse entendido a situação. — Porra, você tá muito fodido!

Benson fez uma expressão de descontentamento e respirou fundo, encostando a prancheta. Sabia que já não ia se concentrar. 

— Por que diz isso?

— Só fui perceber o problema quando olhei bem sua expressão. Olha — desta forma, jogou o maço de volta pro balcão — apesar de você ser insuportável, deve ter algum lado da fruta podre que presta, então... Continue buscando se afastar mesmo. 

— Isso é, no mínimo, bem hipócrita. 

— A parte de ser insuportável?

— Não. A parte de que você mesma me ofereceu o cigarro e agora está dizendo para eu ter cuidado com isso. 

Face primaveril na noite nebulosaOnde histórias criam vida. Descubra agora