amo-te, e é tremendo o quanto
— Laura. Laura. Laura? — Charlotte mexia na amiga, buscando acordá-la. A sonolenta em questão acabou por o fazer e a encarou com os olhos semicerrados, sem nada entender e sem parecer lembrar onde estava. A loira riu, pois sempre achava bonita a feição brava e perdida de Jackson ao acordar. — Estamos chegando na cidade. Estando lá, vamos ao cemitério e... Bom, acho que vou visitar minha avó, então temos de tomar um carro. Tomara que meu pai não tenha dito o que sabe ou inventado coisas ruins de mim... Minha avó é um tanto... Muito do tempo dela.
— Certo. Vamos. Falta muito tempo?
— Ah, não. Mais ou menos meia hora...
— E por que me acordou agora?
— Queria ouvir sua voz... Ficar em silêncio estava me deixando louca. Conversar com os pensamentos não é saudável.
Laura assentiu, bocejando e assentindo. Estavam numa cabine de trem. Coçou os olhos, segurou a mão de Charlotte e a outra deixou de encarar a janela, o sol nascendo, e ficou encarando-a também. Johnson não sabe quanto tempo passou, só que neste todo ficou perdida nos olhos dela, sentindo sua garganta contorcer na vontade de chorar. Odiava a forma que era sensível em diversos momentos, e até demais.
— O que está olhando, Laura? — Quebrou o gelo, por fim, limpando uma lágrima. Falou isso assim que percebeu que iria chorar. Não queria isso. — Está com cara de quem quer me beijar. — Sussurra, por fim, com o princípio de um sorriso.
Jackson arregalou brevemente os olhos, com o rosto avermelhado.
— Mas saiba que não irei. — continuou — Acordaste agora e está com bafo. E você baba dormindo.
— Desgraçada! — Laura fingiu batê-la, rindo. Depois checou o próprio hálito. — Não está tão ruim. Não acredito que disse isso!
— Então você admite, né? — A outra rebateu, se divertindo com a situação. — Boba!
Ainda demorou algum tempo até chegarem a Minneapolis. Lá, Charlotte teve pressa em apanhar um carro e seguir ao cemitério, mas antes pediu parada numa floricultura próxima e comprou lírios brancos, finalmente indo até o destino. Ela só tinha ido lá uma vez. Deixou as malas próximo do local e arrumou sua roupa — que era, na verdade, bastante composta para o usual; uma camisa de gola alta, canelada e saia de alfaiataria, ambas pretas — e segurou as flores com cuidado para ir até lá.
— Oi, mamãe. — Sorriu, mas por muito pouco tempo, parando na frente do túmulo. Laura estava logo atrás. Abaixou-se um pouco, então, colocando o buquê acima da estrutura de concreto, vendo o pequeno retrato da mãe colocado lá, ao lado de seu nome. Eleanor Von Reichenbach-Lessonitz. — Laura, eu... Acho que preciso ficar um pouco sozinha com ela, tá? Você pode me esperar lá na frente? Não irei demorar.
Desta forma, Jackson assentiu e pegou a mala que elas compartilhavam, assim como a de mão, indo para a porta do lugar. Enquanto ia, de vez em quando olhava para trás e olhava Charlotte chorando, conversando com o túmulo. Já mais longe, ficou observando a situação com mais atenção, de onde já não ouvia nada. Viu a loira chorar copiosamente, bater os pés no chão, abraçar a estrutura de concreto, passar a mão pelo retrato e continuava falando, encolhida. Ela ficou mais de meia hora ali. Laura sentia um frio na barriga terrível em vê-la cabisbaixa como uma criança perdida; e Charlotte agia assim algumas vezes. Às vezes parecia que algum lado dela não havia de fato amadurecido. Ou endurecido com o tempo, se há outra interpretação. Charlotte ainda sentia tudo na sua forma mais lírica, apesar das coisas que viveu. E esta sua forma quase única era o que a tornava quem era.
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Face primaveril na noite nebulosa
Chick-LitDa mais variada forma, as ações e tempo estão inteiramente interligados e, dependendo da maneira que se dispuserem por escolhas, vão demonstrar teias de diferentes variáveis. Ao contrário do destino que lhes foi dado em Perfídia, em "Face Primaveril...