☾ Prólogo

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Apaixonar-me por você, Gui, não estava nos meus planos

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Apaixonar-me por você, Gui, não estava nos meus planos. Você chegou de mansinho, como quem não quer nada, com aquele papo de que éramos bons amigos, quase família. Quando me dei conta, já estava escrevendo seu sobrenome depois do meu, colocando nossas iniciais na contra capa dos meus cadernos e fazendo corações em volta delas.

Eu já não era mais capaz de ouvir uma só música de amor e não pensar em você. Me sentia meio boba por ficar sorrindo pro teto, suspirando atoa só por causa de uma simples memória ou o pensamento ansioso de que te veria dali há algumas horas.

Ficava pensando que, se as pessoas fossem capaz de ler mentes, veriam o quanto eu só pensava em você, o quanto eu vivia pelos momentos em que estaríamos juntos. Porque amar você parecia a coisa mais fácil do mundo e, mesmo sendo tão nova, eu sabia que queria isso pra vida toda.

Ninguém era capaz de me fazer sentir segura como você fazia. Ninguém nunca parecia prestar suficiente atenção aos meus detalhes. Mas lá estava você, com seus olhos atentos e observadores, sempre captando as menores coisas sobre mim, mostrando-me que estava tão perdidamente envolvido nesse sentimento quanto eu.

E me pergunto em que ponto você desistiu tão facilmente de nós. Porque, se você sempre soube que uma hora ou outra partiria, qual o sentido de ter investido tanto nesse relacionamento, se ele fracassaria ao fim de tudo?

Porque eu estava disposta a fazer dar certo, Gui. Eu enfrentaria o mundo. Seríamos eu e você contra qualquer obstáculo, contra qualquer coisa que decidice se colocar entre nós. Mas você não parecia tão disposto a lutar e batalhar pra que isso desse certo. Principalmente quando tudo anunciava o fim, eu sentia que estava lutando uma batalha que já havia sido perdida. Você já tinha tomado sua decisão. Você partirira e levaria consigo uma parte de mim.

Pensei que essa parte me faria uma falta absurda. Passei meses me torturando com a ideia de que não era nada justo você simplesmente se apoderar do meu coração e levá-lo consigo, como se ele não fosse nada. Foi então que percebi que a parte que se foi junto com você já não cabia mais em mim. Libertar-me dela foi me redescobrir, foi entender que ninguém nunca morreu de amor e que eu não seria a primeira. Foi entender que essa dependência toda que eu tinha de você me sufocava até a alma e me tirava um pouco da parte que eu mais amava em mim.

Eu não te culpo por essa parte ter morrido por alguns anos. Jamais. Mas entendi que eu não preciso me esconder e me refazer somente pra caber na vida de alguém. Quem me quiser, vai me amar pelo que eu sou, não pela personagem na qual estou tentando me transformar.

Acho que te devo um pedido de desculpas. Lá no fundo, de um jeito ou de outro, você acabou conhecendo a verdadeira Luiza. Mas, por muito tempo, eu a escondi de você com medo de que você não a aceitasse tão bem e levasse o mesmo tanto de tempo que eu demorei pra aceitá-la.

Mas você, Gui, a tratou com tanto amor, com tanto carinho que a fez desejar pertencer a você pra sempre. Porque havia algo na maneira em que você a olhava e sorria pra ela, que a fazia esquecer de todos os outros garotos no mundo. A forma delicada e gentil que você a admirava, contornava seu rosto com as pontas dos dedos e prendia suas mechas de cabelo rebeldes atrás da orelha, faziam-na sentir algo delicado e frágil, uma obra de arte valiosíssima que merecia o maior dos cuidados.

Nunca pensei que isso fosse possível, Gui, mas você me ensinou a me amar. Você me fez enxergar algo em mim que nem eu mesma via. Foi tão assustador me ver pelos seus olhos. Eu me sentia a garota mais bonita, desejada e preciosa do mundo. Era como se nada mais tivesse sua atenção quando eu estava com você.

Eu era só sua e você era só meu.

Acho que é por isso que é tão louco pensar que tudo acabou da forma como acabou. Não vou mentir e dizer que não fiquei magoada. É lógico que eu entendia que você queria viver um sonho e que não podia se prender a ninguém. Mas me descartar como se não tivéssemos sido nada, como se o que tivemos não tivesse passado de algo momentâneo, acabou comigo. Eu me senti um nada, alguém insignificante. E por mais que você dissesse que sentia muito e que estava muito triste com a situação, isso não anulava nada. Quando você se despediu e disse que não queria ter que fazer isso, eu só conseguia pensar "Então fique. É só ficar. Por quê está desistindo assim, tão facilmente de nós?".

Hoje, eu entendo o quanto nosso fim foi necessário. Eu era nova demais pra entender que, às vezes, precisamos abrir mão de certas coisas pra compreender outras. Foi depois dele que eu notei o quanto havia amadurecido, que tinha deixado de ser apenas uma garotinha e que, agora, teria que enfrentar duras realidades: querer não é poder, por exemplo.

Crescer foi a parte mais difícil de tudo isso. Mais do que deixa você ir. Acho que porquê, talvez, uma parte de mim sempre nutriu a esperança de que você voltaria.

Anos se passaram, Gui, e você nunca mais voltou.

Você pode tentar culpar Leonardo pelo fim — como eu fiz por muito tempo. Eu não achava nem um pouco justo ele ter um relacionamento saudável e querer destruir o nosso. — Mas não há ninguém pra culpar. Você tomou uma decisão e eu somente teria que lidar com ela, de mãos atadas por não poder fazer nada a respeito.

Entretanto, não acho justo que você volte assim, Gui, como se tivesse esse direito. Você não pode simplesmente voltar pra casa, depois de todo esse tempo, e agir como se tudo estivesse bem. Porque agora pode até estar, mas houve um dia em que não esteve.

Eu demorei muito tempo pra juntar os cacos que sobraram de mim e do meu coração depois que você se foi. Não quero ter que juntá-los novamente. Não estou disposta a viver toda essa bagunça de novo pra ter o mesmo fim: você partir e me deixar em pedaços mais uma vez.

Eu preciso ser forte. Muito forte. Porque se eu olhar nos seus olhos e ver qualquer vislumbre de esperança e de alguém que ainda me quer, não sei se serei capaz de resistir e, pela segunda vez, vou perder a guerra pro coração por causa da mesma pessoa.

O Que Restou De Nós [REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora