01 - Tudo o que vai, volta!

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Dulce estava caminhando pela praça da cidade. Acabara de voltar do cemitério onde Laura e sua mãe foram enterradas. Agora já não doía tanto. As lembranças ruins quase se tornaram saudosas. Porque apesar do inferno que a família vivera, Dulce ainda preferia tê-los de volta a sentir-se tão sozinha como se sentia naquele momento.

Lembrava-se com clareza daquela noite, três anos atrás, quando seu irmão Poncho chegara bêbado na cobertura de luxo onde ela trabalhava, avisando que recebera uma ligação do hospital dizendo que a mãe deles havia piorado. Ela não hesitara em partir para a sua cidade natal, apenas para descobrir que a situação da mãe não havia mudado em nada. Fora uma ocorrência estranha, e o hospital nunca encontrou o culpado pela tal ligação de mau gosto, mas talvez tivesse sido melhor assim.

Poncho foi voluntariamente de volta para a clínica de reabilitação, e Dulce teve algum tempo com sua mãe.

Blanca chegou até mesmo a acordar, depois de quase um mês que a filha chegara à cidade. Infelizmente, porém, dois dias depois ela faleceu.

Daniel voltara do litoral também, aparecendo no hospital no dia seguinte à chegada de Dulce. Ele fora seu porto-seguro naqueles dias. Como na adolescência, eles só tinham a eles mesmos. Também como na adolescência, Daniel acabou por ir morar na antiga casa dos Saviñón novamente. Dulce era grata pela companhia. Nunca estivera sozinha, e definitivamente não queria começar a tentar naquele lugar terrível, naquele momento terrível. Odiava a cidade, odiava a casa da família... No entanto, algo a prendia àquele lugar. Sabia que se falasse para seu melhor amigo que queria se mudar, ele arrumaria uma mala e a seguiria para onde quer que ela decidisse ir. Mas sua família, ou o que restara dela, estava ali. Não havia um lugar ao qual pertencesse mais do que sua pequena cidade interiorana.

Por isso, naquela tarde, ela estava conformada com sua vida pacata. Entre tudo que podia imaginar em seu futuro, definitivamente não esperava esbarrar com Paul Uckermann ali.

- Desculpe, senh... - ela piscou ao perceber em quem tropeçara. - senhor Uckermann?

- Ei! - ele rapidamente abriu aquele sorriso impecável.- Que prazer revê-la... Hm, Dulce, não é?

- S-sim, senhor.

- Ora, vamos. Apenas Paul, por favor. - ele pegou a mão dela, dando um dos beijos cavalheirescos que eram sua marca registrada. - Como vai, Dul?

- M-muito bem, sen... Paul. Um pouco surpresa em encontrá-lo aqui, confesso.

- Ah, você sabe, temos casa aqui perto, então acabo tendo amigos e clientes na região. Mas eu não sabia que você morava aqui. Se soubesse teria feito uma visita antes... - ele hesitou. - Fiquei sabendo que foi embora por causa de sua mãe.

- Sim. Consegui estar presente nos últimos dias dela, mas já faz quase três anos que ela faleceu.

- Sinto muito em ouvir isso.

Dulce ficou em silêncio, porque nunca sabia o que dizer quando alguém expressava seus pesares. Não era como se ela pudesse falar "tudo bem" ou "não tem problema" e soar sincera ao mesmo tempo.

- Perdão, mas preciso perguntar... por que você não voltou para a casa do meu filho? Digo, você voltou para cá pela sua mãe, certo? Mas agora... Com todo o respeito, Dulce, o que lhe prende aqui?

- Eu... - ela piscou. Não esperava essa pergunta, ainda mais de forma tão direta. - Eu não tinha motivos para voltar, acho.

- Oh, nós dois sabemos que isso não é verdade. - ele abriu outro sorriso encantador. - Venha, vamos tomar um sorvete ali e conversar melhor.

Assim como a filha, os convites que Paul fazia não eram perguntas, eram ordens. Então, ela se resignou a atravessar a rua com ele até a pequena sorveteria.

O Casamento (Vivendo entre os Uckermann #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora